.

~ por Ven. Bhikkhu Bodhi & Ven. Jen-Chun ~

Conteúdo

Nossa Mente é Nossa Melhor Amiga

~ um excerto de uma palestra do Bhikkhu Bodhi (August 2, 2002)

Em nossas vidas distinguimos frequentemente as pessoas como os nossos inimigos e amigos. Nós consideramos como inimigos as pessoas que desejam nos prejudicar, fazer algo ruim para nós ou nossos familiares. E consideramos como amigos as pessoas que desejam nos beneficiar, prover para o nosso bem-estar e o bem-estar dos que estão perto de nós. Agora vamos considerar que tipo de dano pode nos fazer um inimigo.

Um inimigo pode nos difamar espalhando rumores falsos sobre nós, mas se sabemos que não temos culpa em relação ao que ele nos acusa, não precisamos nos preocupar. Um inimigo pode até nos machucar fisicamente; no pior cenário, ele pode nos matar. Mas mesmo que ele faça isso, não precisamos ficar excessivamente pessimistas. Porque se tivermos uma mente boa, forte, bem-desenvolvida e virtuosa, mesmo que o corpo morra ela continuará em direção a algum estado existencial feliz no futuro. Mas se nossa mente afasta-se do caminho do Dhamma, se nos rendemos aos impulsos do egoísmo, da ganância e do ódio, então sofreremos muito mais numa vida depois da outra do que sofreríamos quando o inimigo tirou nossa vida. Uma vez que o inimigo não consegue causar danos a nossa mente, podemos considerar que estamos seguros.

Nós consideramos como amigos ou como benfeitores, aqueles que nos beneficiam. De todas aquelas pessoas que nos beneficiam em nossas vidas, as mais importantes, sob o ponto de vista mundano, são os nossos pais. Além disso, mesmo se os nossos pais cuidarem de todas as nossas necessidades materiais e sociais, eles não estariam nos beneficiando tanto, quanto se nos dessem instrução moral, se nos dessem uma orientação no caminho certo da vida. Quando eles nos dão sábia instrução na própria conduta de nossa vida, se aceitamos ou não depende de nós mesmos, e isso significa que depende das nossas próprias mentes. É por isso que o Buddha fez da mente o ponto focal de todo o seu ensinamento. A mente é a força central em nossas vidas, e toda a qualidade de nossas vidas é apenas um reflexo da qualidade das nossas próprias mentes.

O Buddha ensina o modo para desenvolver a mente, para elevar a mente. O seu ensinamento não é dirigido para aqueles que são já sábios iluminados, mas para as pessoas comuns vivendo vidas muito comuns. O que ele ensina é como transformar a mente impura, a mente perturbada por aflições, desejos, tristeza, dor e sofrimento, em uma mente iluminada, uma mente liberta, uma mente que é radiante com sabedoria, boa vontade e compaixão, em uma mente que é pacífica e satisfeita sob quaisquer circunstâncias. Isso é ilustrado pela famosa analogia da flor de lótus. O lótus começa a crescer no fundo de um lago lamacento, mas ergue-se da água lamacenta até que emerge do lago, abre suas pétalas e revela a sua beleza sublime.

Ao praticar o Dhamma, começamos com a mente comum, que é como uma semente de lótus na lama, a mente suja por desejos e ilusões. Ao seguir passo a passo as instruções do Buddha nós elevamos a mente acima da lama do mundo, abrimos suas pétalas de qualidades virtuosas, até que ela se abra completamente e mostre sua radiante beleza.

Fazendo Bom Uso das Três Portas da Ação

~ um excerto de uma palestra do Mestre Jen-Chun sobre “os conceitos básicos que um buddhista deve saber”.

Corpo, fala e mente são comumente conhecidos como as três portas da ação. Como fazemos uso de nosso corpo, fala e mente para que então funcionem como o verdadeiro corpo, fala e mente? O intuito do meu verso é responder à essa questão.

Deixem que o seu corpo mostre integridade. Agora que são um estudante e um praticante do Dhamma de Buddha, o princípio orientador mais importante para corrigir as ações do corpo é o de agir correta e honradamente; não mostrar ser uma coisa na presença dos outros e depois deixar-se cair na lassidão quando se está sozinho. Desta forma, as suas ações corporais não terão integridade. E o que é a verdadeira integridade? Integridade significa comportar-se da mesma maneira quer estejamos a ser observados pelos outros ou não. Significa que a sua ação emana dos seus padrões interiores e não do desejo de ganhar a estima dos outros.

Sejam claros no seu discurso. As pessoas comuns falam lógica e coerentemente, mas a lógica e a coerência não bastam. A marca do verdadeiro discurso é falar palavras com sentido, palavras inspiradoras. Não é fácil para as pessoas comuns falar claramente. Por quê? Porque a sua sabedoria é limitada. Quando têm de falar de assuntos fundamentais, podem não saber explicá-los com clareza, não inspirando assim os outros.

Qual é o valor da linguagem? Se vocês tiverem verdadeira sabedoria, uma profunda e correta compreensão do Dharma, suas palavras serão muito claras e possuidoras de um excepcional poder de mover as pessoas. No momento correto uma palavra sua pode resgatar alguém à beira da morte e trazê-la de volta para a vida. Assim, o conteúdo da fala é claro e poderoso. Suas falas são como uma luz brilhante. Normalmente, as mentes das pessoas podem ser confusas e obscuras. Se vocês usarem a fala acuradamente para desembaçar e clarear a mente das pessoas, esse é o valor da fala.

Deixe sua intenção ser gentil e firme: Ninguém pode ver as intenções de outra pessoa, pois elas são particulares e secretas. Mas vocês podem saber de suas próprias intenções. Como cultivam, praticam e mantêm a sua intenção? A diretriz é “ser gentil e inabalável”. O que é bondade? Ser gentil é ser puro, altruísta, decente, e compassivo. Isto significa que em todos os assuntos vocês sempre consideram os outros em primeiro lugar. Às vezes vocês estão prontos a passar por sofrimento a fim de permitirem que outros vivam melhor do que vocês mesmo. Este é o significado da bondade. Se tiverem esse tipo de intenção, sua mente terá um profundo senso de moralidade. No devido tempo vocês naturalmente trarão o seu senso de obrigação moral a bom termo e cumprirão sua missão como um discípulo do Buddha.

Ser “inabalável” significa que sua mente permanece consistentemente sadia. Se sua mente não tiver um poder estabilizador especial, então sob circunstâncias difíceis vocês ficarão inquietos. Vocês serão sacudidos por circunstâncias e não poderão manter o equilíbrio interno. Se realmente atingiram algum nível de sucesso em praticar o Buddha Dharma, sua mente ficará naturalmente tranquila. Ao lidar com pessoas difíceis ou quando se depararem com condições obstrutivas, seu comportamento será puro, honesto, simples e bondoso. Não serão sarcásticos e cruéis, continuarão em seu intento sem qualquer preocupação com relação ao ganho e à perda. Tais preocupações jamais lhes perturbarão.

Como se tornar uma Pessoa Poderosa

Não é por meio de arsenais cheios de armas letais

Nem por batalhões de tropas que se movem rapidamente

Que podemos vencer as forças da escuridão

E abrir os portais da liberdade para o mundo

A fonte do verdadeiro poder não jaz na dominação

Pela força bruta das armadas ou no brilho fugaz do ouro.

A fonte jaz escondida profundamente dentro de nós,

Mas a fim de encontrá-la devemos usamos as ferramentas apropriadas.

A primeira chave para o sucesso é o poder da fé,

Confie em uma sabedoria suprema que nos aponta para o bem.

A fé assenta a mente e nos inspira com coragem,

Incita-nos às ações de alegre autotranscendência.

Mas os agentes do dano espreitam nas sombras escuras da mente.

Prontos para lançar suas reder quando nossa vigilância se enfraquece,

Para sustentar seus ataques e manter nosso autorrespeito

O poder da vergonha nos mantém firmes no caminho.

Contemplem profundamente nossa inter-relação com todos os outros,

Considerem o calor da estima aos olhos dos outros.

Reflitam nos frutos amargos das ações impensadas,

Deixem que o poder do temor moral nos mantenha longe do abismo.

A via para a libertação não é para os fracos,

Nem para aqueles dados à autopiedade e ao desespero.

É somente pelo poder revigorador da energia

Que podemos nos tornar heróis, verdadeiros mestres de nossas mentes.

Viajando pela noite, envolvidos na densa neblina,

Vagamos sem sentido no labirinto de nascimento e morte.

Agora, usem o poder da sabedoria como a luz

Para guiar nossos passos para a margem da liberdade final.

Equipados com estes cinco poderes ensinados pelo grande Sábio

Levantamo-nos como conquistadores mais fortes que quaisquer inimigos.

Mestres de nós mesmos, exemplos da nação,

Iluminamos o mundo como o sul radiante do meio-dia.

 

por Ven. Bhikkhu Bodhi ~ o poema foi o tema de um ensinamento dado.

 

Tornando-se um Exemplar Luminoso do Dharma

~ um excerto de uma palestra do Ven. Jen-Chun aos monges da Ganlun Buddhist Academy, Jiu-Hua Shan, a Montanha Sagrada do Bodhisattva Kṣitigarbha, China –26 de outubro de 2002

O Buddhismo precisa da Sangha para propagar o Dharma. Assim é que o Dharma pode ser transmitido ao mundo. Enquanto praticantes monásticos vocês têm a responsabilidade de treinarem a si mesmos a fim e se tornarem exemplos valorosos do Dharma.

Para cumprir tal responsabilidade, no início de nosso treinamento devemos manter duas atitudes. A primeira é um senso de dever e respeito ético; a outra é a grande compaixão.

O senso de vergonha e temor moral neutralizam as duas contaminações mais fundamentais: a ganância e a ignorância. O senso de vergonha neutraliza a ganância ou o desejo; o temor moral combate a ignorância. Essas duas contaminações são as causas que levam os seres sencientes a transmigrarem no saṁsāra, o ciclo de nascimento e morte. Se tiverem um grande senso de vergonha, serão capazes de extirpar a ganância ou desejo. Se tiverem um grande senso de temor moral, serão capazes de extirpar a ignorância.

Como é que o pudor e o receio moral neutralizam os dois obstáculos raízes? Quando aprendemos o Dharma encontramos o princípio correto do não-eu. O apego ao eu sustenta todos os obstáculos. Quando damos lugar à noção do eu, ao mesmo tempo damos lugar ao apego, ignorância, vaidade, arrogância e todos os outros obstáculos relacionados. Através do despertar de um grande pudor ou vergonha e temor moral, podemos erradicar a raiz subjacente de todos os obstáculos: a ideia de um eu. Conseguir isto, contudo, não é fácil. Precisamos de forte determinação e perspicácia. Quando estas duas se juntam, a combinação da determinação e da perspicácia capacita-nos a subjugar o eu e os obstáculos que surgem dele.

A maioria das pessoas vê o seu eu como a sua fortaleza, a “fortaleza do ego”. Por exemplo, pensam: “eu posso viver na minha própria casa” ou em “meu próprio mosteiro”. Isto é a fortaleza do “eu próprio” para a qual posso sempre me virar em busca de proteção. Este modo de pensar é um erro. Para praticar Buddhismo de uma forma correta precisamos acabar com a ideia da fortaleza do eu. Assim, seremos capazes de ver tudo claramente com o olho do Dharma. Então, tanto um monge como uma pessoa normal precisa de grande determinação e astúcia para destruir a fortaleza do eu. Tornar este o nosso objetivo é dar o primeiro passo na verdadeira prática do Dharma. Mas se não pretendermos destruir a fortaleza do eu, por muito Dharma que aprendamos, estaremos apenas a “arranhar” a superfície.

Tendo uma grande vergonha, subjugue o ‘eu’ com astúcia e extrema determinação. Instantaneamente controle a mente presunçosa, instantaneamente ilumine o Dharma. Use de grande compaixão para elevar as pessoas, aja com coragem extrema. Por meio de uma aspiração profunda e de um grande compromisso, manifeste profundamente o Buddha.

Então, quais são as medidas que deverão ser utilizadas para destruir a fortaleza do eu? A primeira é subjugar de imediato a mente de presunção. A mente dos seres humanos tem tendência para ser muito presunçosa. Alguns laicos, com apenas um superficial conhecimento mundano, pensam que são grandes sábios. Alguns monges que adquiriram um pequeno conhecimento do Dharma tornam-se arrogantes e pensam que são verdadeiros mestres do Dharma. Deste modo, com elevadas ideias a respeito deles próprios, tornam-se obcecados pela presunção. Mas aquele que tem grandes ideias a respeito de si mesmo não consegue elevar-se. Quando se tem uma grande opinião de si próprio, acaba-se por cair um dia e não mais conseguir erguer-se. Um verdadeiro praticante deverá esmagar imediatamente a mente de presunção assim que esta se manifeste. Se conseguirmos pôr de lado o eu e entrar em harmonia com o Dharma, então em toda a parte e a qualquer momento, mesmo em vidas futuras, seremos capazes de exercer uma influência grande e positiva.

Agora, como pessoas comuns, não podemos esperar atingir o despertar instantâneo. Atualmente, muitas pessoas falam sobre “iluminação instantânea e realização do estado de Buddha” ou “iluminação instantânea e visão da verdadeira natureza”. Não é tão fácil assim. A “prática instantânea” de que eu falo significa os meios para instantaneamente subjugar o conceito de eu em cada pensamento que surge na mente. “Instantaneamente” significa “imediatamente”, sem dar ao conceito de eu qualquer margem para se desenvolver e prosperar.

Qual é a segunda medida necessária para destruir o “eu”? É “iluminar instantaneamente o Dharma”, ou seja, brilhar através dos dharmas (fenômenos) e fazer brilhar a luz do Dharma. Na frase “brilhar através dos dharmas”, a palavra “dharma” refere-se aos cinco agregados: forma, sensação, percepção, formações volitivas e consciência. Esses são os dharmas mundanos ou fenômenos do nascimento e da morte. Nos sūtras é dito: “Quando dharmas surgem, o sofrimento surge. Quando dharmas cessam, o sofrimento cessa”. Isto é, quando os fenômenos dos cinco agregados surgem, todo o sofrimento surge. Da mesma forma, quando os fenômenos dos cinco agregados cessam, todo o sofrimento cessa. Esses cinco agregados devem ser entendidos com a sabedoria do Dharma, como impermanentes e desprovidos de existência intrínseca.  Isso é iluminar o dharmas mundanos, os fenômenos do nascimento e da morte.

A frase “iluminar o Dharma” significa também fazer brilhar a luz do Dharma. Isso diz respeito ao Dharma transcendental: o Dharma supremo, o Dharma além do eu, o Dharma do Nirvāṇa.

Assim, as duas medidas usadas para destruir a fortaleza do eu são: subjugar instantaneamente a mente conceitual e iluminar o Dharma correto através do entendimento da impermanência, da dimensão do não-eu e do Nirvāṇa.

Quando, com um grande senso de vergonha e temor moral, alguém restringe o eu, uma grande compaixão interior pode surgir. O que é uma grande compaixão? É o desejo de erguer pessoas em sofrimento e engano. A maioria das pessoas está confusa e enganada. Nós devemos ajudá-las a se erguer de sua confusão e sofrimento. Entretanto, não é fácil exercitar tal habilidade. Para se preparar para verdadeira e efetivamente erguer os outros, na vida diária, devemos persistentemente aprender e praticar a sabedoria e compaixão dos Buddhas e bodhisattvas.  No início, devemos aprofundar e fortalecer nosso objetivo. Devemos aprender através do bodhisattva Kṣitigarbha, aquele que fez a grande e ampla promessa: “Eu não atingirei o estado de Buddha até que os infernos estejam vazios”. Através de tal resolução, nós estaremos fazendo um grande compromisso, um compromisso que funcionará como um chicote para fortalecer e aguçar nosso esforço.

À medida que se persiste em tais práticas durante um longo tempo, chegar-se-á, afinal, a ver, de uma maneira profunda, o que faz do Buddha o Iluminado. O Buddha teve a sabedoria de erradicar o eu e teve grande compaixão para se dedicar totalmente ao bem-estar de todos. Por meio de fortes aspirações e grande empenho, a pessoa será capaz de manifestar profundamente o Buddha em todas as suas ações e pensamentos.

Trazendo o Dhamma de Volta para Casa

~ uma versão condensada da palestra de encerramento de Bhikkhu Bodhi no retiro de Dharma do Monastério Bodhi

O retiro está chegando ao final e logo teremos de ir para casa. Mas quando voltarem para casa, não pensem que vocês deixaram a prática do Dhamma para trás e não serão capazes de retomá-la até o ano que vem. Não dividam a sua vida em dois compartimentos: prática do Dhamma, algo que vocês fazem no monastério; e vida mundana, aquilo que vocês encaram quando abrem a porta da frente de suas casas. Vocês têm de reunir sua prática do Dhamma e sua vida. É quando sua vida se torna prática encarnada e sua prática se exprime em sua vida diária que vocês verdadeiramente entraram no caminho da prática do Dhamma em sentido próprio.

Em termos filosóficos, o Buddhismo faz distinção entre Nibbāna (skr. Nirvāṇa) e Saṁsāra. Nós pensamos o Nibbāna como o reino transcendente da liberdade e da paz definitiva, e o Saṁsāra como o reino da finitude e do sofrimento, como a escravidão da vida mundana. Com base neste entendimento, consideramos um retiro de Dhamma como uma grande oportunidade de deixar para trás nossos afazeres mundanos e dar alguns passos em direção ao Nibbāna, alguns passos mais perto da real pureza e sabedoria. Mas, se vocês entenderem essa distinção em termos absolutos, então, quando deixarem o mosteiro e voltarem para casa, poderão se sentir miseráveis por não querer enfrentar os problemas, pressões e obrigações da vida familiar.

Mas há outro modo de olhar a situação. No Buddhismo usamos frequentemente a imagem de uma flor de lótus crescendo na lama para ilustrar o processo de crescimento espiritual. A flor de lótus é o símbolo da beleza perfeita e pureza e, no entanto, ela cresce na lama no fundo do lago. Se não houvesse lama, a flor de lótus não poderia crescer; a flor de lótus não pode crescer num jardim bem preparado em terras secas. Somente na lama, na terra molhada do lago, é que a flor de lótus pode fazer crescer as suas raízes na lama e crescer atravessando a água do lago, centímetro a centímetro, até que atinja a superfície do lago. Então a flor se abre mostrando a sua beleza e fragrância para todos.

Essa imagem da flor de lótus crescendo na lama, subindo cada vez mais alto no lago até alcançar a superfície, simboliza a vida de um buddhista vivendo no mundo. A flor de lótus cresce da semente de lótus. A semente para o seu crescimento espiritual é a fé forte na Tríplice Jóia: o Buddha, o Dharma e a Sangha. Como uma semente, a fé tem o potencial de se transformar em uma linda flor de lótus, a flor da mente iluminada. E o que alimenta a semente é a sua vida dentro do mundo, suas experiências cotidianas. Com a orientação do Dhamma, você pode aprender as habilidades necessárias para integrar o seu dia a dia com o caminho da iluminação e da libertação. Ao fazer isso você vai dar verdadeiro sentido para a sua vida. Significados entram em nossa vida quando buscamos um objetivo que é realmente bom. O Buddha fala em dois tipos de bem – o próprio bem da pessoa e o bem dos outros – e ele diz que nós aproveitamos a mais significativa vida quando nós dedicamos nossos esforços para realizar estas duas partes do bem. Então, em sua vida diária, você deve prestar atenção em ambos para atingir o seu próprio bem e para promover o bem para os outros.

O Buddha fala de dois tipos de bem – o bem próprio e o bem de outros – e ele diz que nós aproveitamos a mais significativa vida quando dedicamos nossos esforços para preencher este duplo bem. Então, em nossa vida diária, vocês devem dar atenção para ambos, alcançar seu próprio bem e promover o bem de outros.

 

Vocês promovem o seu próprio bem, comprometendo-se com a prática sincera do Dhamma. Há três importantes esferas na prática buddhista: a devoção, o estudo e a meditação. Devoção é o cultivo do lado emocional da nossa vida. Conduz as emoções por canais espiritualmente benéficos, inspirando a vontade, despertando as nossas aspirações, estabelecendo as nossas determinações. Como a gasolina está para os carros, a devoção fornece a energia que faz do estudo e da meditação canais para o progresso do Dhamma. O estudo é necessário para aguçar o nosso entendimento dos ensinamentos de Buddha, desenvolver a sabedoria; mas o estudo sem a prática não conduzirá à realização. Assim, para transformarmos o que aprendemos, através do estudo, numa verdadeira realização, temos de praticar meditação, bhāvanā. A meditação purifica a mente e permite-nos ver com um insight direto a verdade do ensinamento, a verdade de todos os fenômenos.

Enquanto você vive a sua vida familiar, respondendo às suas responsabilidades familiares, você deve dedicar certos períodos de tempo durante o dia à sua prática do Dhamma: para as devoções, o estudo sério dos ensinamentos do Buddha e o cultivo mental. Você deve também manter um contato regular com um monastério. Tudo isto soa a conversa de vendedor, mas não é assim. É para o seu próprio bem ter contatos regulares com pessoas sábias e conselheiros compassivos, que podem guiá-lo, explicar os aspectos difíceis e ajudá-lo a cultivar o caminho.

Até agora eu falei sobre realizar seu próprio bem, mas vocês também devem dar atenção ao bem dos demais. Uma maneira de fazer isso é a prática da generosidade. Aqui na América nós vivemos em uma sociedade muito abastada. Devemos considerar os bilhões de pessoas neste mundo vivendo à beira da inanição, à beira da pobreza, à beira da miséria e desespero. Devemos ajudar a aliviar sua pobreza em qualquer medida que possamos e contribuir de forma concreta para resgatá-los da miséria.

Vocês também podem contribuir para o bem dos outros ajudando o próprio monastério. Os monges querem usar seu tempo para estudar o Dhamma numa maior profundidade de modo que possam partilhar o Dhamma com outros, podem partilhá-lo com vocês, e assim vocês também colherão os frutos do caminho. Mas para ter tempo e oportunidade para estudar o Dhamma em profundidade, realmente precisamos de ajuda – ajuda física e apoio moral.

Eu acho que o Monastério Bodhi tem o potencial de fazer uma contribuição poderosa e efetiva para a disseminação do Buddhismo na América do Norte. Mas, para que este monastério tenha sucesso, nós vamos precisar de uma cooperação estreita e harmoniosa entre os monásticos e a comunidade leiga afiliada. Então, vamos todos juntar as mãos para fazer do Monastério Bodhi um verdadeiro local Bodhi (de Despertar) para estudar, praticar e compreender os ensinamentos do Buddha.