~ por Gil Fronsdal ~
A mente, difícil de ser controlada.
Rapidamente voando para onde queira
Seria bom que se a treinasse.
A mente disciplinada traz a felicidade.
A mente, difícil de ser vista.
Sutilmente voando para onde queira
O sábio a protege.
A mente bem guardada traz a felicidade.
– Dhammapada 35-36
Às vezes as pessoas acham que o objetivo da meditação é parar de pensar – ter uma mente silenciosa. Isso acontece de vez em quando, mas não é necessariamente o objetivo da meditação. Os pensamentos são uma parte importante da vida e a prática da vigilância não deve ser uma luta contra eles. É mais fácil nos beneficiar sendo amigos dos nossos pensamentos do que considerando-os como distrações infelizes. No estado de vigilância, não estamos parando os pensamentos, mas superando qualquer preocupação que temos com eles. No entanto, o estado de vigilância também não é pensar sobre as coisas. É uma observação não-discursiva de nossa vida em todos os seus aspectos. Nos momentos em que predomina o pensamento, a vigilância é a consciência clara e silenciosa do que estamos pensando. Um conselho que eu achei útil e relaxante foi quando alguém disse: “Para o propósito da meditação, nada é particularmente merecedor de se pensar a respeito”. Pensamentos podem ir e vir como desejarem, e o praticante de meditação não precisa se envolver com eles. Não estamos interessados em nos ocupar com o conteúdo de nossos pensamentos. Vigilância em relação aos pensamentos é simplesmente reconhecer o que estamos pensando.
Na meditação, quando os pensamentos são sutis e em segundo plano, ou quando pensamentos aleatórios nos afastam da consciência do presente, tudo o que temos a fazer é retomar a vigilância para a respiração. No entanto, quando a nossa preocupação com pensamentos é mais forte do que a nossa habilidade de deixá-los passar facilmente, então dirigimos a vigilância ao estar claramente consciente de que o pensamento está ocorrendo.
Fortes ataques de pensamento são alimentados principalmente pela identificação e preocupação com pensamentos. Pela clara observação do nosso pensamento, caminhamos para fora do campo de identificação. O pensamento, então, será suavizado para um fluxo calmo e sem obstrução.
Às vezes, pensar pode ser algo forte e compulsivo, mesmo quando estamos conscientes disso. Quando isso acontece, uma abordagem é analisar como tal pensamento afeta o corpo, física e energeticamente. Isso pode causar pressão na cabeça, tensão na testa, aperto dos ombros ou um zumbido como se a cabeça estivesse repleta de milhares de zangões. Deixe a observação vigilante sentir as sensações de aperto, pressão ou o que quer que você descubra. É fácil ser apanhado na história desses pensamentos de preocupação, mas se você sentir a sensação física do pensar, então você estará trazendo a atenção para o momento presente, em vez de trazer a linha da história dos pensamentos.
Quando um tema em particular se mantém reaparecendo em seu pensamento, o mais provável é que tenha sido disparado por uma emoção forte. Em tal caso, não importa quantas vezes você reconheça um pensamento preocupado repetitivo e volte à respiração, a preocupação se mantém reaparecendo caso a emoção associada não tenha sido reconhecida. Por exemplo, as pessoas que planejam muito frequentemente descobrem que os pensamentos de planejamento surgem da apreensão. Se o medo não for reconhecido, tornar-se-á uma fábrica de planejamentos de novos pensamentos. Então, se houver um padrão de pensamento repetitivo, temos de descobrir uma emoção relacionada com ele e depois praticar a vigilância em relação à emoção. Temos de nos enraizar no momento presente na própria emoção. Quando reconhecemos a emoção, frequentemente, os pensamentos por ela engendrados cessarão.
Os pensamentos são grande parte de nossas vidas. Muitos de nós passamos muito tempo habitando o mundo cognitivo de histórias e ideias. A prática da vigilância não irá interromper o pensar, mas vai nos ajudar a evitar seguir os pensamentos que vão surgindo compulsivamente. E isso, por sua vez, irá ajudar a nos tornarmos mais equilibrados de modo que nossos aspectos físicos, emocionais e cognitivos trabalhem juntos como um todo.
Confira também: Pare de achar que meditar é parar de pensar
Traduzido pelo Grupo de Tradução do Centro Nalanda
revisão: Ricardo Sasaki
em acordo com o Autor
© 2015 Gil Fronsdal
Nota: “Tocar o Coração do Assunto” é uma compilação de ensaios editados sobre a prática buddhista da observação vigilante. Muitos destes capítulos começaram como palestras dadas aos grupos de meditação da noite de segunda-feira ou da manhã de domingo do Insight Meditation Center em Redwood City, Califórnia. Alguns dos capítulos foram escritos especificamente para a publicação em jornais, em revistas ou em boletins de notícias buddhistas. Este livro é uma oferenda do Dhamma.
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Olá! Acompanho o site e em especial a coluna do Gil e tenho algumas dúvidas. Esse texto sobre vigilância dos pensamentos me chamou mta atenção porque eu sofro mto c o que alguns chamam de \\”transtorno do pensamento repetitivo\\” ou compulsivo. Normalmente são pensamentos negativos, irreais, sem sintonia alguma c o meu ser. Mas eles me fazem sofrer. Acredito q esses pensamentos surgem em decorrência de uma crença de que não posso ter sentimentos ruins, de que tenho q ser \\”perfeita\\”, e então qnd sinto raiva ou tristeza sou tomada por esses pensamentos q me dizem q posso ser uma pessoa muito má. Esses pensamentos geram mta culpa. Enfim. Ou então são pensamentos auto sabotadores q me dizem q não sou boa o suficiente. Como trabalhar esse padrão através da meditação? Ainda n consegui descobrir uma prática p me curar disso. Faço meditação diariamente, mas n tem sido suficiente. Agradeço pelo auxílio.
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