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Tradução: Ricardo Sasaki et al.
Edição Ebook:
Edição ebook pela Amazon
Edições Nalanda, 2017 | Valor: R$ 14,99

Com o buddhismo sendo cada vez mais notado em nossa sociedade, por intermédio da mídia escrita e televisiva, torna-se ainda mais importante prover o público com obras esclarecedoras e sérias sobre o assunto, para fazer frente, mesmo que desproporcionalmente, à imensa quantidade de material impreciso e incompleto veiculado por essas mesmas mídias.


Conteúdo:

O Caminho Preparatório por John Ireland
Uma Ajuda Buddhista na Conduta Diária por Edward Greenly
Meditação – Uma Jornada Interior por John A. Storey
Os Primeiros Passos na Meditação por P. M. Rao
Critérios para a seleção de um método correto de meditação por Win Pe
Proteção por meio de Satipaṭṭhāna por Ven. Nyanaponika Thera
Ānāpānasati: Meditação por meio da Respiração por Ven. Ariyadhamma
Os Benefícios da Meditação Andando por Ven. U Silananda
Comentários Sobre a Palavra do Buddha por John Ireland
O Ensinamento Prático do Buddha por John Ireland


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O buddhismo já é conhecido no Ocidente por um tempo considerável. O filósofo alemão Arthur Schopenhauer (1788-1860), já em 1818 comentava que várias obras sobre buddhismo apareciam na Europa: I. J. Schmidt, membro da Academia de San Petersburg passa a escrever trabalhos significativos; o húngaro Csoma de Körös vai para o Tibete, passando um longo tempo em seus mosteiros a fim de aprender a língua e os ensinamentos tibetanos (é devido a Csoma de Körös que Schopenhauer menciona pela primeira vez uma obra tibetana na literatura europeia moderna); antes deles tivemos mesmo alguns jesuítas que visitaram o Tibete desde o século dezessete. Della Penna (1680-1745) no século dezoito já traduzia alguns escritos de Tsong-kha-pa e, por volta de 1732 publicou o primeiro dicionário tibetano, mais tarde traduzido para o inglês por Schroeter em 1826 [1].

Durante os séculos o buddhismo se expandiu, se multiplicou e chegou até o extremo do Ocidente em formas muito diversas. Mas lá atrás, o Buddha definiu seu ensinamento de maneira mais simples, resumindo-o em duas palavras: dhamma-vinaya. Enquanto que ‘vinaya’ pode ser considerado como a dimensão ética e relacional do buddhismo, ‘dhamma’ é composto de três elementos inter-relacionados: a explicação daquela ética, a meditação, e o conhecimento a ser interiorizado e transformado em sabedoria.

Originariamente, a palavra ‘vinaya’ se refere ao código monástico a ser seguido pelos monges e monjas que decidiram abandonar a vida como ‘proprietários de casas’ (gahapati) e seguir uma vida em comunidade pautada sobre estritos princípios buddhistas. Mas podemos aplicar a palavra ‘vinaya’, como que por extensão, àqueles princípios éticos que também devem pautar a vida dos seguidores do Buddha que decidiram por uma vida não monástica. Eles não estão sujeitos às regras tão estritas do código monástico, uma vez que não vivem, em geral, em comunidades restritas, mas, ainda assim, espera-se deles um conduta digna mínima que seja pautada pelos ensinamentos do Buddha.

A conduta moral é fator integrante do caminho sugerido pelo Buddha para todas as pessoas, mas nem todos no Ocidente compreendem isso. Como diz John Ireland, no primeiro capítulo deste livro, “O Caminho Preparatório”, ao se referir à conduta moral dos iniciantes ocidentais no buddhismo em relação à meditação e ao conhecimento teórico:

Um exemplo disso é a falta de atenção às regras de conduta moral (sīla) administradas pelo Buddha e o não cultivo das virtudes sociais da generosidade, paciência, bondade, colaboração com os outros e similares. Entretanto, essas coisas são essenciais, pois evitam que tenhamos motivos puramente egoístas, constituindo as fundações para o progresso efetivo em direção ao objetivo final de nossa carreira espiritual”.

A disciplina moral, no entanto, é apenas um dos elementos no início do caminho, à qual devem ser somados também o amigo espiritual, as conversas centradas em torno da prática e da doutrina, e o esforço pessoal bem dirigido. Edward Greenly nos dará “Uma Ajuda Buddhista na Conduta Diária”, introduzindo o tema das ‘três características universais’, das ‘três raízes do mal’ e da importância de, em cada momento, fazermos o esforço para sair da ‘terra dos sonhos’. O ‘amigo espiritual’ é um termo comumente utilizado no Buddhismo Theravāda para designar o professor, aquele guia que nos ajuda na descoberta e no trilhar de nosso caminho pessoal.

Quanto à meditação, sem dúvida o elemento mais motivador para o ocidental em sua aproximação do buddhismo, teremos John A. Storey como companhia inicial (”Meditação – Uma Jornada Interior”), o qual nos levará através das primeiras lições de meditação. Será essa uma jornada interior mostrando a atitude mental que devemos ter e alguns experimentos que podemos realizar.

Seguiremos, com P. M. Rao, nos “Primeiros Passos na Meditação”, que nos ajudarão a compreender melhor não somente o exercício da amorosidade (mettā, na antiga língua pāli), mas a categoria geral de exercícios meditativos conhecida como Brahmavihāras. Como Rao diz:

Não muitos de nós, entretanto, pode ter um Kammaṭṭhānācariya (mestre de meditação) que nos oriente e, assim, tomamos uma forma de meditação que pensamos poder praticar seguramente sem um guia, a saber, os Brahmavihāras (as Moradas Divinas ou Estados Sublimes). Vamos para um lugar solitário, sentamo-nos numa postura confortável e procedemos irradiando, nas quatro direções, pensamentos de boa vontade, compaixão, alegria comunal e equanimidade tal como descrito nos Suttas”.

Depois de nos exercitar nesses exercícios e refletir sobre os ensinamentos até agora, talvez tenhamos a curiosidade de seguir um pouco mais adiante. Afinal de contas, meditar é conhecer a própria mente, e isso pode ser uma jornada fascinante. Ao mesmo tempo em que todas as tradições buddhistas indicam a importância do professor e do ambiente apropriado de ensino que ele organiza ao seu redor, uma atenção especial deveria ser dispensada ao próprio processo de aprendizado. Chamo isto de ‘aprender a aprender’.

Acostumados a sempre receber as coisas prontas, (quanto mais pronto e rápido para consumo, melhor), por vezes confiamos excessivamente no professor, na escola, ou mesmo no livro, para nos prover de imediato aquilo que almejamos. O professor passa a ser visto como aquele que pode apontar a ‘natureza da própria mente’ do aluno, a escola (templo ou mosteiro) como o ambiente único de aprendizado correto, e os livros como aqueles que nos darão todas as respostas que precisamos conhecer. Ao mesmo tempo, negligenciamos nosso próprio papel neste tão valoroso processo que é o aprendizado sobre nós mesmos. O que é aquilo que trazemos para esta relação educacional? Estamos atentos ao nosso dever e somos ativos no processo, ou nos comportamos no caminho como apressados consumidores de comida congelada (com seus microondas serviçais prontos para nos servir) sem termos trabalho algum? É possível aprender muito observando a nós mesmos e como reagimos aos desafios que a vida nos oferece. Todas as coisas se tornam nossos professores então, e mesmo nossos professores formais se tornam melhores professores, pelo simples fato de que passamos a utilizar a inteligência e a reflexão sábia como formas de nos relacionar com tudo ao nosso redor.

Aprender a aprender, entretanto, não é algo tão fácil. Aprender o quê? Olhar para onde? O que procurar? O professor adequado, a escola e os livros, aparecem então no seu melhor papel: como guias, e não como depositários de respostas. Por onde começar a estudar, qual o esquema geral do caminho, quais as prioridades que devem ser atendidas em primeiro lugar? Todas essas são questões que levam tempo, dedicação e experiência para serem melhor entendidas. À medida que aprendemos a observar e a saber o quê buscar, também nosso horizonte educacional se expande. Professores e escolas passam a ser encontrados em mais lugares, praticamente tudo passa a ser um professor em potencial, pois começamos a saber o que ver. A prontidão da mente aberta e atenta transforma todos os seres em mestres.

Fracassar em perceber essa lição pode nos levar na direção oposta daquela indicada pelo Buddha, apesar de pensarmos que estamos praticando bem seu ensinamento. Submergimos, então, num grupo de adoradores deste ou daquele guru, com suas iniciações secretas e especiais, um novo sistema de castas e clãs (mais conhecidos como ‘panelas’), de pessoas ‘especiais’ porque fizeram este ou aquele retiro, iniciação ou prática, objetos de inveja e admiração dos que ‘apenas estão entrando na senda’. Aqui começa o culto e termina o caminho; inicia-se a arrogância e termina-se o trabalho de extinção das aflições e impurezas mentais (kilesas).

Assim, refletiremos juntos com Win Pe a respeito dos “Critérios para a Seleção de um Método Correto de Meditação”, num artigo fundamental para aqueles seriamente interessados em compreender e seguir uma disciplina séria dessa prática. Ele conclui que um ‘método correto de meditação’ deve ter onze características, entre elas ser auto-energizante, ser capaz de ser praticado junto com outras obrigações e levar à verdadeira libertação.

Win Pe mencionará brevemente o método Satipaṭṭhāna, aquele que foi ensinado diretamente pelo Buddha, e ficará a cargo do grande monge alemão, Nyanaponika Thera, explicar a “Proteção por meio de Satipaṭṭhāna” que protege a nós mesmos e aos que nos rodeiam. Isso nos permitirá compreender melhor a perspectiva buddhista sobre a ética individual e social, e como a meditação se relaciona com isso.

Há uma famosa passagem nas escrituras que diz que tudo pode ser visto nesta “estrutura corporal com sua mente e percepção”. Verdadeiramente, todo o mundo que experienciamos é o mundo processado por este corpo que sente, e a meditação é o meio por excelência para tal vivência. No Buddhismo Theravāda, o processo meditativo se divide em dois, comumente chamados de tranquilização (samatha) e visão clara (vipassanā). Na meditação da tranquilização, todos os estímulos sensoriais são reduzidos ao máximo, enquanto a mente se concentra num determinado objeto sensorial ou mental que deve ter algumas características específicas. A continuidade da concentração e seu aprofundamento levam à entrada nos estados de absorção (jhānas). Vipassanā, enquanto isso, refere-se ao ver claramente a realidade tal como ela é, por trás dos véus e condicionamentos que obscurecem nossa visão.

Samatha e Vipassanā são praticados no Buddhismo Theravāda inseridos no contexto dado pelo sistema Satipaṭṭhāna. Uma de suas formas de prática é chamada de Ānāpānasati, um método detalhado e profundo de meditação, que foi aquele praticado pelo próprio Buddha na noite de sua Iluminação. O Venerável Ariyadhamma ficará responsável por nos levar nos primeiros passos deste tema, indicando como é possível chegar até aos últimos estágios do caminho por meio dessa prática. Seu artigo é denso, merecedor de ser desdobrado grandemente, mas o incorporamos neste livro para fazer ver ao leitor um pouco dos possíveis alcances dessa prática considerada por muitos como algo muito simples.

Enquanto isso o Venerável U Silananda ficará encarregado de nos introduzir aos “Os Benefícios da Meditação Andando” que é uma prática complementar da meditação sentada. Nas instruções ele relaciona a prática com os quatro elementos aos vários ensinamentos do Buddha, como as três características da existência e nāma-rūpa.

Terminaremos esta jornada preliminar na prática buddhista com dois longos artigos de John Ireland. Em “Comentários Sobre a Palavra do Buddha” ele nos ensinará um pouco como estudar o material contido no Cânone Pāli, os chamados suttas, onde foi coletado os ensinamentos do Buddha. Já em “O Ensinamento Prático do Buddha” ele nos mostrará como o aspecto prático pode ser deduzido do estudo dos suttas, utilizando um exemplo do Udāna que relata o encontro do Buddha com o leproso Suppabuddha.

[1] Uma extensa abordagem da transmissão do buddhismo no Ocidente pode ser lida em Sasaki., R. “A History of Buddhist Translations into Western Languages (Up to the beginning of the 19th century)”. In Kulmar, Tarmo (Ed.) Humanistic Base Texts and the Mahāyāna Sūtras. Tartu: University of Tartu (Centre of Oriental Studies), 2008, p.269. Traduzido para o português como “Uma História da Tradução dos Textos Buddhistas nas Línguas Ocidentais”, em Redyson, D. Budismo e filosofia. São Paulo: Fonte Editorial, 2013, pg.25 e também em  Caminhando com o Buddha Através das Escrituras. Belo Horizonte: Edições Nalanda, 1985


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1 COMMENT

  1. Uma pergunta: Um budista vegetariano pode usar o Kalama Sutta para justificar a sua opção por não comer carne?

    Obrigado. 🙂

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