Antiga Nalanda

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História Antiga de Nalanda


nalanda_conf_056.jpg“As ruínas dos antigos estabelecimentos buddhistas de Nalanda ficam bem perto do vilarejo de Bargaon, a 90 quilômetros a sudeste de Patna (capital do estado de Bihar) e a 11 quilômetros ao norte de Rajgir, a antiga Rajagrha. A área foi santificada pelo Bhagawan Buddha. De acordo com Taranatha, Asoka, o grande imperador Maurya do terceiro século a.C., fez oferendas ao chaitya de Sariputra que existiam em Nalanda e erigiu um templo lá; Asoka, portanto, pode ser considerado o fundador do Nalanda-vihara. Nagarjuna, o famoso filósofo e alquimista Mahayana de cerca do segundo século d.C., começou seus estudos em Nalanda e, mais tarde, tornou-se seu abade principal. Suvishnu, um contemporâneo de Nagarjuna, construiu 108 templos em Nalanda. Alguns outros mestres proeminentes conectados com Nalanda foram Aryadeva (começo do quarto século), Asanga (quinto século) e seu irmão Vasubandhu”.

Nalanda sob os Guptas

nalanda_conf_059.jpg“Apesar de Nalanda ter sido um famoso centro de Buddhismo por séculos antes dos reis Gupta, as descobertas mais antigas que podem ser datadas são a placa de cobre de Samudragupta e uma moeda de Kumaragupta. Sakraditiya, Buddhagupta, Tathagatagupta, Baladitya e Vajra construíram mosteiros em Nalanda nos quinto e sexto séculos. Fa-hsien (atualmente grafado como Faxian pelos especialistas chineses), o peregrino chinês do começo do quintoséculo, menciona a vila de Nalo, o lugar de nascimento e morte de Sariputra, e uma stupa lá existindo. Este local é aparentemente idêntico a Nalanda. O grande astrônomo Aryabhatta, nascido em Kusumaputra (moderna Patna) em 476 d.C. escreveu sua famosa obra Aryabbhattiya na idade de 23 anos e permaneceu em Nalanda por um longo tempo. Ele foi o primeiro indiano a reconhecer a forma esférica da terra e o fato de que girava em torno de seu eixo. Ele atribuiu um valor correto a pi com a exatidão de quatro casas decimais, bem como resolveu problemas aritméticos e outros.

Nalanda sob Harsha

nalanda_conf_060.jpg“Hsuan-tsang (atualmente grafado como Xuanzang pelos especialistas chineses) viu em Nalanda uma imagem de Buddha feita de cobre de 24 metros, erigida por Purnavarman no começo do sexto século. O ilustre Harshavardhana de Kanauj (606-647) muito ajudou o Nalanda mahavihara. Construiu um monastério em latão que estava em construção quando da visita de Hsuan-tsang ao local. Harsha estabeleceu ‘as taxas de cerca de cem vilarejos como presente ao mosteiro e duzentas pessoas destas vilas contribuíram com o requerido volume de arroz, manteiga e leite’. Os estudantes não precisavam esmolar por seu alimento diário. Harsha reverenciou muito os monges de Nalanda e chamou a si mesmo de seu servo. Cerca de mil monges de Nalanda estavam presentes na congregação real em Kanauj”.
Nota: na foto, vocês podem notar vários ‘quadrados’, os quais são os quartos dos monges-alunos de Nalanda.

Hsuan-tsang em Nalanda

nalanda_conf_061.jpg“Hsuan-tsang partiu da China em 627 d.C. e retornou em 645 d.C. Viajou 10.000 milhas e passou 10 anos na Índia. Ele foi muito calorosamente recebido em Nalanda e estudou com o grande filósofo Silabhadra. Na época, a Universidade possuia mais de 1.500 professores, cuidando e guiando 10.000 alunos. Os cursos de estudo incluíam escrituras das escolas Mahayana (novas) e antigas, textos brahmânicos como os Vedas e temas seculares como hetu-vidya (lógica), sabda-vidya (gramática), chikitsa-vidya (medicina), sadagama-kala, escultura, kosa, pintura, metalurgia e silpa-sastra. A Universidade tinha três grandes bibliotecas: Ratnasagara, Ratnaranjaka e a Ratnodadhi de nove andares.

Além de descrever os vários mosteiros e templos que lá encontrou, Hsuan-tsang fez uma longa lista de outros monastérios e stupas que visitou. Carregou consigo 657 sutras de volta para a China e traduziu muitos deles do sânscrito para o chinês. No seu retorno, estabeleceu sua própria escola de pensamento buddhista.

Nalanda já havia adquirido nessa época uma celebridade espalhada por todo o oriente como um centro de estudos profundos buddhistas e de atividades educacionais. Dentro do pequeno período de trinta anos desde a partida de Hsuan-tsang, nada menos que onze viajantes chineses e coreanos foram registrados como tendo visitado Nalanda”.

I-tsing

nalanda_conf_062.jpg“I-tsing (atualmente grafado como Yijing pelos especialistas chineses), outro famoso peregrino chinês, alcançou a Índia em 673 e estudou em Nalanda por um tempo considerável. Ele registrou detalhes minuciosos da vida dos monges de Nalanda cujo número excedia 3.000. O currículo, além das escrituras buddhistas, incluía lógica, metafísica e um estudo extenso de gramática sânscrita. Os monges observavam estritas regras de disciplina”.

Sob os Palas

nalanda_conf_063.jpg“Os imperadores Pala se mantiveram no poder na Índia oriental do oitavo ao décimo-segundo século e foram grandes patronos do Buddhismo Mahayana. Estabeleceram outros monastérios em Vikramasila, Somapura, Odantapura e Jagaddala. E continuaram sendo generosos em suas doações a Nalanda”.

Eruditos Eminentes

“Após Vasubandhu, os abades supremos de Nalanda foram cronologicamente Dignaga, Dharmapala, Silabhadra, Dharmakirti, Santarakshita e Padmasambhava. Nalanda conseguiu atrair os melhores eruditos buddhistas, cuja fama percorreu terras longínquas”.

O fim de Nalanda

nalanda_conf_064.jpg“O Buddhismo estava gradualmente decaindo quando da visita de Hsuan-tsang. Centros importantes do Buddhismo antigo estavam desertos, embora alguns novos centros como Nalanda, Valabhi (a oeste) e Kanchi (ao sul) progredissem. Após algum tempo, o Buddhismo florescia apenas em Bihar e Bengala. Entretanto, vagarosamente o Buddhismo passou a tornar-se embebido de fortes idéias do tantrismo, incluindo a crença na eficácia de feitiços e encantamentos, envolvendo práticas e rituais secretos.

Os prédios e stupas de Nalanda foram destruídos pela primeira vez por um invasor Huno, Mihirakula, e, mais tarde, por Sasanka, o rei de Gauda. A destruição final foi causada por Muhammad Bakhtiar Khalji, no final do século doze e os monges fugiram. O verão de 1235 viu um outro ataque a Nalanda, dessa vez com apenas dois mosteiros sobreviventes, habitados por cerca de setenta moges, incluindo um Dharmasvamin tibetano, o qual deixou um relato de primeira mão sobre o incidente”.

nalanda_conf_065.jpg“De acordo com outro texto tibetano, o Pag-sam jon-Zong, após o ataque dos turcos, os templos e chaityas foram restaurados por um sábio, Muditabhadra. Logo após, Kukutasiddha, ministro do rei de Magadha, erigiu um templo buddhista em Nalanda. Num incidente, dois mendicantes Tirthikas indignados realizaram um yajna e jogaram brasas ardentes e cinzas do fogo sacrificial em templos e monumentos buddhistas. Isto produziu um grande incêndio que consumiu a famosa biblioteca Ratnodadhi.

O primeiro relato europeu sobre as ruínas de Nalanda foi feito por Buchanon-Hamilton, o qual visitou o lugar no primeiro quarto do século dezenove. Mas foi somente a partir de 1860 que Alexander Cunningham identificou o local como sendo do antigo Nalanda e chamou a atenção do mundo da arqueologia para a importância do sítio. Alguns anos mais tarde, A.M. Broadley procedeu algumas escavações não sistemáticas no sítio Chaitya 12 e publicou uma monografia sobre o lugar (1872). O Archaeological Survey of India excavou o local por vinte anos, começando em 1915-16. Muito ainda resta a ser excavado. Nalanda é um dos maiores sítios arqueológicos da Índia”.

O significado contemporâneo de Nalanda

nalanda_conf_066.jpg“Nalanda representa e simboliza os mais altos padrões já alcançados no reino da erudição, especulação filosófica e sadhana espiritual. Seu nome é suficiente para evocar uma imagem brilhante nos corações dos buddhistas. Suas linhagens principais podem ser traçadas aos grandes acharyas associados à universidade, que incluem nomes como Nagarjuna, Padmasambhava, Dharmapala, Asanga, Vasubandhu, Dignaga, Dharmakirti, Santideva, Sarahapa e Naropa. Nalanda se situa permanentemente presente na psiquê indiana e buddhista. A herança de Nalanda precisa ser relembrada e redescoberta para o rejuvenescimento das tradições de erudição, dharma e sadhana. Ela pode uma vez mais reforçar o relacionamento religioso e espiritual entre os grandes países da Ásia”.

(Baseado principalmente na monografia de A. Ghosh, ‘Nalanda’, publicada pela Archaeological Survey of India, 1971)

A Herança de Nalanda

nalanda_conf_057.jpgA Conferência Internacional sobre a “A Herança de Nalanda” ocorreu em fevereiro de 2006 em Nalanda (Índia), objetivando salientar a contribuição desse grande lugar de aprendizado, o qual evocou a resposta do mundo de acadêmicos, santos e cientistas de várias disciplinas e tornou-se o lugar de encontro de algumas das maiores personalidades dos períodos que viram o ápice de sua glória. A conferência focou a atenção em seu impacto sobre os processos culturais em vários países da Ásia peninsular, Ásia oriental e sudeste asiático, como também no papel formativo que teve sobre o desenvolvimento do Buddhismo. As origens de várias das principais linhagens do Mahayana, que desfrutam de vasta popularidade no Tibet, Mongólia, Coréia, China e Japão, entre outros, pode ser traçado aos acharyas da antiga universidade.

A conferência salientou a expansão das idéias dos acharyas de Nalanda a outros países e outros sistemas, analisando o impacto e destino de tais idéias. As disciplinas de Nalanda foram revisitadas em relação às modernas disciplinas da lógica, psicologia, filologia, gramática, semântica, métrica, metafísica, filosofia, ética, etc. Uma tentativa foi feita no sentido de exaltar as realizações de Nalanda no reino das disciplinas científicas como a astronomia, cosmologia, matemática, alquimia, química, farmacologia e medicina.

nalanda_conf_058.jpg A conferência teve uma abrangência internacional. Entre os participantes estiveram importantes mestres e eminentes eruditos do Bhutão, China, Hong Kong, Índia, Japão, Coréia, Laos, Malásia, Mongólia, Myanmar, Nepal, Cingapura, Sri Lanka, Taiwan, Thailândia, Tibet e Vietnam. Eminentes eruditos das maiores universidades e institutos de pesquisa destes países, bem como de países ocidentais foram convidados para enriquecer a erudição da conferência. Mais de cem delegados estrangeiros, além daqueles da Índia compareceram como contribuintes da conferência.

S.S. o Dalai Lama, símbolo vivo da tradição Mahayana emanada de Nalanda, inaugurou a conferência. Durante o período da conferência várias sessões acadêmicas se desenvolvem, além das cerimônias de abertura e certificação.

Outras atividades ocorrendo simultaneamente incluirm uma exibição de fotografias de descobertas arqueológicas e ruínas de Nalanda; amostragem de thangkas, livros e manuscritos nas línguas chinesa, japonesa, tibetana, sânscrita, pali e outras, bem como traduções de algumas destas, além de obras modernas de pesquisa relacionadas aos siddhas e sábios associados a Nalanda. As noites foram devotadas à música e dança ritual Vajrayana.

Ricardo Sasaki participou como um dos apresentadores na Conferência Internacional “The Heritage of Nalanda”. Patrocinada pela Universidade Nalanda, Asoka Mission da Índia e o governo de estados indianos, a conferência foi um marco homenageando os 2550 anos do Buddha Jayanti e se constituiu uma honra apresentar um pouco do trabalho feito no Brasil inspirado nos ideais de conhecimento e fraternidade entre linhagens, que Nalanda original é o modelo máximo no Buddhismo.

nalanda_conf_068.jpgO próprio Dalai Lama abriu o evento e especialistas de 28 países do mundo inteiro compareceram. Apresentação de Ricardo Sasaki teve como título “Dharma in Brazil – A Nalanda-inspired experience”, versando sobre o papel do Nalanda no Brasil na divulgação do Theravada e do Buddhismo em geral, e as influências do Nalanda original (universidade antiga na India) sobre o trabalho missionário daqui. O Buddhismo no Brasil é muito pouco conhecido lá fora e essa foi uma boa oportunidade de contar com uma audiência internacional.

Confira nossa participação na Conferência Internacional “Heritage of Nalanda