por Ven. S. Dhammika

A doutrina central do Dhamma do Buddha é o kamma, a ideia de que cada pensamento intencional, palavra ou ação tem um efeito correspondente. Algumas explicações sobre o kamma dão a impressão de que é uma espécie de força do universo sem ligação com o indivíduo e com o que está fora dele. Isso não é correto. O Buddha diz: “Eu digo que a intenção (cetana) é kamma, pois tendo a intenção, ele pensa, fala ou age” [1]. A mente é tal que atos intencionais negativos têm efeitos negativos e ações positivas têm efeitos positivos.

Positividade quer dizer sentimentos positivos (paz, alegria, gozo, contentamento, satisfação, etc.) e negatividade significa sentimentos negativos (arrependimento, ansiedade, raiva, defensividade, vergonha, preocupação, etc.). Noções tais como a de que se você esbofetear o rosto de alguém você nasceria com uma horrível cara vermelha ou se você xingar nascerá com mau hálito na próxima vida são ridículas embora sejam crenças amplamente disseminadas. Kamma é um fenômeno psicológico e seus efeitos são psicológicos também.

A ideia de que os efeitos do kamma sempre se manifestam na próxima vida também está errada. A maior parte dos atos intencionais provavelmente têm seu resultado imediatamente, ou logo após, ou pelo menos na vida presente. Outro mal-entendido sobre o kamma é que se trata de castigo e recompensa. Se falarmos de “recompensa” em termos do kamma, isso é o do sentimento de satisfação quando você faz algo bem, ou se falarmos de “punição” isso é o que ocorre quando queimamos a mão quando pegamos uma panela ardente no fogão. Kamma é simplesmente sobre causas psicológicas e seus efeitos.

Então, o que se entende por positivo e negativo? Positivo, bom ou habilidoso (kusala) é a qualidade de ser eticamente útil, hábil e favorável à iluminação, enquanto negativo, ruim ou inábil (akusala) é o oposto disso. Junto com as consequências kâmmicas, o Buddhismo utiliza três princípios para determinar o valor ético de qualquer comportamento:

(1) O princípio instrumental é a ideia de que alguma coisa é hábil se ela auxilia no alcance de um objetivo particular; e inábil se ela não auxiliar no alcance desse objetivo. Portanto, tudo o que é favorável aos objetivos primários ou secundários do Buddhismo pode ser dito como sendo bom.

(2) O princípio consequencial é a ideia de que podemos determinar o valor de um ato pelas suas consequências. Roubar, por exemplo, conduz ao incomodo, à raiva, e alimenta a desconfiança na vítima. Isso reforça a ganância e a falta de coibição no ladrão (se não capturado), e pode acabar em punição (se capturado). Tudo isso é negativo e, portanto, roubar é errado.

(3) O princípio da universalização é a ideia de que podemos determinar o valor de algo conhecendo como nos sentimos em relação à isso e, em seguida, aplicar isso para os outros. Eu gostaria de alguém para me ajudar quando estou em apuros. Posso deduzir que os outros sentem o mesmo e, portanto, quando vejo alguém em apuros eu tento ajudá-lo. No Cristianismo este conceito é chamado a Regra de Ouro.

Do ponto de vista buddhista, portanto, é uma generalização perigosa dizer que a homossexualidade em si é imoral ou errada. Para mencionar algo significativo sobre isso seria necessário uma familiarização com os seus motivos, os comportamentos envolvidos, os seus efeitos, e assim por diante, e isso seria diferente de um indivíduo para outro.

Muitos homossexuais estão envolvidos no que é às vezes chamado de “cultura gay” – uma preocupação com sexo, promiscuidade, drogas e álcool, etc., algo que o Buddhismo veria como contraproducente aos objetivos do Dhamma. É provável que uma quantidade equivalente de homossexuais evite tais comportamentos e, em todos os aspectos, senão a atração pelo mesmo sexo, não são diferentes de outros indivíduos comuns. Um número significativo está em relacionamentos marcados pelo amor, fidelidade e compartilhamento mútuo. O Buddhismo veria tal estilo de vida como conducente ao Dhamma seja ele entre homossexuais ou heterossexuais. Parafraseando um recente comentário feito por um professor buddhista conhecido – a pergunta não é se você é homossexual, mas que tipo de homossexual é você.

Notas

[1] Anguttara Nikāya III, 415

 


Traduzido pelo Grupo de Tradução do Centro Nalanda
em acordo com o autor
Para Distribuição Gratuita
© 2015 Edições Nalanda

Nota: Este artigo é parte da série Buddhismo e as questões LGBT que está sendo traduzida e cujas partes serão publicadas aqui no site.


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