Buddhadasa Bhikkhu - Trechos de sua obra


Ajahn Buddhadasa

Comentados nas Folhas no Caminho:

Dhamma & Paz
Dever
Dhamma-Vinaya
Quatro Dimensões do Dhamma I
Quatro Dimensões do Dhamma II
Quatro Dimensões do Dhamma III
Funções do Dhamma
Linguagem
Vida Melhor

Poemas Éticos de Buddhadasa Bhikkhu

Trechos de livros:

de Heartwood of the Bodhi Tree: O tema do "eu" e do "meu", ego e egoísmo, é o tema essencial e único do Buddhismo. O sentido de "eu" e "meu" é aquilo que deve ser eliminado completamente. E segue-se daí que deste princípio jaz a sabedoria, a compreensão e a prática de todos os ensinamentos do Buddha, sem exceção.
Conhecendo a causa fundamental de dukkha, você será capaz de extingui-la. E a causa fundamental de dukkha é a ilusão, o entendimento incorreto de que há um "eu" e um "meu".

de Teachings for the Ordained: E no que se refere a isto que se chama dhamma ou sasana (religião), ela existe de modo a ser um refúgio para as pessoas do mundo. Não quero que as pessoas boas descartem o mundo, mas quero que as pessoas vivam no mundo beneficamente e sem sofrimento.

de Handbook for Mankind: Os ocidentais são extremamente interessados no Buddhismo como Arte de Viver, e discutem este aspecto mais que qualquer outro. É preciso penetrar tão profundamente na essência real do Buddhismo que sejamos capazes de tomá-lo como guia de vida, o que induz ao bom humor e à alegria, dispersando a depressão e a desilusão. Afasta também temores como o medo de que o completo abandonar das impurezas espirituais tornará a vida seca, triste e completamente desprovida de sabor, ou o medo de que a completa libertação do apego tornará todos os pensamentos e ações impossíveis; enquanto que na realidade, uma pessoa que organiza sua vida de acordo com a Arte de Viver buddhista é vitoriosa sobre todas as coisas. Sejam estas coisas animais, pessoas, possessões ou qualquer outra coisa e não importando que entrem em sua consciência por meio dos olhos, ouvidos, nariz, língua, corpo ou mente, elas entrarão como perdedoras, incapazes de o obscurecerem, mancharem ou perturbarem. A conquista da vitória sobre todas as coisas é a bênção genuína.

de Legados: Todos podem ser um Buddhadasa (Servo do Buddha), se assim desejarem com um coração puro; apenas sirvam à propagação do Buddhismo tornando-se um exemplo na prática e no viver feliz, de modo que os outros possam ver e seguir. Para todos os Servos do Buddha, Três Votos são apropriados para serem tomados como padrão para a realização de seu dever em benefício do mundo: 1. Esforcem-se para compreender a essência de sua própria religião; 2. Esforcem-se para ajudar uns aos outros a se libertarem do poder do materialismo; 3. Esforcem-se para criar um mútuo entendimento entre todas as religiões.

de Paticcasamuppada: A Lei da Originação Interdependente é um tema profundamente entranhado. Ela pode ser apropriadamente comparada com o coração ou essência do buddhismo. E isto necessariamente, por si só, dá origem a problemas que por sua vez se tornam um perigo para o buddhismo, supondo que, por exemplo, os seguidores do Buddha não obterão proveito deste ensinamento essencial. Quando o venerável Ananda disse ao Buddha que ele, Ananda, pensou que a Originação Interdependente era um assunto fácil e superficial, o Buddha replicou: "Ananda! Ananda! Não diga tal coisa! Nunca diga tal coisa! Paìiccasamuppäda é um ensinamento profundo. Profundidade é a sua característica típica. Os vários grupos de seres sencientes não entendem o que nós ensinamos sobre isto; eles não estão aptos a penetrar a Lei da Originação Interdependente e desta forma suas mentes estão confusas como uma bola de barbante que se embaraça e fica cheia de nós; tal como um amontoado de pedaços embaraçados de pequenos fios; tal como uma moita de capim ou de juncos que não recebe cuidados, ficando toda enroscada e entrelaçada; assim são aqueles seres iludidos e incapazes de se libertarem da roda da existência, das condições de sofrimento, dos estados de inferno e ruína".

de Sejamos Todos Buddhadasas: Como é que servimos? Servimos estabelecendo a correção no estudo (pariyatti) e na prática (patipatti), o que nos conduz à total realização (pativedha) do Dhamma. Servimos ao ajudar nossos camaradas humanos a entenderem o Dhamma, a aceitarem o Dhamma, a utilizarem o Dhamma, a beneficiarem-se do Dhamma, e a viverem - aqui e agora, e de modo pacífico e despreocupadamente - com o NibbŒna, na proporção da sabedoria vigilante e habilidade de cada pessoa. Servimos ao propagar esta sabedoria por todo este mundo e para todos os mundos. Por 'todos os mundos' entende-se aqui todos os tipos de pessoas que se perderam devido a indulgência na sensualidade, nas formas físicas e materiais, e nas coisas sem forma e abstratas, tais como o poder, o destino, a influência e, até mesmo, a bondade. Talvez devêssemos também incluir todos os seres celestiais e humanos. Humanos são aqueles que devem viver por meio de seu próprio suor, enquanto que os seres celestiais nem mesmo experimentam a própria transpiração. Na linguagem comum, "mundo" representa o planeta físico, externamente visível, exterior a nós mesmos. Na linguagem do Dhamma, refere-se aos mundos interiores das pessoas, isto é, aos diferentes níveis e esferas mentais. O Dhamma deve regular ambos, de modo genuíno e perfeitamente, o mundo e todos os mundos.

de 24 Dimensões do Dhamma: Descobriremos que o dhamma é comparável à sombra de uma árvore, que oferece proteção dos raios do sol e refresca as pessoas, especialmente os viajantes após uma longa jornada. A batalha do homem na vida, desde o nascimento até a morte, pode ser comparada a uma jornada. Inicia-se a grande jornada com o seu nascimento, prosseguindo na companhia de seus desejos, até o final de sua vida. Durante tão longa expedição, qual sombra ele escolherá como um abrigo? A resposta aqui é: não há outro abrigo tão bom quanto o dhamma. Contudo, deve-se estudar e aprender como fazer do dhamma uma sombra para sua vida, através de sua jornada, desde o início até o final. Seria uma pena se alguém recorresse a outra coisa senão o dhamma, visto que o melhor frescor pode ser encontrado apenas sob a sombra do dhamma.

de 48 Respostas Sobre o Buddhismo: "Viver corretamente" realmente tem um significado próprio. Viver corretamente é simplesmente manter condições tais de modo que as impurezas mentais não possam obter nutrição, nem se desenvolverem. Assim, não é nada mais que viver todo o tempo com uma mente que é livre e vazia (cit waang), isto é, uma mente que vê todo o mundo como algo vazio e não agarra ou segura qualquer coisa como sendo um eu ou pertencendo a um eu. Assim, apesar de continuar a falar, pensar e agir; procurar, usar e consumir coisas; não passará pela mente do indivíduo agarrar qualquer coisa como sendo um eu. Simplesmente aja com atenção constante, aja sabiamente, aja com insight com relação às circunstâncias nas quais se está envolvido - isto é que é "viver corretamente". Em outras palavras, viver corretamente é viver de tal modo que as impurezas não tenham meios de surgir ou obter nutrição.

da A Causa do Sofrimento: A ignorância leva as pessoas a identificar o sofrimento como prazer numa extensão tal que elas apenas nadam em círculos num mar de sofrimento. Isto as leva também a identificar erroneamente a causa do sofrimento, de modo que culpam as coisas erradas, espíritos, seres celestiais ou qualquer coisa como a causa de sua dor ou desgraça, em vez de corrigir a situação pelos meios corretos. O fazer votos para esses espíritos e seres celestiais é uma manifestação do mais baixo nível de ignorância relativa à completa eliminação do sofrimento por meio da eliminação da cobiça que é a sua causa direta. A errada suposição de que a felicidade, a tranqüilidade ou a inconsciência desenvolvida pela concentração profunda é a completa extinção do sofrimento, era comum no tempo do Buddha, e ainda é propagada nos dias presentes.

de Felicidade no Dhamma: Este último Brahma Vihara é freqüentemente uma fonte de confusão. Uppekha quer dizer 'olhar para', 'observar, 'vigiar'. Algumas pessoas pensam que isto significa fechar nossos olhos e não prestar atenção, ser indiferente. Isso é tolo e não tem nenhum valor ou benefício. Uppekha quer dizer 'olhar para', 'observar'. Se todos no mundo continuassem procurando oportunidades para ajudar aos outros, oportunidades para servir, então não haveria nenhuma destas crises de hoje. Então, por favor, sejam especialmente interessados por uppekhŒ, olhando, buscando por oportunidades em ajudar e servir.

de Socorro! Kalama Sutta, Socorro!:Não acredite em algo somente porque se tornou uma prática tradicional. Os indivíduos tendem a imitar aquilo que outros realizam e a transmitir este hábito adiante, assim como ocorreu na história do coelho aterrorizado pela queda de uma fruta-manga ao chão (como na estória 'Chicken Little's Falling Sky'). Assim que os outros animais perceberam o coelho correndo em grande velocidade, eles também se aterrorizaram e passaram a segui-lo no mesmo ritmo. A maioria deles acabou morrendo ao despencar lentamente de um alto despenhadeiro. Qualquer prática vipassana (insight) que apenas imite outras e que apenas siga as tradições obterá resultados similares.

de Nibbana para Todos: Nas escolas ensinam às crianças que Nibbana é a morte de um Arahant. Ao adulto comum ensina-se que Nibbana é uma cidade especial destituída de dor e de sofrimento, plena de felicidade obtida através dos desejos satisfeitos e supostamente acessível após a morte por aqueles que acumularam perfeições (parami) no decorrer de dezenas de milhares de existências. Cientistas sociais modernos consideram o Nibbana como um obstáculo ao progresso e uma questão com a qual não deveríamos nos envolver e sequer examinar. Os estudantes em geral consideram o Nibbana um assunto sem qualquer relevância para eles e uma matéria de competência exclusiva de devotos idosos freqüentadores de templos. Os jovens acreditam que o Nibbana seja insípido e desestimulante e, além disso, terrível e assustador. Todos os candidatos ao monasticismo apenas balbuciam sem compreender o voto "Que eu possa entrar no caminho rumo ao despertar para o Nibbana." Os monges idosos afirmam que, tanto quanto o Nibbana não pode mais ser alcançado nos dias atuais, um Arahant não pode mais existir. Finalmente, o Nibbana tornou-se um segredo com o qual ninguém mais se importa. Ele foi transformado em algo enfadonho e silencioso, enterrado nas escrituras e reverenciado de vez em quando nas pregações embora ninguém realmente saiba o seu significado.

de Pontos Essenciais dos Ensinamentos Buddhistas: O Buddha se negou a tratar daquilo que não levasse à extinção de Dukkha. Pegue a questão de haver ou não renascimento. O que renasce? Como se renasce? Qual é sua herança cármica? (kamma é um ato da vontade feito por meio físico, verbal ou mental.) Essas questões não estão voltadas para a extinção de Dukkha. Dessa forma, elas não são ensinamentos buddhistas e não estão conectadas a eles; não fazem parte do campo de ação do Buddhismo. Além disso, aquele que faz esse tipo de perguntas não tem outra escolha a não ser acreditar na resposta que lhe for dada, porque aquele que responde não conseguirá fornecer nenhuma prova; ele falará de acordo com sua memória e sentimento. O ouvinte não pode ver por si mesmo e tem de acreditar cegamente na palavra do outro. Aos poucos o assunto desvia-se do Dhamma até que se transforma em outra coisa, desconectada da questão da extinção de Dukkha.