~ Ven. S. Dhammika ~
Já foi dito o suficiente sobre o conceito buddhista de casamento convencional. Mas qual seria o posicionamento buddhista em relação ao casamento entre pessoas do mesmo sexo? Talvez seja importante destacar que é recente a noção de casamento entre pessoas do mesmo sexo sancionado e legalmente reconhecido pelo Estado, provavelmente, uma inovação social mais extrema que o movimento de liberação feminina que começou nos anos de 1960, e que o Buddhismo em toda a Ásia é geralmente conservador. Não conheço líderes, pesquisadores ou pensadores buddhistas asiáticos que já tenham comentado sobre esse tema, mas imagino que vejam este como um conceito desconcertante. No entanto, se aceitarmos que o comportamento e a atração pelo mesmo sexo devem ser julgados iguais aos seus equivalentes heterossexuais, parece que o Buddhismo não deveria ter nenhuma objeção ética ou filosófica ao casamento entre pessoas do mesmo sexo. Isso posto, as culturas buddhistas tradicionais mudam muito mais lentamente do que a sociedade ocidental e é improvável que o casamento entre pessoas do mesmo sexo venha a ser defendido ou receber apoio por muitas décadas ainda.
Para o Buddhismo e os buddhistas do Ocidente e das regiões e estados desenvolvidos da Ásia, como Hong Kong, Taiwan, Coreia do Sul, Cingapura, Japão, etc., a situação é diferente. Vários argumentos podem ser apresentados a favor da legalização de uniões do mesmo sexo, seja com o mesmo status que o casamento heterossexual ou com um status similar. O mais convincente desses argumentos é que as parcerias amorosas beneficiam as pessoas envolvidas e a sociedade em geral e, se recebem aceitação social e reconhecimento legal, têm mais chances de perdurar.
Até recentemente a homossexualidade era ilegal na maioria dos países ocidentais e foi quase sempre tratada apenas dentro de um contexto criminal. Consequentemente, não só a opinião pública associou os homossexuais com a criminalidade, como também os próprios homossexuais se consideravam criminosos. Mesmo quando eles não viviam com medo da lei, eles poderiam ser objeto de ridicularização, desprezo e, talvez, tão cruel quanto, pena se seus companheiros soubessem ou suspeitassem de suas inclinações. Tais fatos deram forma ao caráter e posição do homossexual – forjado em segredo, ansioso, nunca abaixando a guarda, propenso ao fingimento e hipocrisia e, muitas vezes, auto-aversão. Até o conforto da religião foi negado a eles pelas igrejas, permanecendo no “indescritível vício” e a doutrina de que eram punidos com a eterna danação. Não é surpreendente que homossexuais tenham uma tão alta taxa de suicídio, álcool, abuso de drogas e depressão. Psiquiatras e criminologistas tomaram isso como evidência de que a homossexualidade era uma doença, falhando em ver que isso era uma parte dos próprios mecanismos que eram criadores de tais problemas.
Felizmente as coisas estão mudando para melhor. A descriminalização da homossexualidade, o movimento do orgulho gay, o “sair do armário” de muitas figuras públicas populares e a representação positiva de homossexuais nos meios de comunicação, etc., agora estão mudando a percepção de homossexuais e sua percepção de si mesmos. O estigma da perversão, malignidade e descaso está começando a desaparecer.
Como resultado, o bem-estar psicológico dos homossexuais melhorou significativamente, embora ainda haja um longo caminho a percorrer. Isso só pode beneficiar uma sociedade em que todos os grupos dentro dela estão felizes e saudáveis, encontrando satisfação emocional e desenvolvendo suas próprias habilidades únicas, contribuindo para sua sociedade.
O próximo passo positivo que poderia ser dado é legalizar o casamento do mesmo sexo, ou uniões civis, e permitir que casais do mesmo sexo adotem crianças. A pesquisa tem mostrado que pessoas em relacionamentos amorosos de longo prazo se beneficiam física e psicologicamente. Também tem sido mostrado que ter filhos ajuda a união dos casais. Um número trágico de homossexuais se entregam e são vítimas de estilos de vida promíscuos e superficiais. Casamentos e parcerias que foram reconhecidos pelo Estado e firmadas pela sociedade proporcionam uma alternativa mais saudável. (Para mais informações sobre este assunto consulte Por que buddhistas deveriam dar apoio à igualdade matrimonial por Bhikkhu Sujato.)
A maior parte das coisas ditas pelo Buddha e nas escrituras buddhistas sobre casamento convencional seria aplicável a casamentos do mesmo sexo (ver acima Buddhismo e Casamento). Um casal do mesmo sexo deveria “falar palavras de amor um para o outro”, viver junto “com mentes alegres, um só coração e em harmonia”, estar unido “em harmonia e afeição mútua”, e considerar que “a valorização de seus filhos e do cônjuge é a maior das bênçãos”. Tal como acontece com os casais heterossexuais, parceiros do mesmo sexo que se amam e mantêm vínculo bem próximo, podem ser capazes de renovar a sua relação na próxima vida, se eles tiverem kamma similar. O Buddha disse ao discípulo Nakulapita: “Você se beneficiou, bom senhor, você foi grandemente recompensado, por ter (sua esposa) Nakulamātā cheia de compaixão por você, cheia de amor, como sua mentora e professora”. Há todas as razões para supor que os homossexuais em relacionamentos amorosos próximos devam ser igualmente abençoados.
Traduzido pelo Grupo de Tradução do Centro Nalanda
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© 2015-2016 Edições Nalanda
Nota: Este artigo é parte da série Buddhismo e as questões LGBT que está sendo traduzida e cujas partes serão publicadas aqui no site.
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