Demônios no Deserto [A Maneira Correta de Pensar] – recontada pelo Ven. Piyatissa

Demônios no Deserto
Demônios no Deserto

Era uma vez dois mercadores que eram amigos. Ambos estavam prontos para viajar para vender suas mercadorias, então, eles tiveram que decidir se viajariam juntos. Eles concordaram que, uma vez que cada um deles tinha 500 carroças, e iam para o mesmo lugar ao longo da mesma estrada, ficaria muito cheio irem ao mesmo tempo.

Um decidiu que seria muito melhor ir antes. Ele pensou: “A estrada não estará esburacada pelas carroças, os novilhos serão capazes de escolher a melhor parte da grama, encontraremos as melhores frutas e legumes para comer, meus homens apreciarão a minha liderança e, no final, eu serei capaz de negociar os melhores preços”.

O outro mercador ponderou cuidadosamente e concluiu que havia vantagens em ir em segundo lugar. Pensou: “Os carros do meu amigo vão nivelar o terreno pelo que não teremos de fazer trabalho de estrada, os seus bois comerão a erva áspera e novos rebentos aparecerão para os meus comerem. Do mesmo modo, eles apanharão os frutos e os vegetais velhos e outros frescos crescerão para nós desfrutarmos. Não terei de perder tempo a regatear quando posso ter o preço definido e fazer o meu lucro”. Assim, concordou em deixar ir primeiro o seu amigo. Este amigo tinha a certeza de tê-lo enganado e de ter levado a melhor – então ele partiu para a viagem em primeiro lugar.

O mercador que foi primeiro teve dificuldades. Eles chegaram a um local selvagem chamado ‘Deserto Sem Água’, sobre o qual o povo local dizia ser assombrado por demônios. Quando a caravana chegou à metade do lugar, encontrou um grande grupo de pessoas vindo da direção oposta. Eles tinham carroças sujas de lama e pingando água. Tinham lótus e lírios de água em suas mãos e nas carroças. O chefe, que apresentava uma atitude de quem sabia de tudo, disse ao mercador: “Por que você está carregando esta carga pesada de água? Em pouco tempo você atingirá um oásis no horizonte com muita água para beber e tâmaras para comer. Seus bois estão cansados de puxar estas carroças pesadas e com água extra – Assim sendo, jogue a água fora e seja amável com seus animais sobrecarregados!”

Mesmo com os moradores locais tendo-os alertado, o mercador não percebeu que aquelas não eram pessoas reais, mas demônios disfarçados. Eles estavam mesmo em perigo de serem devorados por eles. Por confiar que eles eram pessoas solícitas, ele seguiu seu conselho e derramou toda a água no chão.

Ao continuar em seu caminho, eles não encontraram nenhum oásis ou qualquer tipo de água. Alguns compreenderam que tinham sido enganados por seres que poderiam ser demônios, e começaram a reclamar e a acusar o mercador. No fim do dia, todos estavam cansados. Os bois estavam fracos demais, devido à falta de água, para puxar suas pesadas carroças. Todas as pessoas e animais deitaram de modo aleatório e caíram em um sono profundo. E então, durante a noite, os demônios vieram em suas verdadeiras formas assustadoras e devoraram todos os seres indefesos. Quando acabaram, só restaram ossos espalhados – nenhum humano ou animal foi deixado vivo.

Após muitos meses, o segundo mercador começou sua jornada ao longo do mesmo caminho. Quando chegou ao mesmo local, ele reuniu todas as pessoas e as aconselhou: “Aqui é o chamado ‘Deserto Sem Água’, e ouvi que assombrado por demônios e fantasmas. Portanto, devemos ser cuidadosos. Uma vez que pode haver plantas venenosas e água ruim, não bebam qualquer água do local sem me perguntar”. Dessa forma eles entraram no deserto.

desertoDepois de estarem a meio caminho, assim como aconteceu com a primeira caravana, eles foram recebidos por demônios disfarçados encharcados de água. Disseram-lhes que o oásis estava perto e que poderiam jogar fora a água que traziam. Mas o sábio comerciante imediatamente captou sua natureza. Ele sabia que não fazia sentido ter um oásis em um lugar chamado ‘Deserto Sem Água’. E, além disso, essas pessoas tinham  olhos vermelhos esbugalhados e uma atitude agressiva e insistente, por isso ele suspeitou que poderiam ser demônios. Ele lhes falou para deixá-los em paz, dizendo: “Somos homens de negócios que não jogamos fora a água boa antes de saber de onde a próxima está vindo”.

Então, vendo que seu próprio povo tinha dúvida, o mercador disse a eles: “Não acreditem nessas pessoas, que devem ser demônios, até que nós realmente encontremos água. O oásis que elas indicam deve ser somente uma miragem. Alguma vez vocês já ouviram falar de água nesse ‘Deserto Sem Água’? Vocês sentem algum vento de chuva ou qualquer nuvem de tempestade?” Todos disseram: “Não” e ele continuou: “Se acreditarmos nesses desconhecidos e jogarmos fora nossa água, então, mais tarde, podemos não ter nenhuma água para beber ou cozinhar – então ficaremos fracos e com sede e será fácil para os demônios virem e nos roubarem ou até nos devorarem! Portanto, até que realmente encontremos água, não desperdicem nem mesmo uma gota!”

A caravana continuou seu caminho e, aquela noite, chegou ao lugar onde a primeira caravana de pessoas e de novilhos foram mortos e comidos pelos demônios. Eles encontraram as carroças e os ossos humanos e de animais espalhados ao redor. Eles reconheceram que as carroças totalmente carregadas e os ossos pertenciam à caravana anterior. O sábio mercador pediu algumas pessoas para ficarem de guarda no acampamento durante a noite.

Na manhã seguinte todos fizeram o desjejum e alimentaram bem os novilhos. Eles juntaram a seus pertences as coisas mais valiosas deixadas pela primeira caravana. Eles terminaram a jornada de forma bem-sucedida e voltaram para casa em segurança, de forma que eles e suas famílias pudessem usufruir dos ganhos.

Moral da história: A pessoa deve ser sempre sábia o suficiente para não ser ludibriada por conversa enganadora e por falsas aparências.


 

Traduzido pelo Grupo de Tradução do Centro Nalanda
com a permissão dos detentores do copyright

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