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Phra Paisal VisaloPhra Paisal Visalo sugere vias práticas de como cultivar a felicidade em nossas vidas.

Todos desejam a felicidade. O que quer que desejemos, seja boa saúde, sorte, riqueza, amor, sucesso ou não enfrentar situações difíceis, tudo isso consiste de manifestações de felicidade.

Infelizmente, usualmente descobrimos que a felicidade tem vida curta e é rara de ser encontrada. Então partimos para um outro desejo. Como podemos encontrar a felicidade para sempre.

Phra Paisal Visalo diz que a ironia é que quanto mais lutarmos pela felicidade mais longe estamos dela. Para alcançar a felicidade genuína temos de parar e ter tempo para nós próprios para embarcar numa viagem interior e descobrir a fonte de felicidade, diz o monge. Ele acredita que as chaves da felicidade estão já em nossas mãos.

A felicidade é intrinsecamente natural em nós. Vive no nosso coração. Nós não a reconhecemos porque concedemos muito pouco ou mesmo nenhum tempo para contemplar a vida. Com a vida na faixa rápida, dificilmente vemos quem somos, o que é essencial para o nosso viver, o que verdadeiramente queremos na vida”, disse Phra Paisal no lançamento de Kam Kor Tee Ying Yai, que ele escreveu com Arthit Yam Chao.

“Nossa visão de que a felicidade está lá fora e deve ser encontrada nas pessoas, bens materiais, fama, posições, prêmios, impede-nos de ver a verdade”, ele acrescentou. “Felicidade não tem a ver com conquistar ou manter o status quo. É sobre sentimento e ser feliz”.

O primeiro passo pode ser cultivar a ideia de que a felicidade não é eterna. “Como tudo na natureza, a felicidade muda e acaba. Se pudermos aceitar esta lei da impermanência, seremos permanentemente felizes”.

A felicidade não pode ser comprada ou consumida, disse Phra Paisal. Ela vem para nós quando aprendemos a deixar ir nosso egoísmo, cobiça e desejo de possuir coisas, incluindo a felicidade. “Quando pararmos de exigir que a natureza, as pessoas e as coisas sejam como queremos, então seremos capazes de experimentar a doçura da alegria”.

O apego é a raiz de nossos sofrimentos, disse Phra Paisal. “Nós nos prendemos tanto ao ‘eu’ e ‘meu’ que somos escravizados por tudo o que agarramos. Por exemplo, quando alguém mancha ou arranha o ‘meu’ carro, é como se ‘eu’ estivesse manchado e arranhado. Nesse sentido, o ‘eu’ se tornou o carro.

“Se aliviamos a ênfase no ‘meu’ carro, então, sim, o carro está avariado, mas não a nossa mente”, ele disse.

O grau do nosso sofrimento é relativo ao tamanho do nosso “eu”. Quanto maior nosso ego, maior nosso sofrimento, Phra Paisal disse. Enquanto o Buddhismo nos ensina a sermos “ninguém”, a sociedade consumista nos encoraja a ser “alguém”, levando-nos a buscar dinheiro, fama, posição, riqueza e poder.

O ‘grande’ ego se torna um alvo fácil onde o sofrimento pode acertar sem falta. Por exemplo, pode-se ir a um restaurante e ficar incomodado por não ser servido prontamente. Ou, se você julga que é ‘alguém’, você não gostará de ter que entrar na fila para ser atendido.

Quando somos irritadiços ou arrogantes, estamos nos separando dos outros. É esta separação que nos bloqueia do fluxo de felicidade”.

Resumindo, Phra Paisal disse que o que devemos fazer para tornar real a felicidade é apagar nosso ego, que nos traz egoísmo e separação. Ele nos estimula a ser “um barco vazio”, que não é afetado pela subida ou pela descida da maré. “Em última instância, a suprema felicidade vem quando não há ‘alguém’ que seja apegado aos sofrimentos ou à felicidade”.

Para esse fim, o monge oferece conselhos práticos. Por exemplo, diga: ‘Desculpe’ e ‘Deixa pra lá’. Nós não somos anjos. Sendo seres humanos é natural para nós que sejamos imperfeitos e dados a cometer erros, diz Phra Paisal. Mas nestes dias, continuou ele, dizemos ‘desculpe’ poucas vezes e demasiado tarde. Consequentemente, vivemos inexoravelmente em rixas em casa, no trabalho e na sociedade em geral.

Por exemplo, “desculpas” de médicos poderiam evitar relações de médico e paciente pararem nos tribunais. “Desculpas” do governo podem ajudar a curar os corações feridos dos muçulmanos no sul do país, os quais sentem que a justiça não está sendo feita. Um pedido de desculpas poderia parar a situação antes de se tornar tão violenta. “Desculpas” ditas por pais podem evitar que os filhos acabem em centros de detenção juvenil.

“Desculpe”, disse Phra Paisal, parece ser a palavra mais difícil porque a associamos com fracassos, erros, incompetência e fraquezas, que sentimos que não devemos mostrar a outros.

“Quando nós pedimos desculpas, não estamos perdendo nossa reputação. Estamos a perder a ignorância. É um ato nobre; mostra a nossa humildade e compaixão de sentir o sofrimento dos outros”, disse o monge.

É preciso compreensão e coragem para pedir desculpas, ele acrescentou. “Cada um tem que retirar muitos chapéus pesados que usam, como educação, superioridade em idade, experiência, ranking, posição social, e somente se relacionar uns com os outros como colegas humanos”.

Quanto mais cedo alguém se desculpa, mais rapidamente ela consegue resolver conflitos e restaurar os relacionamentos. Mais importante que tudo, Phra Paisal enfatiza, ela é uma ferramenta perfeita para remover o ego da pessoa.

“Quando sentimos e pedimos desculpas de forma sincera, nossa mente torna-se leve e liberada. Mas se teimamos, resistindo em nossos erros, prejudicamos a nós mesmos. Nosso coração torna-se endurecido e frio, nosso ego se fortalece e, dessa forma, nossos sofrimentos se aprofundam”.

Um pedido de desculpas, de perdão, também abre nosso coração para se livrar da raiva, ressentimento ou tristeza que nos colocam para baixo. Às vezes, não se pode evitar pessoas que nos ferem com seus atos e palavras. Assim, é fundamental que aprendamos a cultivar um espírito de perdão, disse Phra Paisal. “Todos nós podemos cometer erros, assim, todos nós precisamos de perdão”.

Quanto mais cedo alguém perdoa, ele disse, mais cedo será feliz.

Diga ‘obrigado’ e ofereça elogios.

“Obrigado”, ele disse, não é apenas uma cortesia social. Quando proferido do coração pode promover a nossa felicidade também. Como? Porque é preciso otimismo e humildade para dizê-lo.

Aqueles que são difíceis de agradar ou se veem acima dos outros podem achar difícil apreciar ou ver a bondade e a contribuição dos outros, disse Phra Paisal. Eles podem ver apenas as falhas e apenas reclamar e criticar, em vez de elogiar. Desta forma, é provável que se sintam chateados, insatisfeitos, frustrados e muito distantes de serem felizes.

Ser capaz de agradecer a alguém ou alguma coisa exige perspectivas verdadeiras e positivas. Essa visão pode ser cultivada e treinada, disse Phra Paisal. Apreciar as pequenas coisas da vida, as pequenas coisas que as pessoas fazem ou nos dizem, irão trazer-nos alegria e fazer-nos sorrir.

E ainda mais importante, Phra Paisal disse que uma perspectiva externa aguçada nos ajudará a passar por tempos difíceis. “Essa inclinação pode nos ajudar a ver o lado positivo do sofrimento e tornar uma situação crítica controlável e não tão miserável”.

Aprenda com o sofrimento

Phra Paisal nos encoraja a pegar o touro pelos chifres: “Seja feliz quando vem o sofrimento, já que ele nos proporciona a chance de nos livrarmos do nosso ego”, ele disse.

Sofremos porque nos apegamos ao sofrimento, ele acrescenta.

Há dois tipos principais de situação que nos fazem sofrer, explicou o monge. A primeira é a perda de algo que amamos e desejamos. Quando perdemos pessoas, coisas, posições ou circunstâncias que preferimos, nos tornamos tristes e bravos.

A segunda situação que nos faz sofrer é encarar o que odiamos, sejam pessoas de quem não gostamos, dor física ou emocional, críticas, fracasso ou decepção.

“Quando confrontados com essas situações, não tentem repeli-las ou negá-las.  Quando sofrerem, tentem ver que isso não é ‘você’, mas o ‘eu’, as ‘ilusões’ que são o sofrimento. Vocês precisam permitir que essas ilusões sofram para que possam domá-las. As coisas não aparecem de acordo com a vontade de vocês, aceitem-nas com humildade do jeito que vêm”.

Ofertar-se um tempo a si mesmo

É impossível ser verdadeiramente feliz quando se está sempre em fuga. Para realizar a felicidade, Phra Paisal diz que precisamos ir mais devagar e dar-nos mais tempo para a solidão. Ele nos aconselha a tirar uma folga a cada dia para instalar a felicidade em nossos corpos e mentes.

Infelizmente as pessoas estão sempre desperdiçando tempo, o seu e o dos outros. Nossa atenção pode estar dispersa entre várias coisas – agendas, encontros, trabalho e outras atividades – tornando difícil para nós focalizarmos em aspectos realmente importantes na vida, tais como o que realmente constitui a felicidade.

Finalmente, Phra Paisal deseja que nós nos afastemos de ser “alguém” que sente felicidade ou sofre. “Então, vocês alcançarão a felicidade permanente”.

Phra Paisal Visalo é abade do Wat Pasukato na província de Chaiyaphum na Thailândia. Esteve envolvido com o ativismo estudantil e a proteção de direitos humanos antes de ser ordenado monge em 1983. Foi o cofundador do Sekiyadhamma, uma rede de monges socialmente engajados de todo o país. Além de escrever e editar livros sobre ambientalismo e Buddhismo, ele também dá cursos de não-violência e meditação. Ele foi recentemente agraciado com o Asian Public Intellectual Fellowship da Nippon Foundation (wikipedia).


 

Traduzido pelo Grupo de Tradução do Centro Nalanda
com a permissão do autor

© 2012 Edições Nalanda



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