� Retiros


Retiro vipassana com o Vener�vel Henepola Gunaratana
(realizado em 1999)

Em 1999 recebemos novamente Bhante Gunaratana para dirigir um retiro aqui em Belo Horizonte. Esta foi a terceira vez que Bhante Gunaratana veio ao Brasil a nosso convite. De 11 a 25 de fevereiro Bhante G. esteve aqui em Belo Horizonte dirigindo um retiro longo e um curso, indo ent�o para cursos e retiros de fim-de-semana no Rio de Janeiro e S�o Paulo, a pedido de pessoas de l�, que nos contactaram a fim de aproveitar essa oportunidade. No Centro Nalanda, consideramos importante dar essas oportunidades a pessoas de outros estados de entrarem em contato com o Dhamma do Buddha na vertente Theravada.

Apresentamos aqui uma entrevista que apareceu no jornal O Tempo de Belo Horizonte de 2 de fevereiro de 1999 (tradu��o de Ricardo Sasaki).

MONGE DO SRI LANKA CHEGA A BELO HORIZONTE
Ana Elizabeth Diniz
Especial para O Tempo

O Vener�vel Henepola Gunaratana � um Mahathera. Trabalhou dez anos no Buddhist Missionary Society da Mal�sia e durante muitos anos. foi presidente do Buddhist Vihara Society de Washington., um dos mais importantes mosteiros dos Estados Unidos. � graduado em filosofia pela American University onde atua como orientador, � autor de v�rios livros e atualmente � diretor do Bh�van� Society de West Virginia.

O monge do Sri Lanka estar� em Belo Horizonte a partir do dia 12 de fevereiro quando vai participar de um retiro de medita��o com praticantes budistas e ainda passar seus ensinamentos atrav�s de um curso. Em entrevista exclusiva para O TEMPO, o vener�vel Gunaratana fala sobre a tradi��o Therav�da. os ensinamentos de Buda, virtudes e a import�ncia da pr�tica budista.

O Tempo - Qual � a sua idade e por que resolveu trilhar o caminho do buddhismo?
Vener�vel Gunaratana - Tenho 71 anos e sou monge desde os 12. Em meu pa�s, em cada aldeia h� pelo menos um templo budista. Eu costumava ir ao templo praticamente todo dia porque ficava bem perto de minha casa. Os monges eram muito simp�ticos. Eles nos estimulavam a usar as depend�ncias do templo como �rea de lazer. Foi assim que cresci no ambiente do templo. Enquanto isso desenvolvia o interesse em me tornar monge. Eu n�o sabia por que seguia o budismo naquela idade. Mas agora sei por que continuo budista. O budismo �. uma religi�o pac�fica que nunca for�a os outros a aceit�-lo. Se algu�m de livre vontade aceit�-lo, ele os encoraja a pratic�-lo diligentemente. Os budistas s�o livres para aceitar qualquer coisa que quiserem e rejeitar qualquer coisa que n�o gostarem. Eles n�o s�o for�ados a doar um percentual de seu sal�rio ao templo budista. As doa��es s�o totalmente volunt�rias e v�m do cora��o. Os templos budistas n�o expulsam membros se eles n�o fizerem doa��es. O budismo ensina uma medita��o muito profunda para libertar nossas mente de todo tipo de irrita��o ps�quica e torna nossas vidas muito felizes e cheias de paz.

O senhor nasceu no Sri Lanka. Por que resolveu morar nos Estados Unidos?
Fui convidado a vir aos Estados Unidos para trabalhar na secretaria geral da Washington Budhist Vihara. Assim, cheguei cm 1968 e estou morando aqui desde ent�o, ensinando, escrevendo e conduzindo retiros de medita��o. Eu decidi morar nesse pa�s porque h� muita gente se interessando pelo budismo. Cada vez mais pessoas est�o buscando a medita��o.

Qual � o objetivo de sua vinda a Belo Horizonte?
Eu vou a Belo Horizonte para conduzir retiros de medita��o. Meu lema � ensinar �s pessoas como viver conscientemente ajudando uns aos outros de maneira amig�vel e atrav�s da pr�tica da medita��o. A medita��o da vis�o clara foi ensinada pela primeira vez por Buda h� 2560 anos atr�s. Nesse retiro vou ensinar como observar as mut�veis experi�ncias f�sicas, sentimentos e percep��es. Usando a respira��o como foco da aten��o as pessoas aprendem a desenvolver uma consci�ncia cada vez maior sobre o funcionamento interno da mente. Dessa forma, a medita��o perceptiva pode ajud�-las a descerrar o v�u de ilus�es atrav�s do qual normalmente v�em o mundo.

O que � a tradi��o Theravada?
A palavra Theravada (do pali, "thera"= ancestrais + "vada" =palavra, doutrina>, a "Doutrina dos Ancestrais", � o nome da escola de budismo que tira sua inspira��o para as escrituras do C�none PaIi ou Tipitaka, que os estudiosos geralmente aceitam como o registro mais antigo dos ensinamentos de Buda. Durante muitos s�culos o Therav�da foi a religi�o predominante no Sri Lanka, Birm�nia e Tail�ndia. Hoje, os budistas Therav�da chegam a mais de 200 milh�es no mundo todo. Nas �ltimas d�cadas, o Therav�da come�ou a criar ra�zes no Ocidente - primeiramente na Europa e Estados Unidos.

O budismo Therav�da tem muitos nomes. O pr�prio Buda chamava a religi�o que ele fundou de' Dhamma-Vinaya, "a doutrina e disciplina", em refer�ncia aos dois aspectos principais do sistema de treinamento �tico e espiritual que ele ensinava. Devido a sua predomin�ncia hist�rica no sul da �sia (Sri Lanka, Tail�ndia e Birm�nia), o Therav�da tamb�m identificado como "budismo do sul". em contraste com o "budismo do norte", que migrou do norte da �ndia para o Tibete, China, Jap�o e Cor�ia.

O Theravada � algumas vezes identificado como Hinayana ("ve�culo menor") em contraposi��o Mahayana ("ve�culo maior"), que � usualmente um sin�nimo de budismo tibetano, zen, ch'an e outras express�es do budismo do norte. O uso pejorativo da palavra "Hinayana" tem origem dentro da comunidade mon�stica que acabou levando � emerg�ncia do que mais tarde se tornaria o Mahayana. Hoje, entretanto, estudiosos de toda as doutrinas budistas (e n�o-budistas) freq�entemente usam o termo "Hinayana", sem inten��o pejorativa.

A l�ngua dos textos can�nicos do theravada � o pali aparentada do magadhi, a l�ngua provavelemente falada na �ndia central durante a �poca do Buda. Pouco depois da morte de Buda, em torno de 480 aC, a comunidade de monges se uniu para recitar todos os serm�es que ouviram durante os quarenta e cinco anos de ensinamentos. Por volta de 100 aC os ensinamentos foram, pela primeira vez, fixados por meio de escrita no Sri Lanka por monges-escribas singaleses.

Qual a base dos ensinamentos legados por Buda?
Pouco depois de seu despertar, o Buda ("aquele que despertou") fez seu primeiro serm�o em que estabeleceu as linhas gerais do seu pensamento. Essas linhas consistiam das quatro nobres verdades, ou os quatro princ�pios fundamentais da natureza (dharma) que emergiram da avalia��o honesta e penetrante da condi��o humana e que servem para definir todo escopo da pr�tica budista. Essas verdades n�o s�o princ�pios dogm�ticos fixados, mas experi�ncias de vida a serem exploradas individualmente no cora��o do buscador espiritual: a nobre verdade do dukkha (sofrimento, insatisfa��o, tens�o: a vida � fundamentalmente cheia de insatisfa��o e decep��es de todo tipo; a nobre verdade da causa do dukkha: a causa dessa insatisfa��o � o tanha (desejo) em todas as suas formas; a nobre verdade da cessa��o do dukkha: um fim a toda a essa insatisfa��o pode ser encontrado atrav�s da ren�ncia e do abandono do desejo; a nobre verdade do caminho que leva � cessa��o do dukkha. Existe um m�todo de atingir o fim da insatisfa��o, conhecido como o nobre caminho das oito trilhas.

A cada uma dessas nobres verdades Buda atribuiu uma tarefa espec�fica que o praticante deve realizar: a primeira nobre verdade tem de ser compreendida; a segunda � para ser abandonada; a terceira deve ser percebida e a quarta desenvolvida. A percep��o total da terceira nobre verdade abre o caminho para a penetra��o direta do Nibbana (em s�nscrito, Nirvana), a liberdade transcendente que � a meta final de todos os ensinamentos de Buda. A �ltima das nobre verdades - o nobre caminho das oito trilhas - cont�m uma prescri��o para o al�vio de nossa infelicidade e de nossa eventual liberta��o definitiva do ciclo doloroso e triste do nascimento e morte (samsara), ao qual atrav�s de nossa ignor�ncia (avijja)sobre as quatro nobres verdades, estamos ligados h� incont�veis eras.

O nobre caminho das oito trilhas oferece um guia abrangente e pr�tico para o desenvolvimento dessas qualidades e habilidades integrais no cora��o humano que devem ser cultivadas para levar o praticante � meta final: a liberdade e felicidade supremas do Nibbana.

Quais s�o as oito qualidades que o homem deve desenvolver?
S�o elas: compreens�o correta, decis�o correta, fala correta, a��o correta, modo de vida correto, esfor�o correto, vigil�ncia correta. concentra��o correta. Na pr�tica, o Buda ensinou o nobre caminho das oito trilhas a seus seguidores de acordo com um sistema de treinamento gradual, come�ando com o desenvolvimento do "sila", ou virtude (fala correta. a��o correta, modo de vida correto, que s�o resumidos de forma pr�tica pelos cinco preceitos), seguidos do desenvolvimento do samadhi, ou concentra��o e cultivo mental (esfor�o correto, vigil�ncia correta e concentra��o correta, culminado no desenvolvimento do pa��a ou sabedoria (compreens�o e decis�o corretas) A pr�tica da "dana" (generosidade) serve como sustenta��o para cada passo ao longo do caminho, uma vez que ajuda o desenvolvimento de um cora��o compassivo e contrabalan�a as tend�ncias habituais do cora��o em dire��o ao desejo.

� verdade que Jesus Cristo teria sido um Buda em uma encarna��o anterior?
Essa afirmativa � totalmente infundada. O que est� provado historicamente � que Jesus Cristo foi � Gr�cia, onde aprendeu budismo. Depois voltou para Jerusal�m para ensinar.

Qual a import�ncia da pr�tica budista na vida atual?
Ele torna a vida pac�fica e feliz. As pessoas que realmente praticam o budismo s�o muito felizes. As pessoas que se denominam budistas e n�o praticam s�o infelizes.

O senhor acredita que � poss�vel ao homem alcan�ar o estado de ilumina��o conquistado por Buda?
Sim, acredito que seja poss�vel para o homem da era moderna atingir o esclarecimento se ele seguir o caminho correto.

Quais s�o os principais obst�culos � paz mundial?
Os principais obst�culo s�o a concorr�ncia para venda de armas e numerosos outros produtos, o fanatismo religioso, o expansionismo pol�tico, a gan�ncia, o �dio e a mentira.

Na sua opini�o, que virtudes faltam ao homem do final de s�culo?
A moral � a virtude que falta ao homem. Neste s�culo h� mais viol�ncia brutal, abuso de drogas, venda de armas, busca incontrol�vel do prazer, desrespeito �s religi�es, aos pais, professores, adultos e tratamento desumano ao pr�ximo. Tudo isso tem base no comportamento imoral.