por Ann Lovelock

Quando se começa a meditar, normalmente se ouve: “Sente com as costas eretas”, mas isto não é fácil de se conseguir, a não ser que se tenha uma percepção intuitiva do próprio corpo. Pior ainda é ouvir que a posição do lótus é a posição tradicional. Isto envolve sentar-se com as pernas cruzadas sobre o chão, com cada pé sobre a coxa oposta. Para a maioria dos ocidentais isto é pura tortura, apesar de ser dito que as pernas dobradas dão uma base firme e posicionam a pélvis corretamente, de tal modo que a coluna vertebral é automaticamente estendida.

Sentado de pernas cruzadas

Base firme, pélvis corretamente posicionada e coluna esticada são o essencial. Também precisamos estar relaxados de modo que pouco esforço seja necessário para manter nossa postura preferida. Um meio-lótus (isto é, com apenas um pé sobre a coxa oposta) não é recomendado, já que é desbalanceado.

A posição mais fácil é sentar-se com ambos os pés apoiados sobre o chão, com ambos calcanhares em linha com o centro do corpo. Para assegurar que a pélvis esteja corretamente inclinada, sente sobre almofadas suficientes de modo que você não sinta desconforto na base de suas costas. Se você está tenso em um dos quadris e ambos os joelhos não repousam sobre o chão, coloque uma almofada debaixo do joelho levantado de modo que tenha uma base para repousar, ou então adote uma posição ajoelhada.

De joelhos

Esta posição é mais fácil num banquinho de meditação. Ele deve ser de aproximadamente quinze centímetros (seis polegadas) de altura, e o assento deve inclinar-se para frente. Não há necessidade de se fazer qualquer ajuste, já que a pélvis é automaticamente inclinada para frente e não há pressão nos músculos das panturrilhas. Se for muito doloroso aos joelhos, repouse o conjunto dos joelhos e canelas em um cobertor dobrado. Se não houver banquinho de meditação disponível, ajoelhe-se no chão com os joelhos juntos e algumas almofadas entre as pernas. Experimente até que você obtenha a altura correta. Muito alto e você terá muita pressão sobre os joelhos; muito baixo e sua pélvis não estará inclinada e haverá pressão sobre as panturrilhas. Para soltar, coloque seus polegares nas dobras dos joelhos e deslize suas mãos na direção dos pés, puxando os músculos das panturrilhas para fora.

Sentado em uma cadeira

É possível meditar sentado em uma cadeira. Nesse caso, você precisará assegurar-se de que os pés estejam totalmente apoiados no solo, que suas coxas estejam paralelas ao solo e que suas canelas estejam em ângulos retos com as coxas. Se a cadeira for muito alta para você, coloque almofadas debaixo dos pés; se for muito baixa, sente-se sobre uma almofada. Não apóie suas costas no encosto da cadeira.

Coluna estendida

Seja qual for a posição que você tenha adotado, assegure-se de que você esteja sentando sobre os ossos da região glútea. Apóie-se firmemente e igualmente em ambos lados. O ato de apoiar-se faz com que a parte superior do corpo se sinta leve e livre. Se seus ombros estiverem curvados e inclinados para frente, não ceda à tentação de simplesmente jogá-los para trás, já que isso causa tensão. É melhor trazê-los de volta jogando a parte de baixo da coluna para frente. É incrível como um pequeno ajuste na área correta da parte de baixo da coluna coloca as costas retas, de tal modo que os ombros automaticamente assumem a posição adequada. Agora preste atenção à cabeça. Ela é muito pesada e precisa ser posicionada corretamente. O topo da cabeça precisa estar mirando o teto (ou o céu). Quando estiver assim, o queixo estará levemente abaixado, e não apontando para fora. Se a cabeça estiver muito para trás, haverá tensão no pescoço e a coluna ficará encolhida; se estiver muito para a frente, o corpo todo se curvará.

Relaxado, mas alerta

Assegure-se que seus ombros estejam relaxados. Para fazê-lo, distancie o máximo possível os ombros dos lóbulos das orelhas. Se você estiver sentado corretamente, você não sentirá nenhuma dor ou tensão em qualquer parte do corpo. Quando você estiver confortavelmente sentado, junte suas mãos no colo com a mão dominante por debaixo – isto é, se você for destro, a mão direita é que deve estar por debaixo da mão esquerda. Isto porque nós normalmente jogamos o ombro dominante levemente para frente. Fazer o ajuste sugerido na posição das mãos corrige isso. Sentar-se com as costas retas ou coluna estendida assegura que você se manterá alerta. Não haverá nenhuma restrição do fluxo sangüíneo aos órgãos principais. Particularmente, se a cabeça estiver corretamente equilibrada, haverá um bom suprimento de sangue para o cérebro. Corpo e mente são ligados e isto influencia os resultados da meditação, como Buddha fez o tocador de cítara perceber. Uma corda muito esticada, Ele disse, muito tencionado, emite uma nota muito aguda; uma corda folgada emite uma nota muito grave, ou nenhuma. O instrumento (como os atores se referem aos seus corpos) precisa ser afinado zelosamente para uma boa performance. Similarmente, para uma mente alerta o corpo não pode estar muito curvado; para concentração ou atenção correta ele não pode estar muito tenso. Você deverá precisar de bem pouca energia para manter sua postura escolhida. Se dor surgir durante a meditação, apenas leves ajustes deverão ser necessários: relaxar os ombros, pressionar a base da coluna, pressionar igualmente os ossos dos glúteos. Infelizmente, entretanto, haverá sempre uma certa quantidade de pressão sobre os joelhos, se você estiver adotando uma posição ajoelhada por algum período de tempo.

Reverência

No final da sessão, siga o conselho dado por um mestre Zen japonês: curve-se em reverência para frente com as mãos juntas e, quando estiver repousando sobre o chão (ou o mais próximo do chão que você possa confortavelmente conseguir), deixe qualquer tensão que tenha se desenvolvido durante a sessão dissipar-se.

© Ann Lovelock

© trad. Plínio Márcio para a Comunidade Buddhista Nalanda

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Ann Lovelock
Nascida em East Midlands, UK, Ann Riddell estudou Farmácia na De Monfort University, Leicester, trabalhando como farmacêutica hospitalar até sua aposentadoria em 2001. Casou-se com Yann Lovelock em 1961 e se tornou buddhista em 1966. Foi discípula do Ven. Dr. Rewata Dhamma, sendo a tesoureira do Birmingham Buddhist Vihara Trust desde 1982. Em 2003 tomou ordenação temporária como monja Theravada sob o nome de Irmã Supabha. Seu interesse na técnica de Alexander a fez compreender a importância da correta postura de meditação, escrevendo então as orientações para sentar e andar, as quais apareceram no Vihara’s Lotus Review #s 2 & 4.