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O Mahā Parinibbāna Sutta [1], o discurso sobre a morte do Bem-Aventurado, registra em tocantes detalhes todos os eventos que aconteceram durante os últimos meses e dias da vida do Buddha.

O Bem-Aventurado havia alcançado a madura idade de oitenta; seus dois principais discípulos, Sāriputta e Mahā Moggallāna haviam falecido três meses antes. Pajāpati Gotami, Yasodharā e Rāhula tampouco viviam. O Buddha estava então em Vesāli, e como a estação chuvosa havia chegado, foi passar as chuvas com um grande grupo de monges em Beluva. Ali uma inclemente doença tomou conta dele, causando-lhe muita dor e agonia, mas o Bem-Aventurado, atento e controlado, aguentou-a pacientemente. Estava à beira da morte; mas ele sentiu que não poderia falecer sem cuidar da Ordem. Então com um grande esforço de vontade ele suprimiu aquela doença e se manteve vivo. Sua doença gradualmente esvaeceu, e quando estava melhor chamou o Venerável Ānanda, seu atendente pessoal, e dirigiu-se assim a ele:

“Ānanda, já estou velho e vivi muitos anos, minha jornada se aproxima do fim. Cheguei aos meus últimos dias, estou chegando aos oitenta anos; e assim como um carro velho, Ānanda, pode apenas com muito cuidado continuar se movendo, também o corpo do Tathāgata só pode prosseguir com muita infusão de força de vontade. É apenas quando o Tathāgata, deixando de prestar atenção a qualquer coisa exterior e a experimentar sensações mundanas, atinge a concentração da mente sem sinal (animitta) e habita nela – é apenas então que o corpo do Tathāgata está em paz”.

“Portanto, Ānanda, sejam como ilhas para vocês mesmos. Sejam seu próprio refúgio. Não temos recurso a mais ninguém para refúgio. Segurem-se ao Dhamma como a uma ilha. Segurem-se fortemente ao Dhamma como refúgio. Não busquem outro refúgio. Quem quer que, Ānanda, seja agora ou depois que eu tiver ido, for como ilhas para si mesmos, refúgios para si mesmos, não buscará refúgio externo – são esses, Ānanda, entre meus discípulos que alcançaram o cume mais alto! Mas devem ser afeitos ao progresso”.

De Beluva o Buddha viajou a Mahāvana, e lá, chamando uma reunião de todos os monges residindo na vizinhança de Vesāli, dirigiu-se a eles dizendo: “Discípulos, o Dhamma que percebi tornei conhecido a vocês. Tornem-se mestres do Dhamma, pratiquem-no, meditem sobre ele, e o espalhem: por pena pelo mundo, pelo bem e ganho de deuses e homens”.

O Buddha concluiu sua exortação dizendo:

“Meus anos, muitos; minha vida, vai-se;

Vos deixo e parto, só em mim confio!

Discípulos, zelosos sede, e santos!

Vigiais, resolutos, vossos peitos!

Atenham-se à verdade e à lei com força,

Cruzem o mar vital, findem a dor”.

Doente, cansado, o Bem-Aventurado seguiu viajando com muita dificuldade, seguido pelo Venerável Ānanda e um grande grupo de monges. Mesmo nessa última longa e cansativa viagem, o Buddha nunca falhou em sua atenção para com os outros. Ele instruiu Cunda, o ferreiro, que lhe ofereceu sua última refeição. Então em seu caminho, ele parou para Pukkusa, um discípulo de Ālāra Kālāma, respondeu a todas as suas questões e o instruiu de tal modo que Pukkusa se ofereceu como seguidor do Buddha, do Dhamma e da Sangha.

O Bem-Aventurado chegou ao Arvoredo de Sāla dos Mallas de Kusinārā – o fim da jornada. Sabendo que ali seria seu descanso derradeiro, ele disse ao Venerável Ānanda: “Estou fatigado, Ānanda, e me deitaria. Estenda para mim o divã com sua cabeça para o norte entre as árvores sāla gêmeas”.

Então deitou-se do lado direito, composto e atento, com uma perna descansando sobre a outra. Falando então ao Venerável Ānanda, o Bem-Aventurado disse:

“Eles que cumprem as maiores e menores tarefas, aqueles que são corretos na vida, andando conforme os preceitos – são eles quem corretamente honram, reverenciam e veneram o Tathāgata, o Perfeito, com a mais valorosa homenagem. Portanto, Ānanda, seja firme no cumprimento das maiores e menores tarefas, e seja correto na vida, andando conforme seus preceitos. Assim, Ānanda, você deve se treinar”.

 


[1] DN 16, traduzido como Last Days of the Buddha (BPS).

 

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