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Havia e ainda há na Índia uma crença entre muitos ascetas de que a purificação e a libertação final podem ser alcançados por rigorosa autoflagelação, e o asceta Gotama decidiu testar a verdade disso. Então lá em Uruvela ele começou uma luta determinada para subjugar seu corpo na esperança de que sua mente, liberta dos grilhões do corpo, pudesse voar às alturas da libertação. Bastante zeloso foi nessas práticas. Ele vivia de folhas e raízes, num racionamento cada vez mais reduzido de comida; vestia trapos de panos empoeirados; dormia entre cadáveres ou em camas de espinhos. O pauperismo completo de nutrientes o deixou fisicamente lastimável. Diz o Mestre: “Rigoroso fui em minha disciplina ascética. Rigoroso além de todos os outros. Como caniços inúteis e murchos tornaram-se meus membros…” Em palavras como essas, nos anos posteriores, tendo alcançado a completa iluminação, o Buddha deu a seus discípulos uma impressionante descrição de suas penitências prévias” [1].

Lutando assim por seis longos anos, ele chegou à porta da morte, mas não se viu mais próximo de seu objetivo. A completa futilidade da autoflagelação tornou-se nitidamente clara para ele por sua própria experiência. Percebeu que o caminho para a fruição de seu ardente anseio residia na direção de uma busca interior para sua própria mente. Sem se desencorajar, sua mente ainda ativa buscou novos caminhos para a meta aspirada. Sentiu, contudo, que com um corpo tão profundamente enfraquecido como o seu, não poderia seguir essa trilha com qualquer chance de sucesso. Assim ele abandonou a autotortura e o jejum extremo, e voltou a ingerir comida normal.

Seu corpo emaciado recuperou sua saúde prévia e seu vigor exaurido logo retornou. Então seus cinco companheiros o deixaram, desapontados, pois achavam que ele havia abandonado o esforço e voltado a uma vida de abundância. Ainda assim, com firme determinação e completa fé em sua pureza e força, sem o auxílio de qualquer professor, sem companhia de ninguém, o Bodhisatta resolveu fazer seu derradeiro esforço na completa solidão.

Na antevéspera do dia de sua iluminação, enquanto o Bodhisatta meditava sentado sob uma árvore Bodhi, Sujata, a filha de um rico senhor, sem saber se o asceta era divino ou humano, ofereceu-lhe arroz com leite dizendo: “Senhor, que suas aspirações sejam coroadas de sucesso!” Essa foi sua última refeição antes de sua iluminação.

[1] Para um relato detalhado ver MN 36 tradução de I. B. Homer em Middle Length Sayings, vol. I (PTS). Ver também R. Abeysekara, “The Master’s Quest for Light” (Kandy, BPS).

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1 COMMENT

  1. Adorei a mensagem acima…
    Gostaria de sugerir algo como autoflagelação inconsciente como depressão por motivos materiais = insucesso no amor, problemas familiares, etc…
    Continuarei lendo…Claro!

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