~ Ajahn Chah ~
[1] Certa noite, durante uma reunião informal em sua residência, o Mestre disse: “Ao escutar o Dhamma, você deve abrir seu coração e se colocar em seu centro. Não tente acumular o que ouve ou aplicar um esforço para reter algo na memória. Apenas permita o Dhamma fluir dentro do seu coração a medida em que se revela, e mantenha-se continuamente aberto ao fluxo do momento presente. O que estiver pronto para ser retido, ficará. Isso acontecerá por conta própria, não através de aplicado esforço da sua parte.
Similarmente, ao explicar o Dhamma, não deve existir esforço. O Dhamma deve fluir espontaneamente a partir do momento presente, de acordo com as circunstâncias. É estranho, mas as vezes pessoas vêm até mim sem demonstrar aparente desejo por ouvir o Dhamma, e simplesmente acontece. O Dhamma flui sem esforço algum. Então, noutras vezes, as pessoas parecem completamente interessadas em escutar. Elas até pedem formalmente por um discurso e, então, nada! Simplesmente não acontece. O que se pode fazer? Eu não sei o porquê, mas sei que as coisas acontecem dessa maneira. É como se as pessoas tivessem diferentes níveis de receptividade e, quando todos estão no mesmo nível, as coisas apenas acontecem.
Se você deve explicar o Dhamma, a melhor maneira de fazê-lo é não pensando sobre isso. Simplesmente esqueça. Quanto mais você pensar e tentar planejar, pior será. Difícil, não? Algumas vezes quando você estiver fluindo suavemente, acontecerá uma pausa e alguém lhe fará uma pergunta. Então, de repente, vai-se numa direção completamente nova. Parece existir uma fonte ilimitada que nunca se esgota.
Eu acredito sem dúvida na habilidade do Buddha de saber o temperamento e a receptividade de outros seres. Ele usava este mesmo método de ensino espontâneo. Não que ele precisasse de algum poder super humano, mas ele era sensível a necessidade das pessoas ao seu redor e, assim, ensinava adequadamente. Uma demonstração de sua espontaneidade ocorreu certa vez quando, após palestrar sobre o Dhamma para um grupo de discípulos, o Buddha perguntou se estes já haviam escutado aqueles ensinamentos anteriormente, ao que responderam que não. Ele, então, diz que ele mesmo nunca o havia escutado antes.
Apenas continue sua prática independente do que estiver fazendo. A prática não depende da sua postura, sentada ou andando. Mais: ela é a contínua conscientização do fluxo de sua própria consciência e sensações. Não importa o que aconteça, harmonize-se e esteja sempre alerta a esse fluxo”.
Mais tarde, o Mestre continuou: “Praticar não é se mover para frente, embora exista avanço. Ao mesmo tempo, não é se mover para trás, embora exista recuo. E, finalmente, não é parar e não se mover, embora exista a pausa e a inércia. Portanto há avanço e recuo, tanto quanto há imobilidade, mas você não pode dizer que é um desses três. A prática eventualmente chega num ponto no qual não existe avanço, nem recuo, nem mesmo imobilidade. Que ponto é esse?”
Noutra ocasião informal, ele disse: “Para definir o buddhismo sem muitas palavras e frases, podemos simplesmente dizer: “Não se apegue ou se agarre a algo. Harmonize-se à realidade, com as coisas do jeito que elas são”.
Notas:
[1] Dado em setembro 2521 (1978), em Wat Nong Pah Pong.
Traduzido por Luiz Gustavo Gonçalves
com a permissão dos detentores do copyright
© 2018 Edições Nalanda
Nota: “Os Ensinamentos de Ajahn Chah” consiste de uma coletânea de ensinamentos dados por um dos mais importantes mestres da tradição das florestas da linhagem Theravada da Tailândia.
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