~ Ajahn Chah ~ 

Gostaria de perguntar sobre a prática de vocês. Vocês todos têm praticado meditação aqui, mas vocês já têm certeza acerca da prática? Perguntem-se, vocês já estão confiantes sobre a prática? Hoje em dia existem todos os tipos de professores de meditação, tanto monges quanto professores leigos, e temo que isso deixe vocês cheios de dúvidas e incertezas sobre o que estão fazendo. É por isso que estou perguntando. No que diz respeito à prática buddhista, não há realmente nada maior ou mais elevado do que esses ensinamentos do Buddha com os quais você tem praticado aqui. Se você tiver uma compreensão clara deles, isso dará origem a uma paz absolutamente firme e inabalável em suas mentes e corações.

Tornar a mente pacífica é conhecido como praticar meditação ou praticar samādhi (concentração). A mente é algo extremamente mutável e pouco confiável. Observando a sua prática até agora, você já viu isso? Alguns dias você se senta em meditação e em pouco tempo a mente está calma; noutros, você se senta e o que quer que você faça, não há calma – a mente constantemente lutando para fugir, até que, eventualmente, consegue. Alguns dias isso vai bem, alguns dias é horrível. É assim que a mente exibe essas condições diferentes para você ver. Você deve entender que os oito fatores do Nobre Caminho Óctuplo (ariya magga) se fundem em sīla (restrição moral), samādhi e paññā (sabedoria). Eles não se unem em nenhum outro lugar. Isto significa que quando você junta os fatores da sua prática, deve haver sīla, deve haver samādhi e deve haver paññā presentes e juntos na mente. Isso significa que, praticando a meditação aqui e agora, você estará criando as causas para o Caminho surgir de uma maneira muito direta.

Na meditação sentada, você é ensinado a fechar os olhos para não gastar tempo olhando para coisas diferentes. Isso porque o Buddha estava ensinando que você deveria conhecer sua própria mente. Observe a mente. Se você fechar os olhos, sua atenção será naturalmente direcionada para a mente – a fonte de muitos tipos diferentes de conhecimento. Esta é uma maneira de treinar a mente para dar origem ao samādhi.

Uma vez sentado com os olhos fechados, estabeleça a consciência com a respiração – torne a consciência da respiração mais importante do que qualquer outra coisa. Isso significa que você dirige a consciência para seguir a respiração e, mantendo-se com ela, você saberá o lugar que é o ponto focal para sati (vigilância), o ponto focal do conhecimento e o ponto focal da consciência mental. Sempre que esses fatores do caminho estiverem funcionando juntos, você será capaz de observar e ver sua respiração, sentimentos, mente e ārammana (objetos mentais), como eles são no momento presente. Em última análise, você saberá o lugar que é tanto o ponto focal do samādhi quanto o ponto de unificação dos fatores do caminho.

Ao desenvolver samādhi, fixe a atenção na respiração e imagine que você está sentado sozinho, sem absolutamente nenhuma outra pessoa e nada mais para incomodá-lo. Desenvolva esta percepção na mente, sustentando-a até que a mente se liberte completamente do mundo exterior e tudo que reste seja simplesmente o conhecimento da respiração entrando e saindo. A mente deve deixar de lado o mundo externo. Não se permita começar a pensar sobre essa pessoa que está sentada aqui, ou aquela pessoa que está ali. Não dê espaço para pensamentos que possam causar confusão ou agitação na mente – é melhor jogá-los fora e acabar com eles. Não há mais ninguém aqui, você está sentado sozinho. Desenvolva esta percepção até que todas as outras memórias, percepções e pensamentos em relação a outras pessoas e coisas diminuam, e que você deixe de duvidar ou perambular sobre as outras pessoas ou coisas em seu redor. Então poderá fixar a sua atenção na inspiração e na expiração. Respire normalmente. Permita que as inspirações e as expirações continuem naturalmente, sem as forçar a serem maiores ou menores, mais fortes ou mais fracas que o normal. Permita que a respiração continue normalmente e em equilíbrio, e então sente-se e observe-a a entrar e a sair do corpo.

Uma vez que a mente tenha abandonado os objetos mentais externos, isso significa que você não se sentirá mais perturbado pelo som do tráfego ou outros ruídos. Você não vai ficar irritado com nada de fora. Que sejam formas, sons ou o que seja, isso não será uma fonte de perturbação, porque a mente não estará prestando atenção nisso – ela se tornará centrada na respiração.

Se a mente estiver agitada por coisas diferentes e você não conseguir se concentrar, tente inspirar bem fundo até que os pulmões estejam completamente cheios, e depois solte todo o ar até não restar nenhum lá dentro. Faça isso várias vezes, depois restabeleça a conscientização e continue a desenvolver concentração. Tendo restabelecido a vigilância, é normal que por um período a mente fique calma, depois mude e se torne agitada novamente. Quando isso acontecer, faça com que a mente fique firme, inspire fundo novamente e, depois, expulse todo o ar de seus pulmões. Encha os pulmões até à capacidade máxima novamente por um momento e depois restabeleça a vigilância na respiração. Fixe sati nas inspirações e expirações e continue a manter a conscientização dessa maneira.

A prática tende a ser dessa maneira, portanto levará muitas sentadas e muito esforço até você se tornar proficiente. Uma vez que atinja a proficiência, a mente irá se desapegar do mundo externo e permanecerá tranquila. Objetos mentais externos serão incapazes de penetrar e perturbar a mente. Uma vez que sejam incapazes de penetrá-la, você será capaz de ver a mente. Você verá a mente como um objeto de consciência, a respiração como outro, e os objetos mentais como outro. Eles estarão todos presentes dentro do campo da consciência, centrado na ponta do seu nariz. Uma vez que sati esteja firmemente estabelecida com as inspirações e as expirações, você pode continuar a praticar à sua conveniência. À medida que a mente se acalma, a respiração, que era grosseira, torna-se correspondentemente mais leve e refinada. O objeto da mente também se torna progressivamente mais sutil e refinado. O corpo parece mais leve, e a própria mente parece progressivamente mais leve e aliviada. A mente se desapega dos objetos mentais externos e você continua a observar internamente.

Daqui por diante sua consciência será desviada do mundo externo e será interiorizada para focar na mente. Uma vez que a mente tenha se organizado e concentrado, mantenha a atenção onde a mente se torne focada. Na medida em que você respira, verá claramente cada inspiração e expiração, sati será forte e a consciência dos objetos mentais e da atividade mental serão mais claros. Nesse momento você verá as características sīla, samādhi e paññā e a maneira como elas se misturam. Isto é conhecido como a unificação dos fatores do Caminho. Uma vez que esta unificação ocorra, sua mente estará livre de qualquer forma de agitação e confusão. Ela se tornará unidirecionada e isto é o que é conhecido como samādhi. Quando você foca a atenção em somente um lugar, neste caso a respiração, você ganha clareza e conscientização devido a presença ininterrupta de sati. À medida que continuar percebendo a respiração com clareza, sati se tornará mais forte e a mente ficará mais sensível sob vários aspectos diferentes.

Você verá a mente no centro daquele local (a respiração) unificada com a consciência focada internamente, ao invés de se voltar para o mundo exterior. O mundo exterior gradualmente desaparece a partir dessa consciência e a mente não mais irá desenvolver qualquer tarefa no exterior. É como se você chegasse no interior da sua ‘casa’ onde todas suas faculdades sensoriais se juntassem para formar uma unidade compacta. Você está em seu relaxamento e a mente está livre de todos objetos externos. A consciência se mantém com a respiração e com o decorrer do tempo, ela penetrará mais e mais profundamente, tornando-se progressivamente mais refinada. Por fim, a consciência da respiração torna-se tão refinada que a respiração parece desaparecer. Você poderia dizer que ou a consciência da sensação da respiração desapareceu ou que a respiração em si mesma desapareceu. Então, surge aí um novo tipo de consciência – a consciência de que a respiração desapareceu. Em outras palavras, a consciência de que a respiração torna-se tão refinada que é difícil defini-la.

Então, pode ser que você esteja apenas sentado ali e não haja respiração. Na verdade, a respiração ainda está ali, mas tornou-se tão refinada que parece ter desaparecido. Por quê? Porque a mente está em seu estado mais refinado, com um tipo especial de conhecimento. Tudo o que permanece é o conhecimento. Ainda que a respiração tenha desaparecido, a mente ainda está concentrada com o conhecimento de que a respiração não está lá. Conforme você continua, o que você deve tomar como objeto da meditação? Tome exatamente esse conhecimento como objeto da meditação – em outras palavras, o conhecimento de que não há respiração – e sustente-o. Você poderia dizer que um tipo específico de conhecimento foi estabelecido na mente.

Neste momento, algumas pessoas podem ter dúvidas surgindo, porque é aqui que o nimitta [1] pode surgir. Este pode ser de vários jeitos, incluindo ambos: formas e sons. É aqui que todo tipo de coisas inesperadas podem acontecer no andamento da prática. Se o nimitta surgir (algumas pessoas os têm, outras não) você deve entendê-lo de acordo com a verdade. Não duvide ou permita que você fique alarmado.

Nesse estágio, você deve tornar a mente inabalável em sua concentração e ser especialmente vigilante. Algumas pessoas se surpreendem quando notam que a respiração desapareceu, pois estão acostumadas a ter a respiração aí. Quando parece que a respiração se foi, você pode ter medo de que vai morrer. Aqui você deve estabelecer o entendimento de que é apenas a natureza da prática progredir dessa maneira. O que você vai observar como objeto da meditação agora? Observe esse sentimento de que não há respiração e o sustente como objeto da atenção enquanto continua a meditar. O Buddha descreveu isso como a forma de samādhi mais firme, mais inabalável. Há apenas um objeto mental firme e inabalável. Quando sua prática de samādhi atingir esse ponto, haverá muitas mudanças e transformações incomuns e refinadas ocorrendo na mente, das quais você pode estar consciente. A sensação do corpo será de estar mais leve ou ela poderá até mesmo desaparecer completamente. Você poderá sentir como se estivesse flutuando no ar e parecer estar completamente sem peso. Pode ser como se você estivesse no meio do espaço e para onde quer que dirija suas faculdades dos sentidos, elas não parecerão registrar nada. Mesmo sabendo que o corpo ainda está ali, você experienciará o vazio completo. Essa sensação de vazio poderá ser bem estranha.

Conforme você continua praticando, entende que não existe nada para se preocupar. Estabeleça este sentimento de estar relaxado e despreocupado seguramente na mente. Uma vez que a mente esteja concentrada e direcionada, nenhum objeto mental será capaz de penetrar e perturbar, e você será capaz de se sentar assim por quanto tempo quiser. Você será capaz de sustentar concentração sem quaisquer sentimentos de dor e desconforto.

Tendo desenvolvido samādhi neste nível, você poderá entrar ou sair quando quiser do samādhi. Você sai à sua conveniência e facilidade. Você se retira à vontade, e não porque está se sentindo preguiçoso, sem energia ou cansado. Você se retira do samādhi porque é o momento apropriado para se retirar, e você sai dele à sua vontade.

Isto é samādhi: você está relaxado e à vontade. Você entra e sai sem problemas. A mente e o coração estão à vontade. Se você genuinamente está assim, significa que sentar-se em meditação e entrar em samādhi por apenas trinta minutos ou uma hora lhe permitirá permanecer calmo e em paz por muitos dias depois. Experimentar os efeitos de samādhi assim por vários dias tem um efeito purificador na mente – o que você experienciar se tornará um objeto para a contemplação. É aqui que a prática realmente começa. É o fruto que surge quando o samādhi amadurece.

Samādhi desempenha a função de acalmar a mente. Samādhi desempenha uma função, sīla desempenha uma função e paññā desempenha uma função. Essas características nas quais você põe atenção e desenvolve na prática estão ligadas, formando um círculo. Este é o modo como elas se manifestam na mente. Sīla, samādhi e paññā surgem na mente e amadurecem no mesmo lugar. Uma vez que a mente está calma, ela se tornará cada vez mais contida e serena devido a presença de paññā e ao poder de samādhi. Ao que a mente se torna mais serena e refinada, há o surgimento da energia que agirá para purificar sīla. Uma maior pureza de sīla facilita o desenvolvimento de um estado de samādhi mais forte e refinado, e isso por sua vez dará suporte ao amadurecimento de paññā. Os três ajudam um ao outro nesse sentido. Cada aspecto da prática age como um fator de suporte para o outro – no final, esses termos tornam-se sinônimos. À medida que estes três fatores amadurecem juntos, eles vão formando um círculo completo até dar origem ao Magga. O Magga é uma síntese dessas três funções da prática atuando sistematicamente e sem percalços. Ao praticar, você precisa conservar essa energia. É a energia que levará a vipassanā (insight) ou a paññā. Uma vez atingido esse estágio (no qual o paññā fica incorporado à mente, mesmo se a mente não estiver em paz), paññā será uma fonte constante e independente de energia para a prática. Não importa se a sua mente estiver ou não em paz, você não deve se apegar. Uma vez livre desse fardo, seu coração ficará muito mais leve. Você ficará tranquilo diante de objetos mentais tanto agradáveis quanto desagradáveis. A mente permanecerá tranquila.

Outra coisa importante é compreender que quando você interrompe a prática formal de meditação, se não houver sabedoria funcionando na mente, você desistirá completamente dela sem qualquer contemplação, desenvolvimento da consciência ou reflexão sobre o trabalho que ainda tem de ser feito. Na verdade, quando você desiste do samādhi, sabe claramente na mente que você desistiu. Feito isso, continua a se comportar de maneira normal. Mantenha a vigilância e a consciência o tempo todo. Você não pratica meditação apenas quando está sentado – samādhi significa a mente que é firme e inabalável. Enquanto você segue com sua vida, torne a mente firme e estável e mantenha essa perseverança como objeto da mente todo o tempo. Você deve estar praticando sati e sampajañña (conhecimento completo) continuamente. Após você se levantar da prática formal sentada e retornar a seus negócios – caminhar, dirigir carros e mais – sempre que seus olhos virem uma forma ou suas orelhas escutarem um som, mantenha a consciência. Enquanto você experiencia objetos-mentais que fazem surgir o gostar ou o não-gostar, tente manter consistentemente a consciência do fato de que tais estados mentais são impermanentes e incertos.  Desta forma, a mente permanecerá calma e num estado de “normalidade”

Enquanto a mente estiver calma, use-a para contemplar objetos mentais. Contemple a totalidade desta forma que é o corpo físico. Você pode fazer isso a qualquer momento e em qualquer postura: seja praticando a meditação formal, relaxando em casa, no trabalho ou em qualquer situação em que se encontre. Mantenha a meditação e a reflexão sempre ativas. Ao sair para dar uma caminhada e ver folhas mortas no chão debaixo de uma árvore temos uma oportunidade para contemplar a impermanência. Tanto nós como as folhas somos iguais: quando envelhecemos, murchamos e morremos. As outras pessoas são todas iguais. Isso eleva a mente ao nível de vipassanā, contemplar a verdade do modo como as coisas são, todo o tempo. Seja andando, de pé, sentado ou deitado, sati é mantida de forma uniforme e consistente. Isso é praticar meditação corretamente – você tem que seguir a mente de perto, verificando-a em todos os momentos.

Praticando aqui e agora às sete horas da noite, sentamos e meditamos juntos por uma hora e agora paramos. Pode ser que sua mente pare de praticar completamente e não tenha continuado com a reflexão. Essa é a maneira errada de fazer isso. Quando paramos, tudo o que deveria parar é a reunião formal e a meditação sentada. Você deve continuar praticando e desenvolvendo conscientização de forma consistente, sem desistir.

Eu sempre ensinei que se você não pratica consistentemente, é como gotas d’água. É como gotas d’água porque a prática não é um fluxo contínuo e ininterrupto. Sati não é sustentado uniformemente. O ponto importante é que a mente é a prática e nada mais. O corpo não faz isso. A mente é o trabalho, a mente é a prática. Se você entender isso claramente, verá que não precisa necessariamente fazer meditação sentada formal para que a mente conheça o samādhi. A mente é aquela que faz a prática. Você tem que experimentar e entender isso por si mesmo, em sua própria mente.

Depois de ter visto isso por si mesmo, você desenvolverá a consciência na mente em todos os momentos e em todas as posturas. Quando você mantém sati como um fluxo constante e ininterrupto, isso é como gotas que se juntaram para formar um fluxo suave e contínuo de água corrente. Sati está presente na mente de momento a momento e, consequentemente, haverá consciência dos objetos mentais em todos os momentos. Se a mente for contida e ajustada por sati ininterrupto, você conhecerá os objetos mentais toda vez que surgirem estados mentais sadios e insalubres. Você conhecerá a mente que é calma, e a mente que está confusa e agitada. Onde quer que vá, você estará praticando assim. Se treinar a mente dessa maneira o resultado será que sua meditação irá amadurecer rapidamente e com sucesso.

Por favor, não entenda mal. Hoje em dia é comum as pessoas fazerem cursos de vipassanā durante três ou sete dias, onde não precisam falar ou fazer nada além de meditar. Talvez você tenha ido a um retiro de meditação silencioso, por uma ou duas semanas, e depois voltado à sua vida diária normal. Você pode sair pensando que você ‘fez vipassanā’ e, porque sente que sabe tudo sobre isso, então você continua indo a festas, discotecas e entregando-se a diferentes formas de prazer sensorial. Quando você faz isso, o que acontece? Não haverá nenhum dos frutos de vipassanā deixado no final. Se você vai e faz todo tipo de coisas ruins, que perturbam e atrapalham a mente, desperdiçando tudo, e volta no ano que vem para outro retiro de sete dias ou algumas semanas, voltando novamente a sair e continuando com as festas, discotecas e bebidas, isso não é uma prática verdadeira. Isso não é patipadā ou o caminho para o progresso.

Você precisa fazer um esforço para renunciar. Você deve contemplar até que veja os efeitos prejudiciais que advêm de tal comportamento. Você vê o mal que faz beber e ir pela cidade. Reflita e veja o mal inerente em todos os diversos comportamentos inábeis e auto complacentes, até que esteja totalmente esclarecido. Tal irá provocar um ímpeto para que recue um passo e mude o seu modo. Então irá encontrar alguma paz real. Para experimentar a paz mental, você tem que ver claramente as desvantagens e perigos em tais formas de se comportar. Isso é a maneira correta de praticar. Se fizer um retiro de silêncio por sete dias, onde não tenha que falar ou relacionar-se com outros, e logo depois, você vai fofocar e se auto permitir a comportamentos prejudiciais por sete meses, como é que você vai ganhar algum benefício dos sete dias de prática?

Eu sugeriria a todas as pessoas leigas presentes, que estão praticando para desenvolver consciência e sabedoria, compreender este ponto. Tente praticar consistentemente. Veja as desvantagens em praticar sem sinceridade e consistência, e tente manter um empenho na prática de forma dedicada e contínua. Somente isto. Pode então se tornar uma possibilidade real que você possa colocar um fim a kilesa (impurezas mentais). Porém o estilo de não falar e não se divertir por sete dias, seguido de seis meses de total satisfação sexual, sem nenhuma vigilância ou moderação, somente levará ao desperdício dos ganhos provenientes da meditação – não sobrará nada. É como se você fosse trabalhar por um dia e ganhasse vinte libras, mas depois sair e gastar trinta libras em comida e outras coisas no mesmo dia; haveria economizado algum dinheiro? Teria ido todo embora. É o mesmo que ocorre com a meditação.

Isso é um tipo de lembrete para todos vocês, por isso peço-lhes perdão. É preciso falar desta maneira, para que os aspectos problemáticos da prática se tornem claros para vocês, e, consequentemente, vocês poderão abandoná-los. Você poderia dizer que o motivo pelo qual veio praticar foi para aprender a evitar fazer coisas erradas no futuro. O que acontece quando faz coisas erradas? Fazer coisas erradas o leva à agitação e ao sofrimento, quando não há bondade na mente. Este não é o caminho para a paz de espírito. É simples assim. Se você pratica em um retiro, sem falar durante sete dias, e então se entrega a prazeres durante alguns meses, não importa o quão rigoroso tenha praticado durante esses sete dias, não haverá extraído nenhum benefício duradouro da prática. Praticar dessa maneira não o levará a lugar algum. Muitos lugares que ensinam meditação não lidam de fato ou não vão além desse problema. Na verdade, você deve conduzir sua vida diária de uma forma consistentemente calma e contida.

Na meditação, tem de estar constantemente voltando a sua atenção para a prática. É como plantar uma árvore. Se você planta uma árvore num lugar e depois de três dias a arranca e a planta num local diferente, depois de mais três dias a arranca e a planta num outro lugar, ela simplesmente morre sem produzir nada. Praticar meditação assim também não produz nenhum fruto. Isso é algo que você precisa entender por si mesmo. Contemple isso. Experimente você mesmo quando for para casa. Pegue numa pequena árvore e plante-a num local e, depois de alguns dias, puxe-a e plante-a num local diferente. Ela simplesmente morrerá sem nunca dar frutos. É o mesmo fazer um retiro de meditação por sete dias, seguido de sete meses de comportamento desenfreado, permitindo que a mente fique suja, e depois voltar a fazer outro retiro por um curto período, praticando estritamente sem falar e depois sair e ser incontido novamente. Tal como acontece com a árvore, a meditação simplesmente morre – nenhum dos frutos saudáveis é mantido. A árvore não cresce, a meditação não cresce. Eu digo que praticar dessa maneira não dá muito fruto.

Realmente, não gosto de dar palestras desta forma. É porque me sinto triste por vocês que eu tenho que falar criticamente. Quando você está fazendo as coisas erradas, é meu dever dizer a você, mas estou falando isso por compaixão por vocês. Algumas pessoas podem se sentir desconfortáveis e pensar que estou apenas repreendendo-as. Certamente, eu não estou apenas repreendendo você por você mesmo, estou ajudando a indicar o que você está fazendo errado, para que você saiba disso. Algumas pessoas podem pensar: “Luang Por está apenas desabafando conosco”, mas não é assim. Em um longo espaço de tempo, eu posso vir e dar uma palestra apenas uma vez que – se eu desse palestras como essa todos os dias, você realmente ficaria chateado! Mas a verdade é que não é você quem fica chateado, é apenas o kilesa que está chateado. Eu vou dizer apenas isso por agora.

[1] Nimitta: um sinal ou imagem que pode ocorrer no que diz respeito a ver, ouvir, cheirar, provar, tocar ou a impressão mental, e que surge baseada em citta (mente), ao invés de faculdade sensorial relevante. Exemplos de Nimitta incluem: visão ou audição de seres de outros reinos de existência, premonição, clarividência, etc…


Traduzido pelo Grupo de Tradução do Centro Nalanda
com a permissão dos detentores do copyright
© 2018 Edições Nalanda

Nota: “Os Ensinamentos de Ajahn Chah” consiste de uma coletânea de ensinamentos dados por um dos mais importantes mestres da tradição das florestas da linhagem Theravada da Tailândia.

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