~ Ven. S. Dhammika ~
Certos escritores, não familiarizados com as escrituras e baseando-se em fontes secundárias, alegaram que o Buddha proibiu homossexuais de entrarem na Sangha, a fraternidade monástica buddhista. Se isto for correto, implicaria que o Buddha ou pelo menos os seus primeiros discípulos, discriminavam contra os homossexuais. Portanto, vale a pena olhar para essa reivindicação mais de perto. Uma das regras no Vinaya Pitaka, o código monástico, diz que um tipo de homem chamado paṇḍaka não deve ser ordenado e caso ele tenha sido, inadvertidamente, ele deve ser despido do manto. A etimologia de paṇḍaka não é clara, mas talvez seja derivada de apa + aṇḍa, que significa sem ovos, ou como pode ser dito quando se referindo à um homem efeminado, “sem bolas”.
O incidente que incitou essa regra nos dá uma ideia do que são paṇḍakas ou pelo menos de como eles podem se comportar. Certa vez um monge que era um paṇḍaka foi a diferentes grupos de homens pedindo a cada um deles para “profaná-lo” (dūsatha). Todos eles se recusaram, exceto os domesticadores de elefantes e os cavalariços nos estábulos de elefantes que ficaram felizes por atender, embora depois de se satisfazerem “resmungaram e tornaram-se irritados e críticos” [1]. A parte final desse incidente é significativa. Ainda hoje alguns homens heterossexuais vão concordar em se envolver em sexo com homossexuais embora tenham desprezo por fazê-lo. Obviamente, um paṇḍaka é um algum tipo de homossexual ou um homossexual que se comporta de uma maneira particular.
É provável que os antigos indianos não estivessem claros a respeito das distinções entre hermafroditas, travestis, transgêneros, pessoas de sexo indefinido, eunucos e homossexuais, e tenham aglomerado todos eles juntos. Também é provável que eles não soubessem que muitos, talvez a maioria, dos homossexuais não são diferentes dos heterossexuais no comportamento, fala e maneirismos e, consequentemente, eles pensavam nos homossexuais, principalmente como homens efeminados ou mulheres masculinas, um mal-entendido ainda muito prevalecente.
É provável, portanto, que paṇḍaka não signifique homossexuais enquanto tais, mas homossexual efeminado, promíscuo, auto-declarado. Se assim for, a regra relativa aos paṇḍakas não se tornarem monges não seria por causa de sua atração pelo mesmo sexo, mas porque eles podem ser uma influência perturbadora dentro de uma comunidade só de homens. Os homossexuais são tão capazes de manter o celibato como os heterossexuais, e por isso não há uma sólida razão para que devessem ser excluídos da ordem monástica.
Notas
Vinaya I,85.
Traduzido pelo Grupo de Tradução do Centro Nalanda
em acordo com o autor
Para Distribuição Gratuita
© 2015 Edições Nalanda
Nota: Este artigo é parte da série Buddhismo e as questões LGBT que está sendo traduzida e cujas partes serão publicadas aqui no site.
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Da mesma forma que seria impossível um mosteiro misto com monges e monjas heterossexuais convivendo juntos, também causaria, e causa, problemas quando homossexuais tentam conviver em mosteiros, principalmente quando são jovens. Há exceções, mas não costumam ser a regra. Quem participa de atividades em mosteiros conhece muito bem esse problema interno, que às vezes vaza para fora e chega na mídia sensacionalista e acaba criando transtornos para os mosteiros. É frequente a expulsão de gays dos mosteiros, não por causa da orientação sexual, mas por conta da conduta. Imaginem o sofrimento de gays/heteros jovens fazerem votos de castidade e tendo que conviver com homens/mulheres ao seu lado o tempo todo. Nesse caso o mais adequado seria seguirem vida religiosas fora do mosteiro. Assim como há sacerdotes budistas casados em algumas escolas budistas, a sociedade aprenderia a aceitar a mesma situação para sacerdotes homossexuais casados.
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