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Quando o príncipe cresceu, o desejo fervoroso de seu pai era que o filho se casasse, constituísse família e se tornasse seu digno sucessor, já que frequentemente voltava à sua mente, com terror, a predição do sábio Kondañña, e assim temia que o príncipe um dia desistisse de seu lar pela vida errante de um asceta. De acordo com os costumes daquela época, já aos dezesseis anos o príncipe foi casado com sua prima, a bela princesa Yasodhara, a única filha do rei Suppabuddha e da rainha Pamita dos koliyas. A princesa tinha a mesma idade que o príncipe.
O pai providenciou a ele os maiores confortos. Ele tinha, diz a história, três palácios, um para cada uma das três estações do ano indiano. Sem lhe faltar nada das alegrias terrenas da vida, ele vivia entre canções e danças, no luxo e no prazer, sem nada saber da tristeza. No entanto, todos os esforços do pai para tê-lo como prisioneiro dos sentidos e orientá-lo para as coisas mundanas de nada adiantaram. O empenho do rei Suddhodana para manter as misérias da vida longe dos olhos perscrutadores do filho, apenas aguçaram a curiosidade do príncipe Siddhartha, e sua resoluta busca pela verdade e Iluminação. Com o avançar da idade e da maturidade, o príncipe começou a perceber os desgostos do mundo.
Em uma ocasião, quando o príncipe se dirigia com seu cocheiro Channa aos jardins reais, ele viu para seu espanto o que seus olhos nunca haviam testemunhado: um homem enfraquecido com a idade. No último estágio do envelhecimento, gritava com uma voz lúgubre:
“Ajude-me mestre! Ponha-me de pé; ó por favor! Ou morrerei antes de chegar em casa!” [1]
Esse foi o primeiro choque que o príncipe recebeu. O segundo foi a visão de um homem, apenas pele e osso, absolutamente infeliz e desesperançado, “atingido por alguma peste. Toda força havia se esvaído das pernas, da cintura e do pescoço, e toda graça e alegria da humanidade lhe havia abandonado” [2]. Em uma terceira ocasião ele viu um grupo de parentes trazendo em seus ombros o corpo de um de seus queridos para a cremação. Esses sinais lutuosos, vistos pela primeira vez em sua vida, o tocaram profundamente. De seu cocheiro ele soube que mesmo ele, sua amada princesa Yasodhara, e seus amigos e parentes – todos, sem exceção, são sujeitos ao envelhecimento, à doença e à morte.
Logo após isso o príncipe viu um recluso movendo-se com passos medidos e olhos abaixados, calmo e sereno, distante e independente. Ele se impressionou com o semblante sereno desse homem. Ele soube de Channa que esse recluso era alguém que havia abandonado seu lar para viver uma vida de pureza, para buscar a verdade e a resposta para o enigma da vida. Pensamentos de renúncia passaram pela mente do príncipe e em profunda contemplação ele rumou para casa. O palpitar do coração de uma humanidade agonizante e atormentada encontrou um eco de resposta em seu próprio peito. Quanto mais ele entrava em contato com o mundo fora dos muros de seu palácio, mais ele se convencia de que o mundo carecia de verdadeira felicidade. Mas, antes de chegar ao palácio, um mensageiro veio a ele com a notícia de que Yasodhara havia tido um filho. “Um grilhão foi posto em mim”, proferiu o príncipe, e retornou para o palácio.
[1] Edwin Arnold, The Light of Asia.
[2] Ibid.