~ Ven. Ajahn Chah ~
Neste momento, por favor, determine à sua mente que ouça o Dhamma. Hoje, é o tradicional dia do dhammasavana, um momento propício para nós, o conjunto dos buddhistas, estudarmos o Dhamma a fim de aumentar nossa vigilância e nossa sabedoria. Dar e receber os ensinamentos é algo que fazemos há muito tempo. As nossas atividades diárias atuais, cantar em homenagem ao Buddha, tomar os preceitos morais, meditar e ouvir ensinamentos, devem ser entendidas como métodos e princípios para o desenvolvimento espiritual. Elas não são nada mais do que isso.
Quando se trata de tomar preceitos, por exemplo, um monge proclamará os preceitos e os laicos vão se comprometer a realizá-los. Não entenda erroneamente o que está acontecendo. A verdade é que a moralidade não é algo que possa ser dado. Ela realmente não pode ser solicitada ou recebida de alguém. Nós não podemos dá-la a alguém. Em nosso vernáculo ouvimos as pessoas dizerem: “O venerável monge deu os preceitos” e “recebemos os preceitos”. Falamos desse modo aqui no interior e isso se tornou nossa maneira habitual de compreensão. Se pensarmos assim, que viemos receber os preceitos dos monges nos dias de observância lunar e que, se os monges não derem os preceitos, então não temos moralidade, isso é apenas uma tradição de ilusão que herdamos dos nossos antepassados. Pensar dessa maneira significa que desistimos da nossa própria responsabilidade, não tendo uma firme confiança e convicção em nós mesmos. Então, isso é passado para a próxima geração, e eles também vêm ‘receber’ preceitos dos monges. E os monges acabam por acreditar que eles são aqueles que ‘dão’ preceitos aos laicos. Na verdade, a moralidade e os preceitos não são assim. Eles não são algo a ser ‘dado’ ou ‘recebido’; mas, em ocasiões cerimoniais, para acumular mérito usamos isso como uma forma ritual de acordo com a tradição e empregamos essa terminologia.
Na verdade, a moralidade reside junto às intenções das pessoas. Se você tiver a determinação consciente de se abster de atividades nocivas e incorretas por meio do corpo e da fala, por conseguinte, a moralidade irá surgir dentro de você. Você deve conhecê-la dentro de si mesmo. Não há nenhum problema em tomar os votos com outra pessoa. Você também pode relembrar os preceitos por si próprio. Se você não sabe quais são, então, você pode requisitá-los a outra pessoa. Não é nada muito complicado ou distante. Então, sempre que quisermos receber o Dhamma e a moralidade, nós os temos bem aqui. É como o ar que nos rodeia e está em todo lugar. Sempre que respiramos nós o absorvemos. Todo tipo de bondade e de maldade é assim. Se desejarmos fazer o bem podemos fazê-lo em qualquer lugar e a qualquer momento. Podemos fazê-lo sozinhos ou junto a outros. Com a maldade é o mesmo. Podemos fazê-la com um grupo grande ou pequeno, abertamente ou escondido. E assim é.
Essas são coisas que já existem. Quanto à moralidade, isso é algo que devemos considerar normal para todos os seres humanos praticarem. Uma pessoa que não tem moral não é diferente de um animal. Se você decidir viver como um animal, então, é claro que não há bem ou mal para você, porque um animal não tem nenhum conhecimento de tais coisas. Um gato caça ratos, mas não dizemos que está fazendo mal, porque ele não tem conceito ou conhecimento de bem ou de mal, certo ou errado. Esses seres estão fora do círculo dos seres humanos. É o reino animal. O Buddha apontou que esse grupo está simplesmente vivendo de acordo com o kamma do tipo animal. Aqueles que compreendem certo e errado, bem e mal, são humanos. O Buddha ensinou seu Dhamma para humanos. Se nós, pessoas, não temos princípios morais e conhecimento dessas coisas, então, não somos muito diferentes dos animais. Logo, é adequado que estudemos e aprendamos acerca dessas coisas e nos tornemos hábeis. Isso é aproveitar a preciosa realização da existência humana e trazê-la à sua consumação.
O profundo Dhamma é o ensinamento de que a moralidade é necessária. Então, quando há moralidade, temos uma base sobre a qual podemos progredir no Dhamma. Moralidade significa os preceitos a respeito do que é proibido e do que é permitido. Dhamma refere-se à natureza e aos seres humanos conhecendo sobre a natureza – como as coisas existem de acordo com a natureza. A natureza não é algo que nós criamos. Ela existe como ela é, de acordo com as suas condições. Um exemplo simples são os animais. Uma determinada espécie, tal como os pavões, nasce com seus vários padrões e cores. Eles não foram criados assim pelos seres humanos ou modificados pelos humanos; eles já nascem dessa forma, de acordo com a natureza. Esse é um pequeno exemplo de como as coisas são na natureza.
Todas as coisas da natureza existem no mundo – tratando ainda da compreensão do ponto de vista mundano. O Buddha ensinou o Dhamma para conhecermos a natureza, para que a soltemos e a deixemos existir de acordo com as suas condições. É assim quando se fala sobre o mundo material externo. Quanto a nāmadhamma, significando a mente, não podemos deixá-la seguir suas próprias condições. Ela tem que ser treinada. No final, podemos dizer que a mente é o professor do corpo e da fala, por isso precisa ser bem treinada. Deixá-la seguir de acordo com seus impulsos naturais nos torna num animal. Ela tem que ser instruída e treinada. Ela deve chegar a conhecer a natureza, mas não deve ser apenas deixada seguir a natureza.
Nascemos neste mundo e todos iremos naturalmente sofrer das aflições do desejo, da raiva e da ilusão. O desejo faz-nos ansiar por várias coisas e provoca desequilíbrio e confusão na mente. A natureza é assim. Não podemos deixar a mente ir atrás desses impulsos ávidos. Isso só levará à exasperação e ao desespero. É melhor treinar no Dhamma, na verdade.
Quando a aversão ocorre, nós desejamos expressar raiva para com as pessoas; pode-se até chegar ao ponto de agredir fisicamente ou matar pessoas. Mas nós não apenas “deixamos que ela siga” de acordo com sua natureza. Nós conhecemos a natureza do que está ocorrendo. Vemos aquilo pelo que é, e ensinamos a mente sobre aquilo. Isso é estudar o Dhamma.
Com a ilusão é igual. Quando ela acontece, ficamos confusos sobre as coisas. Se apenas a deixamos como está, então, permanecemos na ignorância. Assim, o Buddha nos disse para compreender a natureza, para ensinar a natureza, para treinar e ajustar a natureza, saber exatamente o que a natureza é.
Por exemplo, as pessoas nascem com uma forma física e mental. No começo, são formadas; no meio, mudam; e, no final, elas se extinguem. Isso é o comum; isso é a natureza. Não podemos fazer muito para mudar esses fatos. Nós treinamos as nossas mentes como podemos e, quando chega o momento, temos que nos desapegar de tudo. Está além das habilidades humanas mudar ou tentar superar isso. O Dhamma que o Buddha ensinou é algo para se aplicar enquanto estamos aqui, para tomar decisões, falar e pensar de maneira correta e apropriada. Isto significa que ele ensinou de modo a que as mentes das pessoas não se tornassem iludidas face à natureza e à sua realidade convencional e respectivas suposições. O Professor instruiu-nos para vermos o mundo. O seu Dhamma foi um ensinamento que é superior e para lá deste mundo. Nós estamos no mundo. Nós nascemos neste mundo; ele nos ensinou a transcender o mundo e não a nos tornarmos prisioneiros dos hábitos mundanos.
É como um diamante que cai num poço de lama. Não importa quanta sujeira e imundíce o cobrem, isso não destrói seu brilho, seus tons e seu valor. Embora a lama grude nele, o diamante nada perde, mas continua como era originalmente. São duas coisas separadas.
Então, o Buddha ensinou a estar acima do mundo, o que significa conhecer o mundo claramente. Quando ele diz “o mundo”, não quer dizer a terra, o céu e os elementos, mas sim, a mente, a roda do samsāra no coração das pessoas. Ele quis dizer esta roda, este mundo. Esse é o mundo que o Buddha conhece claramente; quando falamos sobre conhecer o mundo claramente, estamos falando sobre essas coisas. Se fosse de outro modo, o Buddha teria que voar por toda parte para “conhecer o mundo com clareza”. Não é assim. É um único ponto. Todos os dhammas se concentram num único ponto. Como as pessoas, ou seja, homens e mulheres. Se observarmos um homem e uma mulher, conheceremos a natureza de todas as pessoas no universo. Eles não são tão diferentes.
Ou aprender sobre o calor. Se soubermos apenas este ponto, a qualidade de ser quente, então não importa qual a fonte ou a causa do calor; a condição de ‘quente’ é esta. Sabendo claramente esse ponto, então, onde quer que possa haver calor no universo, nós sabemos que é assim. Então, o Buddha sabia de um único ponto e, assim, o seu conhecimento abrangia o mundo. Sabendo que o frio é de um certo modo, quando encontrava o frio em qualquer lugar do mundo, ele já o conhecia. Ele ensinava um único ponto: os seres vivendo no mundo devem conhecer o mundo, conhecer a natureza do mundo. Assim como conhecer as pessoas. Conhecer homens e mulheres, conhecer a maneira de existência de seres neste mundo. Seu conhecimento era assim. Conhecendo um ponto, ele conhecia todas as coisas.
O Dhamma que o professor expôs servia para ir além do sofrimento. O que é este ‘ir além do sofrimento’? O que devemos fazer para ‘escapar do sofrimento’? Isto é o necessário para os estudos; temos de vir e estudar os pensamentos e sentimentos em nossos corações. Apenas isso. É algo que somos atualmente incapazes de mudar. Se pudermos mudá-lo, então, poderemos nos libertar de todo sofrimento e insatisfação na vida. Simplesmente ao mudar isto – nossa visão habitual do mundo – nosso jeito de pensar e sentir. Se viermos a ter um senso novo das coisas, uma nova compreensão, então transcenderemos as velhas percepções e o velho jeito de pensar.
O autêntico Dhamma de Buddha não é algo que aponta para longe. Ele ensina sobre attā, o ‘si mesmo’, e que as coisas não são realmente ‘si mesmo’. Isso é tudo. Todos os ensinamentos que o Buddha deu salientaram que “este não é um eu, isso não pertence a um eu, não existe tal coisa como nós mesmos ou outros”. Agora, quando entramos em contato com isso, não podemos realmente lê-lo, não somos capazes de ‘traduzir’ o Dhamma corretamente. Continuamos a pensar: ‘Isto sou eu, isto é o meu’. Nós nos conectamos às coisas e damos significados a elas. Quando fazemos isso, nós ainda não podemos nos desapegar delas; o envolvimento aprofunda e a confusão fica pior ainda. Se nós sabemos que não há um eu, que corpo e mente são na verdade anattā, como o Buddha ensinou, então podemos continuar investigando e eventualmente iremos chegar à compreensão da condição atual que é vazia de um eu. Iremos genuinamente perceber que não há eu ou outro. Prazer é meramente prazer. Sentir é meramente sentir. Memória é meramente memória. Pensar é meramente pensar. Todos essas são coisas que são ‘meramente’ tais. Felicidade é apenas felicidade, sofrimento é apenas sofrimento. Bem é apenas bem, mal é apenas mal. Tudo simplesmente existe desta maneira. Não existe felicidade verdadeira ou sofrimento verdadeiro. Existem apenas as condições existentes. Apenas feliz, apenas sofrendo, apenas quente, apenas frio, apenas um ser ou uma pessoa. Você poderia continuar procurando a fim de ver que as coisas são simplesmente assim. Apenas terra, apenas água, apenas fogo, apenas vento. Deveríamos continuar ‘lendo’ essas coisas e investigando esse ponto. Eventualmente, nossa percepção mudará; teremos um sentimento diferente sobre as coisas. A convicção firmemente estabelecida de que existe o eu e as coisas pertencentes ao eu irão gradualmente se desfazer. Quando esse sentido das coisas é removido, então a percepção oposta continuará aumentando de forma constante.
Quando a realização de anattā atinge a plenitude, seremos capazes de nos relacionarmos com as coisas deste mundo – com as nossas mais queridas posses e envolvimentos, com os amigos e parentes, com a riqueza, com as realizações e os status – da mesma forma como fazemos com nossas roupas. Quando camisas e calças são novos, nós os usamos; eles ficam sujos e os lavamos; depois de algum tempo eles estão desgastados e os descartamos. Não há nada fora do comum nisso; estamos constantemente a nos livrar das coisas velhas e começamos a usar roupas novas.
Assim, teremos a mesma sensação sobre a nossa existência neste mundo. Nós não choraremos ou lamentaremos sobre as coisas. Nós não seremos atormentados ou sobrecarregados por elas. Elas permanecem as mesmas coisas como eram antes, mas o nosso sentimento e entendimento delas mudou. Agora o nosso conhecimento será exaltado e vamos ver a verdade. Vamos ter alcançado a visão suprema e o autêntico Dhamma que foi ensinado, aquilo que devemos conhecer e ver. Onde está o Dhamma que devemos conhecer e ver? Ele está bem aqui dentro de nós, neste corpo e mente. Já o temos; precisamos é conhecer e ver.
Por exemplo, todos nós nascemos neste reino humano. O que quer que tenhamos obtido com isso, vamos perder. Temos visto pessoas nascerem e morrerem. Vemos isso acontecendo, mas, na verdade, não vemos claramente. Quando há um nascimento, alegramo-nos com ele; quando pessoas morrem, choramos por elas. Não há fim. Vai-se por esse caminho e não há fim para a nossa loucura. Vemos o nascimento e permanecemos tolos. Vemos a morte e permanecemos tolos. Existe apenas essa tolice sem fim. Vamos dar uma olhada em tudo isso. Essas coisas são ocorrências naturais. Contemple o Dhamma aqui, o Dhamma que devemos saber e ver. Esse Dhamma existe agora mesmo. Decida-se sobre isso. Exerça restrições e controle próprio. Agora estamos no meio das coisas da vida. Não deveríamos ter medo da morte. Deveríamos temer os reinos inferiores. Não tema morrer, mas tema cair no inferno. Você deveria temer fazer coisas ruins enquanto ainda tem vida. Essas são coisas antigas com as quais estamos a lidar, não são coisas novas. Muitas pessoas estão vivas, mas não se conhecem a si mesmas. Elas pensam: “Por que devo me preocupar com o que devo fazer agora se eu não posso saber o que se passará quando morrer?” Elas não pensam sobre as “sementes” que estão a plantar e que vão germinar no futuro. Apenas observam, agora, os velhos frutos que já são um resultado do passado. Elas se apegam à experiência presente, sem perceber que, se há fruto, ele veio de uma semente, e que, dentro do fruto que temos agora, estão as sementes do fruto futuro. Essas sementes estão esperando para serem plantadas. Ações nascidas da ignorância dão continuidade à corrente dessa forma, mas quando você está comendo a fruta, você não pensa sobre todas as implicações.
Quando a mente tem muitos apegos, é exatamente ali que vamos experienciar sofrimento intenso, dificuldades e ressentimentos intensos. O lugar onde experimentamos os problemas é o lugar onde temos muita atração, desejos e preocupações. Por favor, tente resolver isso. Agora, enquanto você ainda tem vida e respiração, permaneça olhando para essa situação e lendo isso até que você seja capaz de “traduzi-lo” e resolver o problema.
O que quer que estejamos experimentando como parte de nossas vidas agora, um dia vamos ser separados disso. Portanto, não basta passar o tempo. Pratique o cultivo espiritual. Aceite esta despedida, esta separação e perda de seu objeto de contemplação agora no presente, até que você seja inteligente e habilidoso nessa questão, até que você possa ver que é normal e natural. Quando há ansiedade e pesar, tenha a sabedoria de reconhecer os limites dessa ansiedade e tristeza, sabendo o que elas são de acordo com a verdade. Se você consegue considerar as coisas dessa maneira, então a sabedoria irá surgir. Sempre que o sofrimento ocorre, a sabedoria pode surgir ali, se investigarmos. Mas as pessoas geralmente não querem investigar.
Sempre que acontece a experiência prazerosa ou desprazerosa, a sabedoria pode ocorrer ali. Se conhecermos felicidade e sofrimento naquilo que realmente são, então conheceremos o Dhamma. Se conhecermos o Dhamma, conheceremos o mundo claramente; se conhecermos o mundo claramente, conheceremos o Dhamma.
Na verdade, para a maioria de nós, se algo é desagradável, realmente não queremos saber sobre isso. Ficamos presos na aversão a isso. Se não gostarmos de alguém, não iremos querer olhar para o rosto ou mesmo chegar perto dele. Essa é a marca de uma pessoa tola, inábil; esse não é o caminho de uma boa pessoa. Se gostamos de alguém, então, é claro que queremos estar perto dele, nós fazemos todos os esforços para estar com ele, desfrutando o prazer de estar em sua companhia. Isso também é uma tolice. Eles são, na verdade, a mesma coisa, como a palma e o dorso da mão. Quando viramos a mão para cima e vemos a palma, o dorso da mão está oculto à vista. Quando viramos a mão para baixo é a palma que não é vista. O prazer oculta de nossa visão a dor, e a dor oculta o prazer. O errado encobre o certo, o certo encobre o errado. Ao olhar somente para um lado, nosso conhecimento não está completo. Façamos coisas por completo enquanto ainda temos vida. Mantenha-se olhando para as coisas, separando a verdade da mentira, observando como as coisas realmente são e chegando ao fim disso, alcançando a paz. Quando chegar a hora, seremos capazes de entender realmente e abandonar. Agora temos que tentar com firmeza separar as coisas – e continuar tentando entender realmente.
O Buddha ensinou sobre cabelos, unhas, pele e dentes. Ele nos ensinou a fazer aqui uma separação. Uma pessoa que não sabe sobre a separação só tem conhecimento sobre agarrá-los para si mesma. Agora, enquanto ainda não nos separamos dessas coisas, nós deveríamos habilmente meditar sobre elas. Nós ainda não deixamos este mundo, por isso deveríamos ser cuidadosos. Deveríamos contemplar muito, fazer muitas oferendas de caridade, recitar bastante as escrituras, praticar muito: desenvolver o “insight” sobre a impermanência, insatisfatoriedade e ausência do eu.
Mesmo que a mente não queira ouvir, devemos continuar rompendo coisas dessa maneira e vir a conhecer no presente. Isso pode definitivamente ser feito. É possível chegar ao conhecimento que transcende o mundo. Estamos presos no mundo. Esta é uma maneira de “destruir” o mundo, por meio da contemplação e vendo além do mundo, para que possamos transcender o mundo em nosso ser. Mesmo enquanto estamos vivendo neste mundo a nossa visão pode estar acima do mundo.
Em uma existência mundana cria-se tanto o bem quanto o mal. Agora vamos tentar praticar a virtude e eliminar o mal. Quando os resultados são bons , você não deve se sentir o tal, mas ser capaz de transcendê-los. Se você não transcendê-los, em seguida, você se torna escravo da virtude e de seus conceitos sobre o que é o bem. Isso o coloca em uma situação difícil, e suas lágrimas não terão fim. Não importa o quanto você tenha praticado bem, se você estiver apegado a isso, então você ainda não estará livre e não haverá fim às lágrimas. Mas aquele que transcende tanto o bem quanto o mal, não tem mais lágrimas para derramar. Elas secaram. Pode haver um ponto final. Devemos aprender a usar a virtude e não ser usado pela virtude.
Em poucas palavras, o cerne do ensinamento do Buddha é transformar nossa visão. É possível alterá-la. É preciso apenas olhar para as coisas e, então, isso acontece. Tendo nascido, vamos experienciar envelhecimento, doença, morte e separação. Essas coisas estão bem aqui. Nós não precisamos mirar o céu ou olhar abaixo da terra. O Dhamma que precisamos ver e conhecer pode ser visto aqui mesmo dentro de nós, a cada momento de cada dia. Quando há um nascimento, ficamos repletos de alegria. Quando há uma morte, lamentamos. É assim que passamos nossas vidas. Essas são as coisas sobre as quais precisamos saber, mas ainda não olhamos realmente para elas e ainda não vimos a verdade. Estamos empacados de maneira profunda nessa ignorância. Nós perguntamos: “Quando é que vamos ver o Dhamma?”, mas ele é para ser visto exatamente aqui, no presente.
Esse é o Dhamma que deveríamos aprender e ver. Isso é o que o Buddha ensinou. Ele não ensinou sobre deuses, demônios e nāgas, deidades protetoras, semideuses invejosos, espíritos da natureza e coisas desse tipo. Ele ensinou as coisas que deveríamos saber e ver. Essas são verdades que deveríamos ter a capacidade de compreender realmente. Fenômenos externos são assim, exibem as três características. Os fenômenos internos, ou seja, este corpo, são assim também. A verdade pode ser vista no cabelo, unhas, pele e dentes. No início, eles crescem e florescem. Agora caem e desaparecem. O cabelo rareia e fica cinzento. É assim mesmo. Consegue ver isso? Ou vai dizer que não consegue? Certamente, consegue fazê-lo com um pouco de investigação.
Se nos interessarmos realmente por isso e contemplarmos seriamente poderemos ganhar uma compreensão genuína. Se fosse algo que não pudesse ser feito, o Buddha não teria se dado ao trabalho de falar sobre isso. Quantas centenas de milhares de seus seguidores já compreenderam? Se um individuo realmente estiver disposto a olhar para as coisas, então, ele poderá compreender. O Dhamma é assim. Nós estamos vivendo neste mundo. O Buddha quer que conheçamos o mundo. Vivendo no mundo, conquistamos nosso conhecimento a partir dele. O Buddha é conhecido por ser lokavidū, aquele que conhece claramente o mundo. Isso significa viver no mundo, mas sem se prender em seu emaranhado; viver entre atração e aversão, mas sem se prender na atração e na aversão. Podemos falar sobre isso e explicá-lo em linguagem cotidiana. Foi assim que o Buddha ensinou.
Normalmente, falamos em termos de attā, eu, falando sobre eu e meu, tu e teus, mas a mente pode permanecer ininterruptamente na realização de anattā, ausência de eu. Pense sobre isso. Quando falamos para uma criança nós falamos de uma maneira, quando falamos com adultos, falamos de outra. Se falarmos com adultos usando uma linguagem apropriada para crianças, ou usarmos as palavras dos adultos para falar com as crianças, não vai dar certo. No uso adequado das convenções, temos de saber quando estamos falando com crianças. Pode ser apropriado falar sobre eu e meu, você e o que é seu, e assim por diante, mas interiormente a mente é o Dhamma, habitando na realização de anattā. Você deve ter esse tipo de fundamento.
Então, o Buddha disse que você deve tomar o Dhamma como a sua fundação, a sua base. Vivendo e praticando no mundo, você vai tomar a si mesmo, as suas ideias, desejos e opiniões como base? Isso não está certo. O Dhamma deve ser o seu padrão. Se você tomar a si mesmo como padrão, você se tornará auto-absorvido. Se você tomar alguém como seu padrão, você estará apenas apaixonado por essa pessoa. Ficar cativado por nós mesmos ou por outra pessoa não é o caminho do Dhamma. O Dhamma não se inclina na direção de qualquer pessoa ou segue personalidades. Ele segue a verdade. Ele não simplesmente aceita os gostos e desgostos das pessoas; tais reações habituais nada têm a ver com a verdade das coisas.
Se realmente considerarmos tudo isso e investigarmos minuciosamente a fim de conhecer a verdade, então vamos entrar no caminho correto. Nosso modo de vida vai se tornar correto. O pensamento será correto. Nossas ações e discurso serão corretos. Então, realmente devemos olhar para tudo isso. Por que é que temos sofrimento? Por causa da falta de conhecimento, por não saber onde as coisas começam e terminam, sem entender as causas; isso é ignorância. Quando há essa ignorância, vários desejos surgem e ao sermos conduzidos por eles nós criamos as causas do sofrimento. Então, o resultado necessariamente será sofrimento. Quando você junta lenha e acende um fósforo esperando que não haja calor, quais são as suas chances? Você está criando fogo, não está? Isso é a originação.
Se você entender essas coisas, então a moralidade nascerá aqui. O Dhamma nascerá aqui. Então, prepare-se. O Buddha aconselhou-nos a nos prepararmos. Você não precisa ter muitas preocupações ou ansiedades sobre as coisas. Basta olhar aqui. Olhe para o lugar sem desejos, o lugar sem perigo. Nibbāna paccayo hotu – o Buddha ensinou, deixe-o ser uma causa de nibbāna. Se isso vai ser o motivo da realização do nibbāna, então, isso significa olhar para o lugar onde as coisas são vazias, onde as coisas estão finalizadas, onde elas chegam ao seu final, onde elas estão esgotadas. Olhem para o lugar onde não existem mais causas, onde não há mais o eu ou o outro, eu ou meu. Esse olhar se torna uma causa ou condição, uma condição para a realização do nibbāna. Então, praticar a generosidade se torna um motivo para a realização do nibbāna. Praticar moralidade torna-se uma causa para realizar nibbāna. Ouvir os ensinamentos se torna um motivo para realizar nibbāna. Assim, podemos dedicar todas as nossas atividades do Dhamma para se tornarem causas para nibbāna. Mas se não estamos olhando para nibbāna, se estamos olhando para o eu e o outro, e se agarrando e se apegando sem fim, isto não se torna uma causa para nibbāna.
Quando lidamos com os outros e eles falam sobre si mesmos, sobre mim e sobre o que é meu, sobre o que é nosso, então concordamos imediatamente com tal ponto de vista. Nós imediatamente pensamos: “Sim, isso mesmo!” Mas não é certo. Mesmo que a mente esteja dizendo: “’Certo, certo”, temos de exercer controle sobre ela. É o mesmo que uma criança que tem medo de fantasmas. Talvez os pais tenham medo também. Mas os pais não contarão isso, pois se o fizerem, logo a criança vai se sentir desprotegida ou insegura. “Não, é claro que o papai não tem medo. Não se preocupe, o papai está aqui. Não há fantasmas. Não há nada a se preocupar”. Bem, o pai pode realmente estar com medo também. Se ele começar a falar a respeito, então, todos ficarão tão preocupados com os fantasmas que começarão a pular e a correr – pai, mãe e criança – e acabarão sem casa.
Isso não é ser inteligente. Você tem que olhar para as coisas com clareza e aprender a lidar com elas. Mesmo quando você sente que as aparências ilusórias são reais, você tem que dizer a si mesmo que elas não são. Vá contra, desse jeito. Ensine-se interiormente. Quando a mente está experimentando o mundo em termos de eu, dizendo: “É real”, você tem que ser hábil em dizer-se: “Não é”. Você deveria flutuar acima da água, não seja submerso pelas enchentes dos hábitos mundanos! A água inunda nossos corações quando corremos atrás de coisas; sempre olhamos para o que está acontecendo? Haverá alguém ‘vigiando a casa’?
Nibbāna paccayo hotu – não é preciso ter como objetivo qualquer coisa ou querer absolutamente nada. Apenas busque o nibbāna. Qualquer forma de se tornar e nascer, mérito ou virtude na vida mundana, não servem para atingi-lo. Obter kamma meritório e hábil, esperar que isso irá nos fazer atingir um estado melhor… não precisamos desejar muitas coisas; apenas objetive diretamente o nibbāna. Ao querer sīla, querer tranquilidade, nós apenas iremos acabar no mesmo lugar de sempre. Não é necessário desejar tais coisas – nós só deveríamos desejar o lugar da cessação.
É assim. Ao longo de todo a nossa existência e nascimento, todos nós ficamos terrivelmente ansiosos com muitas coisas. Quando há separação, quando há morte, nós choramos e lamentamos. Não posso deixar de pensar em como isso é completamente ridículo. Por que choramos? Para onde pensamos que as pessoas vão? Se ainda estiverem condicionadas ao tornar-se e ao nascimento elas não vão a lado algum. Quando as crianças crescem e vão para a grande cidade que é Bangkok elas ainda pensam nos seus pais. Eles não estarão sentindo falta de outros pais, apenas de seus pais. Quando voltarem eles irão para a casa de seus pais e não para a casa de outras pessoas. E, quando partirem, elas ainda pensarão sobre suas casas aqui em Ubon. Será que elas sentirão saudades de algum outro lugar? O que você acha? Então, quando a respiração cessa e nós perecemos – não importa quantas vidas já tenhamos vivido – se as causas para o tornar-se e para o nascimento estiverem presentes isso fará com que a consciência busque o nascimento em um lugar familiar. Eu creio que tudo isso simplesmente nos enche de medo. Assim, por favor, não chore demais sobre isso. Pense sobre isso. Kammam satte vibhajati – kamma conduz os seres em direção a seus vários nascimentos – eles não vão muito longe. Girando para lá e para cá através do círculo de nascimentos, isso é tudo, apenas mudança de aparências, surgindo com uma face diferente na próxima vez, mas não sabemos disso. Apenas vindo e indo, indo e retornando na roda do samsāra, sem realmente ir para qualquer lugar. Apenas permaneça ali. Como uma manga sacudida da árvore, como o laço que não consegue atingir o ninho de vespas e cai no chão: não vai para lugar nenhum. Isso é apenas permanecer ali. Então, o Buddha disse: Nibbāna paccayo hotu: deixe que teu único objetivo seja o nibbāna. Esforcce-se muito para realizar isso; não termine como a manga caindo no chão e indo a lugar nenhum. Transforme seu modo de perceber coisas como essas. Se você pode mudá-las você vai conhecer muita paz. Mude, por favor; venha ver e saber. Essas são coisas que se deve realmente ver e saber. Se você conseguir ver e conhecer, em seguida, onde mais você precisará ir? A moralidade vai acontecer. O Dhamma vai acontecer. Não é nada distante; por isso, investigue isso, por favor.
Quando você transformar o seu ponto de vista, então vai perceber que é como assistir ao cair das folhas das árvores. Quando ficam velhas e secas, elas caem da árvore. E quando a estação vem, começam a aparecer novamente. Será que alguém chora quando as folhas caem ou ri quando crescem? Se você o fizesse, você seria louco, não é? É apenas isso. Se pudermos ver as coisas dessa maneira, vamos ficar bem. Saberemos que essa é apenas a ordem natural das coisas. Não importa por quantos nascimentos vamos passar, sempre será assim. Quando se estuda o Dhamma, ganha-se conhecimento claro e ocorre uma mudança de visão de mundo como essa, então, realizaremos a paz e seremos livres do maravilhamento em relação aos fenômenos desta vida.
Mas o ponto importante realmente é que temos uma vida agora, no presente. Experienciamos os resultados das ações passadas exatamente agora. Quando os seres nascem no mundo, isso é a manifestação das ações passadas. Qualquer que seja a felicidade ou o sofrimento que os seres têm no presente isso é o fruto do que fizeram previamente. É nascido no passado e vivido no presente. Então, esta vivência do presente se torna a base para o futuro e, assim, nós criamos novas causas sob sua influência, tendo vivências futuras como resultado. O movimento de um nascimento para o próximo também ocorre dessa maneira. Você deve entender isso.
Ouvir o Dhamma deverá solucionar suas dúvidas. Deve clarear sua visão das coisas e alterar o seu modo de viver. Quando as dúvidas são resolvidas, o sofrimento pode cessar. Você para de criar desejos e aflições mentais. Então, o que você experimentar, se algo é desagradável para você, você não vai sofrer por isso porque compreende que é impermanente. Se algo é agradável para você, você não vai se empolgar e ficar intoxicado por isso, porque você conhece o caminho para deixar as coisas passarem de forma adequada. Você mantem uma perspectiva equilibrada, porque entende a impermanência e sabe como resolver as coisas de acordo com o Dhamma. Você sabe que condições boas e ruins estão sempre mudando. Conhecendo os fenômenos internos você entende os fenômenos externos. Não apegado ao externo, você não estará apegado ao interno. Observando as coisas dentro de você ou fora de você, tudo é absolutamente igual.
Desta forma, podemos nos alongar em um estado natural que é de paz e tranquilidade. Se somos criticados, permanecemos imperturbáveis. Se somos elogiados, continuamos imperturbáveis. Deixe que as coisas sejam como são; não se deixe influenciar por outras pessoas. Isso é liberdade. Conhecendo os dois extremos pelo que eles são pode-se experienciar o bem-estar. Não se para em qualquer um dos lados. Isso é verdadeiramente paz e felicidade: transcender todas as coisas do mundo, transcender todo bem e todo mal. Acima da causa e do efeito, além do nascimento e da morte. Nascendo neste mundo, pode-se transcender o mundo. Para além do mundo, conhecer o mundo – esse é o objetivo do ensinamento do Buddha. Ele não queria que as pessoas sofressem. Ele desejava que as pessoas alcançassem a paz, que soubessem a verdade das coisas e percebessem a sabedoria. Este é o Dhamma, conhecer a natureza das coisas. Tudo o que existe no mundo é a natureza. Não há nenhuma necessidade de se estar confuso a respeito disso. Onde quer que você esteja, as mesmas leis se aplicam.
A coisa mais importante é que, enquanto tivermos vida, deveríamos treinar a mente a ser equânime com relação às coisas. Deveríamos ser capazes de compartilhar riqueza e posses. Quando a hora chegar, deveríamos dar uma parte àqueles em necessidade, da mesma maneira como se estivéssemos dando coisas aos nossos filhos. Compartilhando coisas assim fará com que nos sintamos felizes; e se dermos toda nossa riqueza, então, em qualquer hora que nossa respiração parar não haverá apego ou ansiedade pois tudo já foi embora. O Buddha ensinou a ‘morrer antes de morrer’, a terminar com as coisas antes que elas terminem. Então você pode ficar em paz. Deixe que as coisas quebrem antes que elas quebrem, deixe acabar antes que acabem. Essa é a intenção do Buddha ao ensinar o Dhamma. Mesmo se você ouvir ensinamentos por cem ou mil eras, se não entender esses pontos, você não será capaz de desconstruir o seu sofrimento e não vai encontrar a paz. Você não vai ver o Dhamma. Mas entender essas coisas de acordo com a intenção do Buddha e for capaz de resolver as coisas, isso é chamado de ver o Dhamma. Essa visão das coisas pode colocar um fim no sofrimento. Ela pode aliviar todo calor e angústia. Aqueles que se esforçam sinceramente e são diligentes na prática, que podem persistir, que treinam e desenvolvem-se ao máximo, essas pessoas atingirão a paz e a cessação. Onde quer que elas estejam, elas não encontrarão o sofrimento. Sejam jovens ou velhos, elas estarão livres do sofrimento. Quaisquer que sejam as suas situações, quaisquer empregos que possam ter, elas não sofrerão porque suas mentes terão atingido um lugar onde o sofrimento foi exaurido, onde há paz. É assim. É uma questão de natureza.
O Buddha, assim, disse para mudarmos a nossas percepções e, então, aí estará o Dhamma. Quando a mente está em harmonia com o Dhamma, então o Dhamma entra no coração. A mente e o Dhamma tornam-se indistinguíveis. Isso é algo para ser realizado por quem pratica, a mudança da nossa visão das coisas e a sua experiência. Todo o Dhamma é paccattam (a ser conhecido pessoalmente). Ele não pode ser dado por ninguém. Isso seria impossível. Se acreditarmos que é algo difícil, então assim será. Se o vermos como algo fácil, então será fácil. Quem o contemplar e enxergar verá que não é necessário saber muitas coisas. Compreendendo o objetivo maior faz com que se saiba tudo. E isso é a verdade.
Esse é o caminho do Buddha. O Buddha deu seus ensinamentos com o desejo de beneficiar todos os seres. Ele desejou que fôssemos para além do sofrimento e que atingíssemos a paz. Não é que precisamos primeiro morrer para que possamos transcender o sofrimento. Não devemos pensar que iremos atingi-lo depois da morte; podemos ir para além do sofrimento aqui e agora, no presente. Transcenderemos a partir de nossas próprias percepções das coisas, nesta vida mesmo, a partir das visões que surgem em nossas mentes. Então, sentados, estaremos felizes; deitados, estaremos felizes; onde quer que estejamos, estaremos felizes. Tornamo-nos pessoas sem problemas, que não experienciam resultados ruins e que vivem em um estado de liberdade. A mente torna-se clara, luminosa e tranquila. Não há mais a escuridão ou nada que a corrompa. Essa é uma pessoa que atingiu a suprema felicidade do caminho do Buddha. Por favor, investigue isso por conta própria. Todos vocês, praticantes laicos, por favor, contemplem isso para que obtenham entendimento e habilidade. Se você sofrer, então pratique para aliviar o sofrimento. Se ele é grande, torne-o pequeno; e, se ele é pequeno, faça-o acabar. Cada um terá que fazer isso por si mesmo. Dessa forma, por favor, faça um esforço e considere essas palavras. Que todos vocês prosperem e se desenvolvam.
Traduzido pelo Grupo de Tradução do Centro Nalanda
com a permissão dos detentores do copyright
© 2015 Edições Nalanda
Nota: “Os Ensinamentos de Ajahn Chah” consiste de uma coletânea de ensinamentos dados por um dos mais importantes mestres da tradição das florestas da linhagem Theravada da Thailândia.
* Se você tem habilidades linguísticas e gostaria de traduzir e dispor suas traduções em nossa sala de estudos para que mais pessoas possam ter acesso aos ensinamentos do Dhamma, nós o/a convidamos para entrar em contato conosco. Precisamos de tradutores do espanhol, inglês, alemão e outras línguas.
Ótimo texto. Obrigado por compartilhar.
Comments are closed.