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~ Ven. Nagasena Bhikkhu ~ 

Iniciante ou dotado de muita experiência de meditação, seja qual for a forma que sua prática assuma, a preparação é crucial. Como um boxeador se aquece, foca sua mente e gera a determinação de dar o seu melhor, assim também há maneiras para o meditante se preparar. Se você começar com uma mente cheia de pensamentos, sentimentos e memórias; ou aspirar ao atingimento da paz ou ao alívio da ansiedade, depressão ou estresse, você estará começando com ‘ego’ e prejudicará sua prática. Se estiver consciente de seu estado mental e aspirar remover esses obstáculos, novamente estará produzindo ‘ego’. Esse não é um bom começo. Assim, antes de começar a meditar, você deveria fazer um esforço no sentido de aquietar a mente e reduzir o ego.

Para começar sem ego uma forte determinação deve ser feita. A energia dessa determinação é o fator que manterá sua mente alerta. Sem ego, você permanecerá imperturbável à medida que surgem distrações mentais, como as da imaginação, conceptualização, planejamento e pensamentos, mas, ainda assim, estará consciente delas. Sua prática será frutificante e você ou atingirá a quietude onde as perturbações não mais surgem ou será capaz de observar seu surgimento ao mesmo tempo em que continua com seu objeto sem ser perturbado. Nesse último caso, você verá tais perturbações e saberá que são eventos naturais da mente, mas elas não prejudicarão sua meditação ou afetarão sua paz. De fato, elas se tornarão instrumentos que o ajudarão a penetrar na realidade.

Se a sua meditação estiver seguindo na direção correta, você irá experimentar a paz e a harmonia muito facilmente. Quando a mente está confiante e pura, todo o processo se dirige a uma prática significativa e bem sucedida. Na ausência de ego, a meditação dá frutos. Com a vigilância correta todas as suas ações, palavras e meios de vida se tornarão corretos. Esta é a forma de olhar para si mesmo se você for um meditante. Mas com o ego presente, quando o objeto de meditação é perdido, surgem pensamento, confusão, depressão e frustração. Quanto mais envolvido e preocupado com o surgimento dos fenômenos, mais deprimido, confuso e ‘para baixo’ você se torna, de maneira que os obstáculos tornam-se ainda maiores – uma espiral viciosa de pensamentos e emoções que se opõem à paz e a nada levam. Mas ainda nesse momento você pode se libertar. Afaste-se de seu objeto de meditação original e passe a observar tudo o que está ocorrendo na mente. Qual é esse estado? Você está se tornado emotivo, preocupado, deprimido, desapontado, frustrado por ser incapaz de se manter no objeto? Primeiramente identifique e categorize o estado, então aceite-o, notando: ‘Estou frustrado, desapontado, etc.’. Torne o conhecer o mais claro possível. O nome técnico para esse processo é cittanupassana.

Se for incapaz de assim fazê-lo, simplesmente observe as sensações mentais que surgem no presente estado. Isto é conhecido como vedananupassana. Você começa com a intenção de observar seu objeto de meditação; e então vira sua mente profundamente ao sentimento e o torna seu objeto. Saiba que surge do ego e reconheça-o como sendo um fardo. Pergunte a si mesmo porque algo que você não quer surge para aborrecê-lo. Ainda mais sabiamente, reconheça que você não o convidou para entrar. Considere repetidamente que tudo isso é ‘eu’ ilusório que está perturbando-o e que nada mais é que uma obstrução e um obstáculo. Você verá então que aquilo que acontece com sua mente e corpo são apenas eventos que ocorrem, não um ‘eu’. Pois se houvesse um ‘eu’ intrínseco, ele causaria obstáculos aos seus próprios desejos e vontades? O reconhecimento daquilo que não é ‘eu’ (anatta) não é o auto-aniqüilamento, mas apenas o conhecer de suas impurezas ou aflições. É dessa forma que a purificação acontece e sua real natureza se torna clara. Isso é parte do que é conhecido como dhammanupassana. Uma vez que você pára de lutar e aceita a natureza tal como ela chega a você, suas reações cessarão por si mesmas. Você pode agora retornar para seu objeto original de meditação.

Há outras observações que podemos fazer. Se você estiver deprimido, desanimado ou ansioso durante a meditação, e for incapaz de parar esses estados, você pode de maneira sábia considerar tal estado da mente, refletindo: ‘Não estou prejudicando, enganando ou roubando ninguém neste momento. Não estou tornando infelizes os outros seres, nem sendo a causa para eles sofrerem. Então, por que me preocupo ou me sinto deprimido e desanimado, como se eu fosse um assassino, mentiroso ou ladrão? Minha intenção em praticar é boa e correta. Refletindo dessa forma, fatores positivos como boa-vontade, pensamento correto, amizade amorosa e compaixão irão surgir e estabilizar a mente no objeto. Esta prática não é apropriada para todos os tipos e não deveria ser praticada regularmente em qualquer evento. É somente uma ajuda alternativa para ser usada em última instância.

O que quer que ocorra em sua meditação, independentemente da técnica praticada, o Dhamma é apenas o entendimento da própria natureza sem ego e sem reação. Praticamos não apenas para nós mesmos, mas para nossa sociedade, nossa família e para a paz. Como é importante, então, que nos preparemos para a meditação por meio de uma forte determinação em purificar a mente e erradicar o ego. Os meditantes, assim, não deveriam apenas se determinar em praticar o objeto escolhido, mas também a se livrar do fardo do ego. Dessa forma, eles estarão prontos para meditar, alertas a cada objeto que aparece na mente, observando-os com clareza e desapego. Permanecendo diligentemente no momento presente, criamos a energia espiritual.

Pratiquem, então, mas sem que isso seja um empreendimento sério demais, pois a seriedade pode se tornar um obstáculo. Quando a paz e a calma prevalecem podemos compreender nossa verdadeira natureza.

© Nagasena Bhikkhu

© Centro Buddhista Nalanda, 2005 – Traduzido por Ricardo Sasaki para a Comunidade de Buddhismo Theravada Nalanda

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Nagasena Bhikkhu
Nagasena Bhikkhu faz parte de uma nova geração de monges, educados na Ásia, mas residindo no Ocidente. Monge desde 1992, ele é natural de Bangladesh, graduou-se na Mahachula Buddhist University, Thailândia e mestrado em Buddhismo e Filosofia Religiosa na Kalaniya University, Sri Lanka. Estudou pali em Bangladesh e em Myanmar.Nagasena Bhikkhu reside no Birmingham Buddhist Vihara.

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