Uma Palavra Pali por Dia

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Conteúdo

Uma seleção de palavras da língua pali para a reflexão diária

Buddha Dharma Education Association Inc.


Traduzido pelo Grupo de Tradução do Centro Nalanda
em acordo com Buddhanet
Para Distribuição Gratuita
© 2011 Edições Nalanda

Introdução

Este livreto tem como objetivo ajudar os novos estudantes buddhistas que não têm familiaridade com algumas palavras em pali que são frequentemente usadas no estudo do Buddhismo. Como o título sugere, incentivamos a aprendizagem e o uso de palavras em pali, aprendendo uma palavra cada dia. O livreto pode servir tanto como um dicionário quanto como um glossário de termos para sua referência. Selecionamos estas palavras básicas em pali como base para uma compreensão mais profunda do Buddha-Dhamma – fortemente recomendado nos estudos e pesquisas sobre o Tipitaka em pali. Que este livro aprimore seus estudos e promova o seu progresso no caminho do nosso Mestre – o Buddha.

ABHAYA

…sem medo

Abhaya-dana – Ofertar o destemor, a confiança, a afabilidade, a tolerância. Com respeito ao objeto do oferecimento, quando se oferece o espaço, a complacência e o tempo para que os outros se sintam a vontade para estar e pensar, ou quando não se deprecia as suas capacidades ou se aponta suas fraquezas, cada um desses é considerado como oferta de destemor.

No Anguttara Nikaya, no “livro dos três”, verso 172, o Buddha diz que devemos dar de tal modo que o recebedor não se sinta humilhado, depreciado ou ofendido. Devemos dar com a consideração e o respeito corretos e fazer o beneficiado sentir-se aconchegado, bem vindo e feliz para voltar.

O envolvimento pessoal no ato de dar – como o dar com as nossas próprias mãos e a promoção da concórdia através da nossa preocupação, boa vontade e comprometimento em relação ao ato – reforçará seguramente a qualidade do nosso abhaya-dana.

Será desta forma, e ainda mais, se dermos coisas que estão em bom estado, de boa qualidade, úteis e apropriadas, e não aquelas coisas que são próprias para serem jogadas fora.

ADHITTHANA

… decisão, resolução, aspiração, autodeterminação, intenção

Diferente de um voto, tal determinação é baseada em sabedoria, compaixão e abnegação e não numa promessa que devemos pagar mais tarde. É também a principal virtude necessária para trilhar o nosso caminho espiritual.

Através de uma forte determinação aperfeiçoamos os paramis.

Os buddhistas gostam de afirmar sua aspiração diante da árvore Bodhi. Como fez o Bodhisatta Gotama antes que Ele alcançasse o Seu Despertar, afirmamos o nosso adhitthana recitando:

“Pelo poder dos méritos que acumulei, que eu possa…”

Sempre que fazemos algo bom, como dana, devemos afirmar uma aspiração:

Possa este meu dana ser uma condição para que eu aprenda, pratique e realize a Verdade até que eu alcance nibbana”.

ANATTA

… consiste de duas palavras, an (não) e atta (alma, ego eterno ou entidade metafísica) = não-alma, não-eu, ausência de um ego.

A doutrina de anatta é um dos ensinamentos mais importantes do Buddha. Também é a característica distintiva do Buddhismo que não pode ser encontrada em outras das grandes religiões. É ainda o mais mal entendido, mais mal interpretado e o mais distorcido de todos os Seus ensinamentos.

Não há coisa alguma a qual nós possamos dizer ser um núcleo interno que seja eterno e divino. Também não há coisa alguma a que nós possamos acionar para exercer autoridade sobre a natureza das coisas. Não há nenhum fazedor apartado do fazer e algo ou alguém que seja onipotente, porque tudo está à mercê do constante surgimento e dissolução inerente às coisas condicionadas.

Nós somos uma combinação de cinco khandhas (agregados) – que estão em interação, são dependentes um do outro e compõe o fenômeno ‘pessoa’. Nenhum dirigente, nenhum fazedor, nenhum experienciador e nenhuma essência podem ser encontrados.

Por isso não há ‘eu’, ‘meu’, ‘meu eu’, etc. Mas forma, sentimento/sensação, percepção, formações mentais e consciência, juntos, são o que nós experienciamos como o ‘eu’.

ANICCA

…impermanência; transitoriedade

É pelo fato da impermanência que derivam as outras duas características; dukkha (sofrimento) e anatta (não-eu).

Tudo o que surge e se dissipa é anicca. Tudo que é anicca é sofrimento, e tudo que é sofrimento é não-eu.

Anicca é uma lei natural do universo. Tudo – vivo ou sem vida, mental ou material – está sujeito a mudança.

Na lei do kamma (causa e efeito), tudo é a criado por suas causas precedentes e por sua vez é também a causa dos efeitos posteriores. Portanto, a existência é um fluxo de mudança sem fim.

Não é anicca que causa sofrimento, mas o apego e a ânsia de que as coisas sejam permanentes e eternas.

As últimas palavras do Buddha foram…

Todas as coisas compostas estão sujeitas a mudança, se esforcem com diligência”.

BUDDHA

 … o Iluminado, o Perfeito, o Sagrado, o Onisciente

Quem quer atingir o estado de Buddha, precisa aperfeiçoar-se nos dez Paramis (pré-requisitos para a Iluminação). O Nibbana pode ser obtido através de um dos três Yanas a seguir (veículos):

1. Samma-Sam-Buddha (completamente Iluminado) ~ Aquele que aspire tornar-se um Buddha deve fazer uma firme resolução (Voto de Bodhisatta) na presença do Buddha. Uma vez que ele seja proclamado para ser um Buddha no futuro, ele terá que praticar os dez paramis com espírito abnegado para servir a humanidade sofredora.

2. Pacekka Buddha ~ Aquele que atinge a iluminação sem qualquer auxílio espiritual. Ele não possui a faculdade de iluminar os outros.

3. Savaka Buddha (Arahant) ~ Quem tem completamente erradicadas todas as máculas, incluindo os 10 grilhões, com a orientação dos ensinamentos do Buddha. Ele é capaz de prestar assistência espiritual aos outros para que se libertem.

CAKKA

…uma roda

O Dhamma Cakka Pavatthana Sutta (O discurso que põe em movimento a Roda do Dhamma) ensina-nos as Quatro Nobres Verdades. Constitui a base sobre a qual o sistema da filosofia buddhista foi fundado.

1-     A Nobre Verdade do Sofrimento (dukkha).

2-     A Nobre Verdade da Causa (samudaya) do Sofrimento – isto é, o Desejo (tanha).

3-     A Nobre Verdade da Cessação (nirodha) do Sofrimento – atingir o Não-Renascimento (nibbana).

4-     A Nobre Verdade do Caminho que leva à Cessação do Sofrimento – Ariya Atthagika Magga (O Nobre Caminho Óctuplo).

A primeira Verdade é para ser compreendida, enquanto a segunda é para ser eliminada. A terceira é para ser entendida e a quarta é para ser desenvolvida. O Nobre Caminho Óctuplo, também conhecido pelo Caminho do Meio (majjhima patipada), é o método pelo qual se evita os dois extremos: a Auto mortificação que enfraquece o intelecto e a auto complacência que atrasa o progresso moral. Funda-se nos Oito Fatores Corretos que, juntos, propiciam o Caminho da Verdade e da Libertação.

DANA

…dar, generosidade, caridade, liberalidade, a virtude de doar aos pobres e necessitados; também significa presentear ou dar suporte a um bhikkhu ou uma comunidade monástica.

Esse é o primeiro passo para eliminar as impurezas da cobiça, ódio e ilusão, porque todo ato de generosidade é um ato de amorosidade (metta) e compaixão (karuna).

Dana deveria ser feito com o propósito de remover a cobiça com samma-ditthi (Entendimento Correto).

As três considerações de um doador são:

1. sentir-se feliz com sua ação saudável antes, durante e depois do dana.

2. ter saddha (fé ou confiança) na lei do Kamma – Dana quando realizado com entendimento correto levará a bons resultados que são acompanhados por pañña (sabedoria).

3. fazer a resolução (adhitthana) de atingir o Nibbana – Embora alguém possa fazer aspirações mundanas, tais como boa saúde, riqueza e felicidade, elas devem ser feitas com a intenção de apoiar seu crescimento espiritual. Boa saúde permitirá que se pratique meditação; e a riqueza permitirá que se continue fazendo ações de dana e então nascer num reino de felicidade (loka) onde existe o Dhamma.

DOSA

… ódio, raiva, má vontade

Ela vem com muitos nomes e faces, como antipatia, rancor, inimizade, aversão, etc. Também aparece de uma forma sutil em represália a um resultado, chateado com a incerteza da vida, no ressentimento… e disfarçada; dosa é o tédio, indecisão, frustração, inveja, desamparo, ignorância, etc.

A raiva é facilmente abrigada no coração, especialmente com relação àquelas palavras que não são adequadas para os ouvidos / ego. A raiva é motivada por uma causa, seja ela uma picada de mosquito ou uma visão repugnante. Há duas causas:

1. A natureza repulsiva / negativa do objeto. As coisas estão mudando o tempo todo. Elas não são permanentes. Assim são nossos pensamentos, sentimentos e percepções. Se não houver escuridão, não haverá claridade.

2. A atenção não sistemática para a natureza repulsiva. Um tolo vê o favorável com avidez e o negativo com raiva, enquanto a visão sábia vê o favorável com bondade amorosa e o negativo com desapego.

A maneira de superar a raiva inclui bondade amorosa (metta) no coração, compaixão (karuna), um senso de equanimidade (upekkha) e a correta compreensão da Lei do Kamma. E se todos os quatro falharem, evite a situação.

DUKKHA

…du (difícil) + kha (de suportar) = sofrimento, doente, incapaz de satisfazer, um estado de mal-estar no sentido de desconforto, frustração e desarmonia com o ambiente.

Nascimento (jati) é sofrimento, assim como o envelhecimento e a decadência (jara), doença (vyadhi), morte (marana), a separação dos seres amados e a não obtenção do que se quer. Resumindo, os cinco agregados (khandas) do apego são sofrimento.

A influencia dos sentidos é tão tentadora que nós acreditamos no “Eu”. E quanto mais nos apegamos a isso, mas sofrimento haverá. O apego aos objetos dos sentidos e o desconhecimento, ou ignorância (avijja) de sua impermanência (anicca), encobre a causa do sofrimento, que é manifestado como desejo (tanha).

Os três tipos de dukkha são:

1. sofrimento do corpo e da mente no sentido comum, como dores, desconforto, etc.

2. sofrimento dos agregados devido ao surgimento e ao desaparecimento de uma fase momentânea da existência.

3. Dukkha originário das mudanças ou transitoriedade.

EHIPASSIKO

…“venham e vejam”

Esta é uma das virtudes do Buddha-Dhamma. O Buddha convida-nos a vir e a ver, a examinar, a verificar, a testar e a experimentar os resultados dos Seus ensinamentos.

A aprendizagem do Buddha-Dhamma não exige uma fé cega. Não há mandamentos ou regras para penalizar os seguidores que não queiram acreditar nele.

O único caminho para compreender a Verdade é adquirir conhecimento e praticar por si mesmo, de livre vontade. Forçar alguém a aceitar certos ensinamentos para os quais ela não está preparada para os receber, não beneficiará essa pessoa no seu progresso espiritual.

O Buddha não teve medo que os seus ensinamentos fossem testados, a sua realização só vem da prática dos seus ensinamentos. O Buddha-Dhamma é também Svakkhato (‘bem ensinado’), sanditthiko (a ser realizado por si mesmo), akaliko (que tem resultado imediato), opanayiko (possível de ser penetrado), paccattam veditabbo viññuhiti (a ser alcançado pelo sábio, por ele mesmo).

JATAKA

… Relatos dos nascimentos anteriores (do Buddha)

Uma obra do Canon Theravada (Doutrina dos Mais Velhos), que contém uma coleção de 547 histórias das vidas anteriores de Buddha Gotama.

De grande valor no folclore e na mitologia buddhista como pano de fundo dos contos de moral. Cada Jataka tem sua própria história moral, uma vez que mostra como o Bodhisatta praticou e desenvolveu as virtudes necessárias para a obtenção do estado de perfeita iluminação.

Os Contos dos Jatakas são relatos de vidas anteriores do Buddha, originalmente contados pelo Buddha aos seus discípulos. Em suas vidas anteriores, o Buddha apareceu sob várias formas, tais como animais, seres humanos, nagas (dragões) e devas (seres celestiais).

Os Jatakas enfatizam o altruísmo da compaixão, do amor e da bondade, e da beleza da ação virtuosa.

Os Jatakas nos ensinam que somos totalmente responsáveis ??por nossas ações, e que aquilo que pensamos e fazemos afeta a qualidade de nossas vidas. Esse princípio básico é conhecido como Kamma.

KAMMA

…ações realizadas com intenção ou motivo consciente

A lei do Kamma – a lei da causa e efeito, ação e apropriado resultado da ação.

Todas as nossas ações se encaixam em três classificações, nomeadamente: pensamento (ação mental), discurso (ação verbal) e corpo (ação física). Para que estas ações se tornem kamma, elas têm de estar associadas a cetana (vontade) ou intenção. Assim, kamma pode ser kusala (sadio) ou akusala (não sadio).

Kamma não é uma doutrina de pré-determinação. O passado influencia o presente, mas não o domina. O passado e o presente influenciam o futuro.

O resultado de Kamma é chamado Vipaka (consequência) ou Phala (frutificação). E isto leva a um bem conhecido e fundamental ensinamento de Buddha – a doutrina do Renascimento.

Kamma é a causa maior de todas as desigualdades do mundo, apesar de nem tudo ser devido a essas ações passadas. A explicação mais simples de como Kamma funciona é: o bem gera o bem; o mal gera o mal; o bem e o mal dão origem ao bem e ao mal; algo nem bom nem mau origina algo nem bom nem mau.

KARUNA

… compaixão, ausência de dano, vontade de suportar a dor dos outros

Karuna deve ser praticada com sabedoria (panna). É um pensamento de paz e de ausência de vontade em causar dano, com a intenção de diminuir a dor de outros seres que não são tão afortunados quando comparados conosco.

No apogeu desta prática, deveremos mesmo ir ao ponto de sacrificar a própria vida de modo a aliviar o sofrimento dos outros. Tem a característica de uma mãe amorosa, cujos pensamentos, palavras e ações sempre tendem a aliviar o sofrimento do seu filho doente.

O objetivo de Karuna é ajudar a eliminar o elemento da crueldade. O cultivo de Karuna não se limita às palavras – a ação também conta. A compaixão é o fator motivador da tomada de votos de Bodhisatta.

Devemos ser capazes de identificar os sentimentos de perturbação emocional causados pelo sofrimento dos outros enquanto pena e desgosto e não karuna. Karuna, como as outras três virtudes nos Brahma Viharas, é uma qualidade mental positiva.

KATHINA

 …duro, firme, inabalável, Manto e Cerimônia de Oferta do Manto (de acordo com o comentário do Vinaya)

Todos os anos os monges buddhistas cumprem o seu Vassa (retiro da estação das chuvas) durante cerca de três meses. Durante este retiro os monges fazem uma prática intensiva de meditação.

No fim do retiro eles são autorizados a receber um novo manto ou uma peça de tecido para fazer um manto, de devotos leigos. O Manto Kathina é feito com vários retalhos de tecido cosidos como um padrão de campos de arroz e parece um manto de trapos.

A cerimônia Kathina tem de ser celebrada dentro de um mês depois do retiro no Sima Hall do Mosteiro ou Templo onde viveram durante esse retiro. Apenas um Manto Kathina será oferecido ao monge que passou o retiro de acordo com as regras (selecionadas pela comunidade de monges desse mosteiro).

A oferta de um manto Kathina é considerada um ato muito meritório porque o mérito alcançado é tão “duro” (Kathina) como um diamante. Os doadores podem ir para qualquer lado sem receio, comer qualquer coisa sem perigo, os seus pertences estão livres de cheias, de fogo e de ladrões, e serão passíveis de receber muitas roupas e possuir muitos bens.

KHANTI

… paciência, tolerância, resistência, condescendência

É suportar o sofrimento causado por outros ou ter paciência com os seus erros.

Uma pessoa que pratica a paciência não vai permitir que um pensamento de vingança ou de retaliação invada a sua mente quando ela é confrontada pela raiva. Ao contrário, ela tenta conduzir o malfeitor ao caminho da retidão e dirige a ele pensamentos de amor e compaixão.

Para a prática de khanti, deve-se ser capaz de controlar o temperamento através da correta compreensão da real natureza da vida. Ao perder a calma, não estamos apenas perdendo a nossa paz, felicidade, saúde, beleza, amabilidade e popularidade, mas também a capacidade de distinguir o bom do ruim e o certo do errado.

A característica de khanti é a aceitação e sua função é resistir às coisas desejáveis ??e indesejáveis. Enquanto a manifestação de khanti é um caráter de não oposição, a qualidade que vem de a atingir é a sabedoria – a capacidade de ver as coisas como elas realmente são. Ao compreender as três marcas da vida (anicca, dukkha e anatta) e a lei do kamma, a pessoa será capaz de gerir seus sentimentos.

KUSALA

…benéfico, meritório, correto, um termo usado para descrever atos cujo efeito kâmmico vai ajudar no progresso do desenvolvimento mental ou produzir resultados agradáveis

Uma ação benéfica é uma ação:

1. que não prejudica quem a faz ou os outros

2. que é louvada e aprovada pelos sábios, e

3. que quando é feita conduz ao benefício e felicidade do próprio e dos outros

Dasa Kusala Kamma (10 ações meritórias):

1. Dana (generosidade)

2. Sila (virtude)

3. Bhavana (cultivo mental-meditação)

4. Apacayana (reverência, ato de respeito)

5. Veyyavacca (serviço, fornecer ajuda)

6. Pattidana (transferência de mérito)

7. Pattanumodana (regozijo com o mérito dos outros)

8. Dhammasavana (ouvir a doutrina)

9. Dhammadesana (ensinar a doutrina)

10. Ditthijukamma (ajustar o ponto de vista) formar visão correta, estabelecer uma compreensão correta

Akusala (não meritório) Kamma inclui matar, roubar, indecência, mentir, difamar, linguagem agressiva, conversa frívola, desejo de posse, má vontade e visão errada.

LOBHA

…ganância, cobiça, um sinônimo de tanha (ânsia, desejo) e raga (paixão)

Sendo a causa raiz do mal, ela assume muitas faces. Acumulação – segurar, sem deixar ir, obsessão com ganho material, avareza e ânsia – desejo de possuir o que os outros têm, agarrar-se aos objetos desejáveis dos sentidos, etc.

De uma forma sutil, poupança/economia – uma espécie de relutância em consumir coisas – parece ter o elemento de lobha na sua raiz. Enquanto a mais forte transforma-se em agarrar o objeto mental como desejo do sentido. Ela tem a função de “grudar” e a manifestação de lobha é a não desistência. A causa imediata é ver o prazer nas coisas que levam à escravidão.

Lobha pode se transformar facilmente em dosa quando não se obtém o objeto desejado e, assim, criar todo tipo de akusala kamma possível (ações não saudáveis).

É preciso aprender a ser contente (santosa) e deixar passar o prazer sensual (kama). É preciso estar atento ao apego a regras e rituais que impedem o progresso espiritual.

LOKA

…mundos, reinos

Existem 31 estados de existência dentro dos quais os seres nascem, de acordo com o seu kamma.

Basicamente eles são divididos em 3 grupos de bhava (vir a ser / estado de existência).

1. Kamabhava (mundo sensorial, plano dos desejos)

a) Os 4 Apaya-bhumi (plano do tormento) ou mundo inferior: Niraya (infernos), Tiracchana-yoni (reino animal), Peta-yoni (reino dos fantasmas famintos) e Asura-yoni (mundo dos demônios).

b) 7 Kamasugati-bhumi (estados alegres): Manussa (reino humano); os céus Catummaharajika, Tavatimsa, Yama, Tusita, Nimmanarati, Paranimmitavasavatti (reino dos devas).

2. Rupabhava (plano da forma) ou Brahmaloka – Consiste de 16 categorias diferentes dependendo do estágio e intensidade dos quatro estágios de jhana (um estado de contemplação serena).

3. Arupabhava (plano da não-forma) – Nos 4 reinos superiores existe apenas a mente e nenhuma forma física.

METTA

…bondade amorosa, amor divino, boa vontade ativa

É também um sentimento caloroso e amigável de boa vontade e preocupação pelo bem estar e felicidade de si próprio e dos outros. É uma prática de qualidades mentais positivas para superar a raiva (dosa), má vontade, ódio e aversão.

Assim como uma mãe protegerá sua criança, mesmo pondo em risco sua vida, da mesma forma se deve cultivar o amor ilimitado por todos os seres vivos.

Metta deve ser irradiado em igual medida para si próprio e para amigos, inimigos e pessoas neutras, independentemente de sua força e tamanho, e quer eles sejam vistos ou não vistos e quer morem perto ou longe.

A culminância desse metta é a identificação de si mesmo com todos os seres, não fazendo diferença entre si mesmo e os outros, de modo que o assim-chamado ‘eu’ não existe.

Metta não é nem amor passional (pema) nem desejo de possuir (querer). Está acima do amor humano normal do cuidar, confiar e respeitar. É universal e sem limite em seu escopo.

Metta possui um poder magnético que pode produzir uma boa influência sobre os outros, mesmo à distância.

MITTA

… amizade, companheirismo

Kalyana Mitta – amigos e amizade espirituais.

O propósito da amizade é crescer mutuamente, aprimorar-se espiritualmente pela fé (saddha), generosidade (caga), virtude (sila), conhecimento e sabedoria (panna).

É a precursora da bondade na vida, assim como a felicidade, riqueza, oportunidade, etc. É a condição de suporte para o crescimento de toda bondade.

Um verdadeiro amigo é um amigo que presta ajuda quando é preciso, que divide com você o bem-estar e mesmo os seus problemas, que dá bons conselhos e que tem simpatia.

Um inimigo disfarçado de amigo é aquele que se aproxima para obter vantagens (o oportunista), aquele que fala demais (o falante), aquele que faz muitos elogios (o lisonjeador) e aquele que traz prejuízos (o aproveitador).

Um bom amigo é aquele que:

  1. dá o que é difícil de se dar (dana),
  2. faz o que é difícil de ser feito,
  3. ouve o que é difícil de ser ouvido ou suportado,
  4. confessa (ações) seus segredos a você,
  5. guarda outros segredos,
  6. na necessidade não o abandona,
  7. não o despreza quando você está arruinado.


MUDITA

… alegria simpatética, alegria altruísta, alegria apreciativa – é a atitude congratulatória de uma pessoa

Sua característica principal é a feliz aquiescência na prosperidade e sucesso de outrem. É uma das quatro Moradas Sublimes da Conduta (Brahma Viharas). As outras três são Metta, Karuna e Upekkha.

Por alegrar-se com as habilidosas ações e méritos de outros, tende-se a erradicar a própria inveja (issa) que levaria a atitudes não saudáveis por meio de atos, palavras e pensamentos. A prática de mudita exige muito esforço pessoal e grande força de vontade.

O desenvolvimento de mudita requer avaliação sistemática, Compreensão Correta e moderação. Portanto, deve-se estar sempre vigilante quanto aos inimigos próximos, que são o riso, a festividade, a excitação e a euforia, e quanto aos inimigos distantes, o ciúme e a inveja.

Mudita é como a alegria de uma mãe pelo sucesso e vitalidade de seus filhos. Um buddhista praticando mudita alegremente dirá “Sadhu! Sadhu! Sadhu!”, que significa bem feito ou excelente, para congratular os méritos dos outros.

PAÑCA-SILA

… Cinco Preceitos – formam o código de conduta básico buddhista com o objetivo de vigiar as portas dos sentidos.

Eu me comprometo a cumprir o preceito de me abster:

1. de destruir seres vivos (panatipata). Este preceito ajuda a controlar a paixão pelo ódio e raiva em nós, com o cultivo da boa vontade e compaixão.

2. de tomar o que não é dado (adinnadana). Evitando cometer fraude, roubar, burlar ou mesmo tomar mais do que é dado, exercemos autocontrole sobre o desejo de possuir coisas pertencentes aos outros. Por outras palavras, estaremos praticando a generosidade, a sinceridade e a desenvolver a confiança.

3. de ter uma vida sexual imprópria (kamesu-micchacara). Refreando a nossa luxúria excessiva tal como o adultério, mostramos respeito pela segurança e integridade dos outros e praticamos o contentamento.

4. de praticar o discurso falso (musavada). Mentir ou enganar (dizendo menos do que se deve) são os aspectos negativos da honestidade. Devemos evitar usar a batota, exagerar e caluniar para ganhar riqueza, fama e poder.

5. de tomar drogas e álcool (sura). Deste modo não escapamos à realidade. Devemos estar conscientes em cada instante e ser autocontrolados.

PARAMI

… ir além, perfeição, excelentes virtudes, a mais nobre das qualidades dos Bodhisattas (Buddhas-a-ser)

Dasa Paramita (10 Perfeições) – uma linha de conduta ou os pré-requisitos para a Iluminação. A prática destes paramitas é desfrutada com sabedoria (panna), compaixão (karuna) e abnegação.

Aos aspirantes é necessário aperfeiçoar-se através de vigoroso desenvolvimento e cultivo em numerosos ciclos de nascimento e morte.

As 10 Perfeições são:

1. Dana (Caridade/Generosidade)

2. Sila (Moralidade/Virtude)

3. Nekkhamma (Renúncia)

4. Panna (Sabedoria)

5. Viriya (Energia)

6. Khanti (Paciência)

7. Sacca (Verdade/Honestidade)

8. Adhitthana (Determinação)

9. Metta (boa vontade)

10. Upekkha (Equanimidade)

PUJA

… um gesto de devoção ou respeito, geralmente com a elevação das mãos e palmas juntas (anjali)

Um buddhista venera ‘rupa’ (imagem) do Buddha a qual representa o próprio Mestre; ‘Saririka’ (relíquias) do Buddha, as quais normalmente são conservadas em uma stupa; a Árvore Bodhi que deu abrigo ao Buddha durante seu esforço pela iluminação.

Além destes três objetos de veneração, os buddhistas também cultivam a devoção por seus gurus (mestres) e seus pais.

Reverência dos 2-pontos: Joelhos e pés sobre o chão com o gesto de ‘anjali’

Reverência dos 5-pontos: Palmas, cotovelos, joelhos, pés  e testa sobre o chão.

SAMADHI

…concentração, contemplação da realidade, o estado de mente equânime

Samma Samadhi (concentração correta). É o desenvolvimento de uma mente de focamento da mente. Abre o portão para o insight e o entendimento das Quatro Nobres Verdades.

Uma mente concentrada é uma poderosa ajuda para ver as coisas como elas são. Assim a pessoa pode perceber as três características da vida, que são anicca (impermanencia), dukkha (insatisfatoriedade) e anatta (não alma).

O Buddha recomendou 40 objetos de meditação para o desenvolvimento de samma samadhi. Eles incluem alguns métodos essenciais, como a meditação de metta (meditação da bondade), kayagatasati (a reflexão sobre as 32 partes impuras do corpo), anapanasati (atenção a respirarão), marananusati (reflexão da morte), etc.

Uma vez que um yogui alcance certo nível de concentração, ele deverá desenvolver a meditação da sabedoria (vipassana)

SARANA

… refúgio, proteção, abrigo, moradia

Ti-sarana: o triplo refúgio (o Buddha, o Dhamma e a Sangha)

Todos os fiéis buddhistas leigos tomam refúgio no Buddha, no Dhamma e na Sangha como os seus guias e inspirações diárias.

Tomamos refúgio no Buddha, o Mestre, aquele que plenamente alcançou o Caminho da libertação. Como um incomparável guia, ele nos mostrou o Caminho para a Libertação.

Tomamos refúgio no Dhamma, Seus Ensinamentos, ou na verdade suprema como o único Caminho para cessar o sofrimento, como o Caminho que nos leva da escuridão para a luz espiritual.

Tomamos refúgio na Sangha, a comunidade de discípulos do Buddha, aqueles que se libertaram ou estão se esforçando para alcançar a Libertação. O nobre exemplo deles nos inspira e nos guia no Caminho da Libertação.

Não existem regras rígidas ou ritos e rituais necessários para se tomar refúgio no Ti-sarana. Só é considerado buddhista, aquele que observa e segue os ensinamentos do Buddha.

SASANA

…a Dispensação dos Ensinamentos do Buddha

Buddha-sasana – a duração, começando do tempo de Seu primeiro Sermão (Dhamma-cakka-pavatthana Sutta) dado aos primeiros cinco discípulos no Parque das Gazelas em Isipatana, até o declínio e desaparecimento de Seus ensinamentos.

Ao fim de Seu Sasana, cinco desaparecimentos ocorrerão na seguinte sequência:

  1. O atingimento do estado de Arahant após 1000 anos.
  2. As práticas, tais como meditação (bhavana) e observação dos cinco preceitos. Monges reduzirão a observação de seus preceitos a quatro.
  3. O aprendizado do Buddha-dhamma. Não haverá patronagem vinda dos devotos e os monges cessarão de ensinar o Buddha-dhamma. Todo o Buddha-dhamma desaparecerá e restarão apenas as quatro últimas linhas de um verso.
  4. Símbolos tais como os mantos de um monge. Monges apenas utilizarão tarjas amarelas para se representar como sendo da comunidade de monges.
  5. Relíquias (saririka). Todas as relíquias do Buddha se rejuntarão na imagem do Buddha e finalmente desaparecerão para marcar o fim do Buddha-sasana.

SILA

…preceitos morais, código de moralidade e ética buddhista

Isso consiste na Fala Correta (samma vaca), Ação Correta (samma kamanta) e Modo de Vida Correto (samma ajiva).

Podemos dividir Sila em duas categorias:

1) A EVITAR

Fala: mentira, calúnia, conversas fúteis, linguagem rude.

Ação: matar, roubar, prazeres sensuais excessivos (adultério, jogos de azar, drogas e bebidas alcoólicas).

Modo de Vida: trabalhos que causam danos, privar ou tirar outras vidas (abate, pesca, caça, escravidão); que implicam na utilização de falsidades (enganação, engodo, usura); que é adquirido através dos prazeres sexuais (prostituição, pornografia); que envolvem uso de tóxicos (bebidas alcoólicas, drogas, venenos); que comercializa armas e armas mortais.

2) A EXERCITAR

Fala: verdadeira (sacca), benéfica, agradável e educada e na hora certa.

Ação: compaixão (karuna), bondade amorosa (metta) e sabedoria (pañña).

Modo de Vida: proventos que são ganhos legalmente, não gerando tristeza nem pra você mesmo, nem pra outros; ser enérgico – fazendo com nossas próprias mãos e aplicando nosso esforço próprio.

TIPITAKA

…Três Cestas (a função de armazenar) é um extenso corpo de literatura canônica en pali no qual estão consagrados os ensinamentos do Buddha Gotama. Eles foram compilados e classificados em uma ordem sistemática de acordo com seus assuntos.

O Vinaya Pitaka (regras de disciplina para a Sangha) incorporou as imposições e aconselhamentos do Buddha sobre os modos de conduta e moderação para a Ordem da Sangha. Há 17 principais e 210 regras menores para um bhikkhu; e 25 principais e 286 regras menores para uma bhikkhuni observar.

Os discursos gerais e sermões proferidos pelo Buddha estão recolhidos e classificados no Suttanta Pitaka. Eles são divididos em 5 Nikayas (coleções):

  1. Digha Nikaya (discursos longos): 34 suttas;
  2. Majjhima Nikaya (discursos médios): 152 suttas;
  3. Samyutta Nikaya (provérbios aparentados): 7762 suttas;
  4. Anguttara Nikaya (provérbios graduais): 9557 suttas;
  5. Khuddaka Nikaya (menores) – que inclui os versos do Dhammapada e as histórias dos Jatakas.

 

O aspecto filosófico dos Ensinamentos do Buddha que lida com as verdades supremas (Paramattha Sacca), a investigação sobre a mente (nama) e o corpo (rupa) são classificados no âmbito do Abhidhamma Pitaka (Dhamma Superior).

VACA

… fala

A fala é a ferramenta mais poderosa para criar o bem e o mal para si, para os outros ou ambos. Tem, também, o poder de destruir a felicidade e a tristeza para si mesmo, para os outros ou ambos.

Frequentemente nos esquecemos de que a primeira consideração no ato de falar é sempre a escolha de permanecermos em silêncio. E se tivermos que escolher a opção de falar, deveríamos nos assegurar de que as palavras faladas beneficiem tanto a nós mesmos quanto aos outros.

Devemos entender as características naturais da nossa fala. Uma vez que nossas palavras chegam aos ouvidos do ouvinte – que são as portas de seu coração – não podem ser tomadas de volta. A fala também reflete a credibilidade do orador – somos avaliados pelo propósito e pela maneira como falamos.

A palavra a ser evitada é:

Falsidade (musavada), calúnia (para dividir outros), a palavra frívola (fofoca) e a fala (inábil) áspera.

As qualidades de Fala Correta são:

Verdade (sacca) – o que vemos, ouvimos, compreendemos ou temos conhecimento), benéfica (construtiva, motivadora, etc.) e agradável ou educada (o ouvinte pode apreciá-la). O propósito da fala é expressar o melhor de si mesmo e do ouvinte.

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Guia de pronunciação do pali ~ em pdf