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1. A Prática Espiritual Conducente À Libertação
O benefício espiritual e a prática para o seu atingimento estão diretamente relacionados com a meta mais elevada do Buddha-Dhamma. É de extrema importância, concernente a todo o escopo dos ensinamentos buddhistas. Porque muitos detalhes do seu desenvolvimento requerem uma compreensão especial, os textos referem-se a ele com frequência e extensamente. Alguns textos, como por exemplo o Visuddhi Magga, esquematizam esse desenvolvimento como um sistema ordenado. Em vez de descrever detalhes aqui, vou apenas oferecer um resumo geral.
Aquelas pessoas que discernem as três características crescem em sabedoria e adquirem uma compreensão mais clara da vida. Além disso, elas normalmente são submetidas a duas importantes fases de transformação mental:
Fase 1: Uma vez que uma pessoa compreende a condicionalidade de forma mais clara, e obtém uma visão intermediária da impermanência, dukkha e não-eu, uma reação ocorre. Um sentimento distinto de qualquer outro experimentado anteriormente surge. Considerando que, anteriormente, a pessoa era encantada e deleitada pelos objetos dos sentidos, tendo agora discernido as três características, as sensações transformam-se em descontentamento e aversão e, às vezes, em desgosto. Nessa fase, emoções são predominantes sobre a sabedoria. Apesar da deficiência de sabedoria e da dubiedade mental que ainda resta, essa fase, todavia, é importante e, ocasionalmente, até mesmo crucial para escapar do poder do apego e para atingir a perfeição na fase 2. Por outro lado, se parar neste ponto o prejuízo para a pessoa pode ser danoso.
Fase 2: Nessa fase a pessoa tem já cultivado um profundo conhecimento da realidade: a sabedoria já entrou num estágio de consumação. Todos os sentimentos de repulsa desaparecem, substituídos por um sentimento de equanimidade. Não há nenhuma paixão nem desgosto, nenhum apego ou aversão. Resta apenas uma compreensão lúcida das coisas como elas realmente são, além de uma sensação de amplitude. A pessoa é capaz de agir de forma apropriada e justa. Esse nível de desenvolvimento mental, incluído na prática da meditação de insight (vipassanā), é chamado de “conhecimento equânime” (saṅkhārupekkhā-ñāṇa). [70/39] É um estágio necessário para realização direta da verdade e da completa liberdade do coração.
Há dois importantes frutos de libertação, especialmente quando a libertação está completa (no estágio 2):
1) A libertação do sofrimento: indivíduos libertos estão aliviados de toda a opressão que resulta do apego. A felicidade existe independentemente dos sedutores objetos materiais. A mente está sem entraves, alegre, sem medo e sem sofrimento. Não é atingida pelas oscilações das condições do mundo (lokadhamma)*. Esse aspecto afeta igualmente a ética, uma vez que tais pessoas não geram problemas por insuflar infelicidade nos outros, o que é uma causa importante do conflito social. Eles desenvolvem virtudes, nomeadamente a amorosidade e a compaixão, que atuam para o bem-estar de todos.
* Os Oito ‘Ventos Mundanos’: ganho e perda, elogio e censura, prazer e dor, fama e obscuridade.
2) Ausência de impurezas: pessoas libertas são livres do poder das impurezas, por exemplo ganância, raiva, avareza, preconceito, confusão, inveja e presunção. Suas mentes estão claras, não tolhidas, calmas e puras. Essa característica tem influência direta no comportamento, tanto individual quanto social. Pessoalmente, elas aplicam a sabedoria de uma forma pura, não são tendenciosas, por exemplo, por causa de aversão ou ambição egoísta. Externamente, elas não cometem ofensas incitadas pelos ditames das impurezas. Elas realizam ações saudáveis de forma justa e sem vacilação, pois nenhuma impureza, tais como a preguiça ou o egocentrismo, impede ou perturba.
No entanto, quando ainda não plenamente desenvolvida e estando a parte (i. e. não suportada pela prática da diligência), a prática espiritual pode ser danosa, visto que o bem pode ser uma causa para a imperfeição. [82] Tendo alcançado algum ganho espiritual e encontrado paz e felicidade, as pessoas tendem a deleitar-se com esta felicidade. Elas tendem a acomodar-se em seus louros, abandonar os esforços ou negligenciar os compromissos ainda não cumpridos. Em resumo, elas caem em negligência, como confirmado pelas palavras do Buddha:
E como, Nandiya, é um nobre discípulo que permanece em negligência? Aqui, Nandiya, um nobre discípulo possui uma firme confiança no Buddha… no Dhamma… e na Sangha… Ele possui as virtudes caras aos nobres… Contente com esta firme confiança… Com estas virtudes, ele não faz mais esforço… Desta forma, Nandiya, um nobre discípulo permanece em negligência. [83]
A maneira de evitar tal prejuízo é integrar a segunda prática. [70/40]
Traduzido por Jorge Furtado para o Centro de Estudos Buddhistas Nalanda
em acordo com Buddhadhamma Foundation
Para Distribuição Gratuita
© 2011 Edições Nalanda
Nota: “Escritos sobre o Buddha Dhamma” consiste de um conjunto de escritos de um dos mais respeitados monges da Thailândia contemporânea, Venerável Ajahn Payutto.
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