P: O Dhamma é eterno na Terra?
RS: Dependendo de em qual sentido se interprete a palavra “Dhamma” a resposta necessariamente será diferente. Enquanto a verdade descoberta pelo Buddha, se é realmente verdade, por definição é intemporal, não sujeita ao tempo, pelo simples fato de que aquilo que é verdade deve sê-lo sempre, senão simplesmente não seria verdade.
Mas na sua dimensão de ensinamento do Buddha e, portanto, presente no tempo, passa automaticamente a seguir a lei da impermanência. É, aliás, unânime em todas as tradições de sabedoria, que são um patrimônio da humanidade, a presença de ensinamentos quanto ao desaparecimento gradual dos ensinamentos espirituais, principalmente devido à degenerescência intelectual (espiritual) do próprio homem. Não somente no Mahayana, mas o Cânon Pali é cheio de exemplos sobre a decadência do Dhamma na Terra. O Samyutta Nikaya II, 266, por exemplo, tem a interessante história do tambor chamado “O Convocador”. Diz-se que sempre quando ele começava a rachar o povo colocava cavilhas até um momento em que nada mais havia do tambor original, só a armadura de cavilhas. E o Buddha completa: “É assim, ó monges, que sucederá aos monges no futuro. Estes discursos pronunciados pelo Descobridor da Verdade, profundos, profundos de significação, falando de um outro mundo, tratando do vazio: eles não escutarão mais tais como são pronunciados, não prestarão atenção, não voltarão seus pensamentos para o profundo saber, e não sustentarão que esses são ensinamentos dignos de ser estudados e possuídos…” (trad. port. de Ary Vasconcelos do inglês traduzido do pali por Ananda Coomaraswamy).