Vinaya Pitaka

Tornar-se um monge buddhista na tradição Theravada significa escolher viver segundo uma série de regras. Aqui a questão não é tanto tornar-se monge primeiro e aí então aceitar as regras da comunidade mas, pelo contrário, é por aceitar tais regras, ou seja, é por querer viver tais regras e através delas ter um ambiente organizado para ajudar a chegar mais rapidamente aos objetivos do caminho, é que se torna um monge. Isso é algo que frequentemente é mal entendido pelas pessoas. Muitos querem se tornar monges (e até para gozar de supostos privilégios atribídos aos monges, como respeito, autoridade, etc), mas não querem as regras equivalentes.

As regras que regem a vida dos monges e monjas completamente ordenados foram compiladas no chamado Vinaya Pitaka. Várias escolas buddhistas antigas preservaram um conjunto do Vinaya em seu seio. No caso específico do Vinaya da tradição Theravada, ele foi originariamente transmitido oralmente até ter sido colocado em forma escrita no primeiro século a.C., no Sri Lanka. Isso foi feito pela escola chamada Mahavihara de lá.

O Vinaya é composto de três partes. A primeira parte é chamada de  Suttavibhanga que contém as 227 regras que são recitadas a cada quinze dias e são chamadas de Patimokkha. A segunda parte é chamada de Khandhaka e contém as regras que regem as questões mais administrativas da sangha monástica. A terceira parte, chamada de Parivara, é uma sistematização mais posterior dessas regras. O Vinaya parte de um núcleo de regras originariamente estabelecidas pelo próprio Buddha quando em vida e, claro, desenvolve-se como um organismo vivo até ter sido colocado na escrita, no Sri Lanka. Isto significa que ele possui uma série de adendos e revela adaptações. Podemos notar, por exemplo, o relaxamento de certas regras no caso de monges que viviam em regiões fronteiriças. Algumas das cerimônias, também, como as de ordenação, têm indícios de que algumas de suas porções foram acrescentadas no decorrer do tempo, tornando-se progressivamente mais elaboradas.

Como o Vinaya é uma parte essencial da definição de ser monge, isso resultou que sua correta compreensão se tornasse fundamental para os buddhistas. Desde seus primórdios, assim, uma série de comentários – inicialmente preservados oralmente – existiram com o fim de guiar os monges. O mais antigo comentário, o Suttavibhanga, chegou mesmo a ser incorporado dentro do próprio Vinaya Pitaka. Quando o Cânon foi vertido para o meio escrito, esses primeiros comentários também o foram. Eles foram as bases a partir das quais os grandes comentários (Atthakatha) compilados no quarto e quinto séculos foram compostos. Como o Patimokkha, por razões práticas, foi transmitido ‘em separado’ do Vinaya Pitaka, um comentário específico a ele foi composto, o Kankhavitarani; enquanto que o Samantapasadika se tornou o comentário para o conjunto inteiro do Vinaya Pitaka. A partir do quinto século, os ganthipadas começaram a ser escritos, manuais destinados a esclarecer os comentários. Muitos chegaram até os dias atuais, mas muitos se perderam também, e somente são conhecidos através de citações em outras obras. A partir do século doze, os subcomentários (tikas) começam a ser produzidos, como uma forma ainda mais detalhada de explicar os pontos difíceis deixados em suspenso nos manuais antigos. A isso se deverá acrescentar também manuais locais do Sri Lanka, Thailândia e Birmânia, além de pronunciamentos de juristas, chefes de sangha e troca de correspondência entre monges, formando um grande arsenal de interpretação exegética do Vinaya antigo.