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Como a Vigilância Funciona e Quando Não Funciona
Como um peixe fora da água,
Jogado em solo alto,
A mente se debate
Na tentativa de escapar o comando de Mara.
– Dhammapada 34
Ao praticar a vigilância, pode ser útil recordar que a prática funciona mesmo quando não parece funcionar. Talvez isto seja melhor explicado com uma analogia.
Considere um córrego de montanha onde a água é bastante clara, e parece plácida e quieta. Mas se você colocar um pedaço de pau na água, uma volta em torno da pequena vara mostra que na verdade a água está fluindo. A vara torna-se um ponto de referência que nos ajuda a perceber o movimento da água.
Da mesma forma, a prática da vigilância é um ponto de referência para perceber aspectos de nossas vidas que possam ter passado desapercebidos. Isso é especialmente verdadeiro para vigilância sobre a respiração. Na tentativa de estar presente para a respiração, você pode tornar-se consciente das preocupações e da dinâmica da mente que puxa a atenção para longe da respiração. Se você puder permanecer com a respiração, então, obviamente, a vigilância na respiração está funcionando. No entanto, se sua tentativa de permanecer com a respiração resulta em maior consciência sobre o que lhe puxa para longe da respiração, então, a prática também está funcionando.
Sem a referência da prática da vigilância, é bastante fácil continuar desatento às preocupações, tensões e impulsos que operam em sua vida. Por exemplo, se você está ocupado fazendo muitas coisas, a preocupação em fazer as coisas pode cegar você para a tensão se acumulando no corpo e mente. Só parando, em vigilância, você pode tomar conciência das tensões e sentimentos que estão presentes.
Às vezes, a sua tentativa de permanecer com a respiração é a única maneira de se ver a velocidade com que a mente está correndo. Andando de trem, se você mantiver o olhar nas montanhas ao longe, você talvez não perceba a velocidade do trem. No entanto, se você colocar sua atenção mais perto, os postes de telefone aparecendo e desaparecendo rapidamente ao lado dos trilhos revelam a velocidade do trem. Mesmo quando você tiver dificuldade em permanecer atento à respiração, o seu esforço contínuo para voltar à respiração pode destacar o que de outra forma poderia passar despercebido, ou seja, o ritmo rápido da mente. Na verdade, quanto mais rápido o pensamento e maior a preocupação, maior a necessidade de algo tão perto quanto a respiração para ajudar a trazer a consciência para o que está acontecendo. Essa consciência, por sua vez, frequentemente traz algum alívio em relação à preocupação.
Quando permanecermos com a respiração durante a meditação for difícil, podemos facilmente ficar desanimados. No entanto, essa dificuldade é uma oportunidade para nos tornarmos mais conscientes das forças da mente e dos sentimentos causadores das distrações. Lembre-se, se aprendermos com o que está acontecendo, independentemente do que está acontecendo, a prática está funcionando, mesmo quando parece não estar funcionando, quando não conseguimos permanecer com a respiração.
Mesmo quando é relativamente fácil permanecer com a respiração, a vigilância com relação à respiração pode ainda funcionar como um importante ponto de referência. Nesse caso, pode não ser um ponto de referência para as fortes forças de distração, mas sim para pensamentos e sentimentos mais sutis que podem estar perto da raiz de nossas preocupações e motivações. Não persiga esses pensamentos ou sentimentos. Simplesmente esteja conciente de que estão presentes, enquanto continua a desenvolver a meditação sobre a respiração, para que a respiração possa se tornar um ponto de referência ainda mais refinado. Quando estamos estabilizados na respiração, o coração torna-se claro, tranquilo e calmo como um lago na montanha. Então podemos ver até o seu fundo.
tradução: Patricia Gurgel Segrillo
revisão: Ricardo Sasaki
em acordo com o Autor
© 2011 Gil Fronsdal
Nota: “Tocar o Coração do Assunto” é uma compilação de ensaios editados sobre a prática buddhista da observação vigilante. Muitos destes capítulos começaram como palestras dadas aos grupos de meditação da noite de segunda-feira ou da manhã de domingo do Insight Meditation Center em Redwood City, Califórnia. Alguns dos capítulos foram escritos especificamente para a publicação em jornais, em revistas ou em boletins de notícias buddhistas. Este livro é uma oferenda do Dhamma.
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Achei muito boa a pegada desse texto do Gil. É esclarecedor sobre a naturalidade que pode haver no processo de tentativa de concentração. Só ele já é um mérito ! A partir dele podemos caminhar…
Grata.
Marílis
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