Centro de Estudos Buddhistas Nalanda

Nalanda – Retrospectiva

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* Um pouco de nossa história:

Nalanda Informa 2002

Nalanda Informa 2003

 

Introdução

Neste ano de 2012, o Centro Nalanda comemora 23 anos de atividades dedicadas aos ensinamentos do Buddha aqui no Brasil. É um momento de alegria e também de profundo agradecimento pelas diversas condições, mestres e colaboradores que nos possibilitaram chegar até aqui, sempre servindo aos novos praticantes de uma nova geração. Nesta página colocaremos sobre algumas das coisas que marcaram a jornada do Centro Nalanda nestes vinte anos e que, acreditamos, marcaram também num certo grau a história do Buddhismo no Brasil. Apresentaremos atividades, fotos, iniciativas, visitas e, acima de tudo, reflexões e agradecimentos. Tais reflexões formarão com o tempo uma linha de eventos do Centro Nalanda, qual um fluxo-de-consciência facilmente pesquisável, e que servirá para mostrar uma pequena parcela do que ocorreu desde sua fundação.

Neste novo milênio, os primeiros livros e artigos retrospectivos sobre a história do Buddhismo no Brasil começam a ser escritos, nem sempre com a melhor acuracidade de fatos e, por vezes, baseados em tendencionismos e em lembranças que vão se perdendo e se distorcendo ao longo das décadas. Para aqueles que compartilham dos ideais do Nalanda de um Buddhismo responsável e para seus membros e amigos, que essas entradas possam servir para um maior conhecimento do que fizemos e do que nos ocorreu nessas duas décadas de existência!

Se é possível falar de uma característica que fez parte do Nalanda desde seus primórdios, podemos falar que foi a intenção ininterrupta de apresentar um Buddhismo ‘pé-no-chão’ que combinasse em partes iguais a prática meditativa e o estudo sério do Dhamma. Expliquemos: Em maio de 1989, quando em Belo Horizonte/MG, o Centro Nalanda iniciava suas atividades, o Buddhismo em terras brasileiras continuava em meio de sua longa jornada entre várias tendências opostas. Os últimos trinta anos haviam sido de reflexões contínuas por todos os cantos. Como se deve divulgar o Buddhismo por aqui? Como ele se desenvolverá nessa terra tupiniquim? Não há uma fórmula segura e fixada. Este é um período de experimentação, tentativas e erros, adaptações. E durará por muitas e muitas décadas; talvez séculos.

Alguns optaram por transmitir o Dhamma (Dharma em sânscrito) naquilo que é conhecido como “versão étnica”. Transportemos o Buddhismo tal como ele ocorre atualmente nos seus países de origem! Nos dois milênios de história buddhista, os ensinamentos do Buddha foram envolvidos não só pela magnífica criatividade de seus variados mestres, os quais souberam dar novas roupagens a antigos conteúdos, mas também se viram envolvidos com o acréscimo de um sem-número de práticas culturais, políticas de monarquias, shogunatos e totalitarismos, superstições locais, rituais peculiares de regiões remotas, filosofias locais, etc. Como, hoje, poderíamos saber o que foi mesmo o ensinamento do Buddha? Como distinguir a essência da bagagem cultural? Na falta dessa iluminada discriminação, alguns optaram por transmitir in toto ou parcialmente aquilo que um determinado país ou cultura, depois de séculos de vivência local, chamou de “Buddhismo”. Hierarquias políticas, crenças locais, roupagens e palavras foram simplesmente transportadas para o novo solo ocidental.

Mas outros se revoltam com essa atitude. Vivemos no Ocidente. Vivemos no Brasil. Não tem sentido vivermos algo que é praticado numa região asiática não apenas longe na distância geográfica, mas longe no tempo e mentalidade. Devemos adaptar, extrair a cultura extra da seiva perene! E, assim, o Buddhismo começa a ser apresentado, por alguns, como algo tão desprovido da roupagem oriental, que mesmo sua seiva se desconfia se ainda foi preservada. O Buddhismo se torna uma psicologia, uma técnica dentre outras destinada a trazer conforto e equilíbrio – ou a misteriosa “iluminação” – à alma ocidental; ele passa a ser apresentado como “filosofia de vida”, sem regras, sem disciplina, com insights brilhantes, exorcizado de seus orientalismos, o paraíso do livre pensador.

E há também o dualismo das práticas. O que é mais importante: Estudo ou meditação? Ritos ou investigação? Aqui novamente temos uma panóplia de opções escolhidas. Alguns decidiram enfatizar o estudo. Buddhismo é ler e discutir os significados de sua filosofia e história. Deve ser transmitido por palestras e discussões. É filosofia, criticismo, audição e pensamento. Outros escolheram o oposto. Buddhismo é almofada, é meditação, é por em prática. Calemos nossas mentes e pensamentos discursivos. Escutemos o interior no silêncio. Ainda outros herdaram o Dhamma na visão dos rituais. Buddhismo é propiciação, homenagem, puja e devoção. Essa é a herança dos Buddhas, e é perigoso pensar demais, questionar demais.

Essas várias propostas opostas ainda não se resolveram. Nem no Brasil, nem no Ocidente. Qual delas é melhor? Qual delas é mais fiel? Qual delas garantirá os melhores resultados? E como julgar tais resultados? Tampouco as soluções foram apresentadas sempre em seus vários extremos mas, frequentemente, apareceram combinadas. Alguma coisa é preservada do Buddhismo Oriental; alguma coisa é tirada. São as tentativas e erros, experimentações e fracassos que, como também antigamente nas regiões orientais, fazem a história do Buddhismo.

Como todos os centros e professores que atuam no Brasil e no Ocidente, o Nalanda também é uma experimentação. Ninguém sabe a fórmula correta nem mesmo se há ‘uma’ fórmula correta. Todos, nas melhores de suas intenções e habilidades, tentam fornecer o que acreditam apropriado e útil. Comparações são inúteis. São mesmo prejudiciais e infantis. Porque não há o modelo ‘correto’ com o qual se comparar. Há diferenças, há escolhas. Nossa escolha foi a de apresentar um Buddhismo ‘pé-no-chão’ que combinasse em partes iguais a prática meditativa e o estudo sério do Dhamma. ‘Pé-no-chão’ por desenfatizar aspectos extraordinários, mágicos ou mesmo puras crendices. ‘Pé-no-chão’ por acreditar que o homem e a mulher ocidentais podem e devem entender o ensinamento do Buddha em seus próprios termos, sem ter que acreditar em ‘coisas orientais’, vestir-se estranhamente ou reverenciar o invísivel e distante. Podemos e devemos entender o que o Buddha transmitiu “como se” Ele vivesse aqui entre nós, em nossas cidades, bairros e ruas.

Nossa escolha também foi na combinação equitativa da prática meditativa e do estudo sério do Dhamma. “Não há meditação sem sabedoria, não há sabedoria sem meditação, aquele que tem ambas, meditação e sabedoria, está mais perto da paz e da libertação“, já dizia o Buddha. Na junção de uma prática meditativa firme e bem informada, aliada a um estudo sistemático e claro das melhores fontes, e combinados com uma base de ética e uma dose apropriada de puja, metta e respeito ao praticante, essa foi a escolha adotada nessas primeiras duas décadas do Centro Nalanda, somente uma dentre muitas possíveis, para a informação e formação de uma nova geração de praticantes do Dhamma.

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