Veado do Vento
Veado do Vento

O Veado do Vento e o Capim Melado (O desejo pelo sabor)

Muito tempo atrás, o rei de Benares tinha um jardineiro que cuidava de seu jardim real. Algumas vezes, apareciam animais por ali, vindos da floresta próxima. O jardineiro reclamava sobre isso com o rei, que dizia: “Se você vir algum animal estranho, me avise imediatamente”. Um dia, ele viu um tipo esquisito de veado no fim do jardim. Quando ele viu o homem, correu como o vento, por isso são chamados de “veados do vento”. Eles pertencem a uma raça rara extremamente tímida e são facilmente assustados por seres humanos.

O jardineiro contou ao rei sobre o veado do vento, que lhe perguntou se ele conseguia capturar o raro animal. Ele respondeu: “Meu senhor, se você me der um pouco de mel, posso trazê-lo até o palácio!”. Então, o rei ordenou que lhe fosse dado o tanto de mel que quisesse. Esse veado do vento, em particular, adorava comer as flores e as frutas no jardim real. O jardineiro mostrava-se aos poucos ao animal, para que ele ficasse menos assustado. Então, começou a esfregar mel no capim onde o veado do vento geralmente vinha comer. Como esperado, o animal começou a comer o capim com mel e logo desenvolveu um desejo pelo sabor do “capim melado””. O desejo fez com que ele voltasse ao jardim todos os dias. Em pouco tempo ele não comia mais nada!

Aos poucos, o jardineiro foi chegando mais perto dele. No começo ele corria, mas depois perdeu o medo e começou a achar que o homem não era perigoso. À medida que o jardineiro ficou mais e mais amistoso, eventualmente ele fez com que o veado comesse o capim melado em sua mão. Ele continuou a fazer isso por algum tempo para conquistar sua confiança. Enquanto isso, o jardineiro armou fileiras de cortinas, construindo um caminho largo do fim do jardim até o palácio. Do lado de dentro desse caminho as cortinas não deixavam o veado do vento ver outras pessoas que poderiam assustá-lo.

Quando estava tudo preparado, o jardineiro pegou um saco de capim e uma vasilha de mel e, quando o veado apareceu, começou a alimentá-lo com a mão. Aos poucos, ele conduziu o animal até o caminho cercado pelas cortinas e, vagarosamente, continuou a fazer isso até que chegar ao palácio. Dentro dele, os guardas palacianos fecharam as portas e o veado do vento foi pego. Ao ver as pessoas da corte, ele ficou muito assustado e começou a correr ao redor, tentando escapar de qualquer forma.

O rei veio até o saguão e viu o veado do vento tomado pelo pânico. Ele disse: “Que veado do vento! Como ele ficou nesse estado? Esse é um animal que não retorna a um lugar, por sete dias inteiros, no qual viu um humano. Geralmente, se ficar muito assustado num determinado lugar, não retornará a ele pelo resto de sua vida! Mas veja! Mesmo uma criatura selvagem tão tímida pode ser escravizada por seu desejo pelo sabor de algo doce. Assim, pode ser atraído até o centro da cidade e até mesmo para dentro do palácio. “Meus amigos, os professores nos alertam a não sermos tão apegados ao lugar onde vivemos, pois tudo passa. Eles dizem que sermos apegados a um pequeno círculo de amigos é confinador e restringe uma perspectiva mais ampla. Mas vejam o quanto é mais perigoso o simples desejo por um gosto doce ou qualquer outra sensação relacionada a isso. Vejam como esse lindo e tímido animal foi preso pelo meu jardineiro, que aproveitou seu desejo pelo sabor”.

Sem querer machucar o dócil veado do vento, o rei mandou soltá-lo na floresta. Ele nunca mais voltou ao jardim real nem sentiu saudade do sabor do capim melado.

Moral da história: “É melhor comer para viver do que viver para comer”.


Traduzido por Amandina Morbeck
com a permissão dos detentores do copyright
© 2013 Edições Nalanda

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