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A casta, que era assunto de vital importância para os brāhmaṇas da Índia, era de completa indiferença para o Buddha, que condenava fortemente o degradante sistema de castas. Em sua Ordem de Monges todas as castas se unem como os rios do mar. As pessoas perdem seus nomes, castas e clãs, e tornam-se membros de uma comunidade – a Sangha. Falando do igual reconhecimento de todos os membros da Sangha, o Buddha diz: “Assim como, ó monges, os grandes rios Gangā, Yamunā, Aciravati, Sarabhū e Mahi, chegando ao oceano, perdem seu nome prévio e identidade, e vêm a ser reconhecidos como o grande oceano, similarmente, ó monges, pessoas das quatro castas (vannas)… que deixam seus lares e tornam-se reclusos sem lar sob a Doutrina e a Disciplina declarada pelo Tathāgata, perdem seus nomes prévios e identidades, e são reconhecidos como reclusos que são filhos de Sākya” (Udāna 55). A posição buddhista com relação ao racismo e discriminação racial tornou-se explícita desde tão cedo que se reflete na posição tomada pela UNESCO no século atual (Declaração sobre Raça e Preconceito Racial, UNESCO 1978) [1].

Para Sundarika Bhāradvāja, o brāhmaṇa que lhe inquiriu sobre sua linhagem, o Buddha respondeu:

“Eu, brāhmaṇa, não sou príncipe, nem fazendeiro ou mais nada. Postos mundanos sei todos, sei e minha senda sigo simplesmente tal ninguém: sem lar, trajes peregrinos, sem cabelos por coroa, sereno, eu sigo só, saber-me a origem é vão” [2]. Numa ocasião um brāhmaṇa insultou o Buddha dizendo: “Pare, seu impuro! Pare, seu pária!” O Mestre, sem qualquer sentimento de indignação, gentilmente respondeu: “O nascimento não faz alguém pária, O nascimento não faz alguém brāhmaṇa; É a ação que faz alguém um pária, é a ação que faz alguém um brāhmaṇa”. (Sutta-nipāta, 142).

Ele então pronunciou todo um sermão, o Vasala Sutta, explicando ao brāhmaṇa em detalhes as características de alguém que é um pária (vasala). Convencido, o brāhmaṇa orgulhoso tomou refúgio no Buddha. O Buddha admitia livremente em sua Ordem pessoas de todas as castas e classes quando sabia que estavam prontos para viver a vida santa, e mais tarde alguns se distinguiram na Ordem. O Buddha era o único professor de seu tempo que se esforçava para misturar com tolerância mútua e concórdia aqueles que até então haviam sido separados pelas diferenças de casta e classe. Upāli, que era a autoridade chefe no Vinaya – as regras disciplinares da Ordem – era um barbeiro, considerado como uma das ocupações mais vis das classes baixas. Sunita, que mais tarde alcançou o estado de arahat, era um catador, outra ocupação baixa. Na Ordem das Monjas estavam Punnā e Punnikā, ambas escravas. De acordo com a senhora C. A. F. Rhys Davids, 8.5% do número daquelas monjas que eram capazes de perceber os frutos de seus treinamentos eram saídas das castas desprezadas, que eram na maioria iletradas [3].

 


[1] P. D. Premasiri. The Buddhist Concept of a Just Social and Political Order. Young Buddhist, Cingapura.

[2] Sn. 455, 456. Tradução de Chalmer (Harvard Oriental Series).

[3] Ver G. P. Malalasekera e K. N. Jayatilleke. Buddhism and the Race Question (Wheel 200/201).

 

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