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~ por Ven. Ajahn Payutto ~

2B. Definições das Escrituras – Dukkha


O Patisambhidamagga oferece uma concisa definição para dukkhatā: algo é considerado dukkha no sentido de que ‘é sujeito ao perigo’ (bhaya-aṭṭhena) [13]. Bhaya também pode significar ‘perigoso’ ou ‘temível’. Todos os fenômenos condicionados invariavelmente se desintegram e dissolvem-se; eles, portanto, não oferecem nenhuma segurança verdadeira, nem alívio ou garantia. Quaisquer de tais fenômenos são ameaçados pela destruição e desintegração. O objeto assim engendra perigo – tanto quanto medo – para quem se agarra a ele. Os comentários desenvolvem o significado de dukkhatā, incluindo estas duas definições frequentemente utilizadas: primeiro, algo é considerado dukkha no ‘sentido de estar sob a perpétua pressão do surgimento e desintegração’ (uppādavaya-paṭipīḷanaṭṭhena [14] ou uppādavaya-paṭipīḷanatāya [15]). Há pressão sobre qualquer coisa que interaja com o objeto e o objeto em si está sob a tensão de seus elementos componentes [16]. Segundo ‘porque é uma base para o sofrimento’ (dukkha-vatthutāya [17] ou dukkha-vatthuto [18]). [70/10] Um objeto marcado por dukkha é uma base para o sofrimento por, por exemplo, causar dor. Falando de forma simples, dukkha significa causar dor.

A mais completa compilação de definições para dukkha nos comentários é a que segue abaixo. Algo é considerado dukkha por estas quatro razões [19]:

1. Abhiṇha-sampatipīḷanato: porque é continuamente oprimido; sujeito a constante pressão devido ao surgimento e dissolução; há persistente atrito entre as partes que o compõem, ou entre objetos associados.

2. Dukkhamato: ‘Porque é ‘difícil de suportar’; não durável; incapaz de ser sustentado no estado original; compelido a mudar, tornar-se outra coisa e perder a identidade devido ao surgimento e cessação [20].

3. Dukkhavatthuto: porque é uma base para o sofrimento; produz vários tipos de aflição. Por exemplo: dor, desconforto e angústia. [21]

4. Sukha-paṭikkhepato: porque se opõe e obstrui a felicidade (sukha).
A felicidade só existe como uma sensação/sentimento. A condição básica é a de dukkha – a pressão, tensão e atrito – que é uma característica de todas as formações/compostos. Esta pressão causa sensações/sentimentos de opressão e estresse, que chamamos “dor” (dukkha-vedanā). À redução da pressão, ou ao alívio da dor, nós chamamos “felicidade”. Quanto maior o desconforto (coação, privação, ansiedade, fome, etc.), maior a felicidade quando se é liberado disto. Por exemplo, uma pessoa que se desloca do calor abrasante do sol para a sombra se sente renovado e fresco. Da mesma forma, uma pessoa que experimenta um grande prazer (sukha-vedanā) irá experimentar um desconforto igualmente forte (dukkha-vedanā) quando as circunstâncias prazerosas forem perturbadas. [70/11] Mesmo pequenas porções de desconforto, que não são normalmente sentidas como tal, podem tornar-se um tormento. Uma pessoa deixando um cômodo aquecido para um frio, por exemplo, pode achar a temperatura extrema, muito embora outros junto dele não estejam incomodados.

A felicidade ou um sentimento feliz (sukhavedanā), não é um fim de dukkha. Chamamos ‘felicidade’ a um aumento ou uma redução da pressão (dukkha) porque cria uma sensação de prazer. Mas uma alteração nesta tensão prazerosa resulta em uma condição que requer resistência ou é intolerável, uma condição a que chamamos de “sofrimento”, ou seja, nós sentimos dor (dukkhavedanā). Na verdade, somente dukkha – pressão e stress – existe, dukkha aumenta ou diminui. Algo similar a calor e frio. O frio não existe realmente, só existe uma sensação de frio. A condição básica é o calor, que aumenta, diminui, ou está ausente. Quando se diz que algo é agradavelmente fresco, isto se refere apenas a uma sensação; na verdade, está-se passando meramente por um decréscimo de calor. Se mais ou menos quente que antes, então há o desconforto. Neste sentido, a felicidade, ou mais precisamente “uma sensação de felicidade”, é um nível de dukkha. A felicidade é dependente de pressão e tensão e, necessariamente, muda e cessa. Em outras palavras, dukkha, que é a condição básica, impede a felicidade de ser mantida.

Como citado acima, o Paṭisambhidāmagga define dukkha no contexto das Três Características como “sujeito ao perigo”. A seção explicando as Quatro Nobres Verdades (ariyasacca), define dukkha – a primeira das Nobres Verdades – de quatro formas. Algo é identificado como dukkha porque é oprimido (pīḷanaṭṭha), é construído (saṅkhataṭṭha), arde (santāpaṭṭha), e muda (vipariṇāmaṭṭha) [22]. Estas quatro definições de dukkha também podem ser usadas no contexto das Três Características. As definições um e quatro (pīḷanaṭṭha e vipariṇāmaṭṭha) já foram descritas*, aqui estão as outras duas:

* definição 1 de dukkha e definição 2 de impermanência acima, respectivamente.

5. Saṅkhataṭṭha: ‘no sentido de que é moldado’ (saṅkhata), construído pelos fatores condicionados, dependente de tais fatores, inconstante.

6. Santāpaṭṭha: no sentido de que está ardendo; queimando, findando em decadência e destruição; Além disso consome o ser com impurezas que se agarra e se apega ao objeto, causando tormento e agitação [23].

A. As Três Características e as Quatro Nobres Verdades

Dukkha aparece em três ensinamentos fundamentais:

1. Em sentimento / sensação (duas versões):

a)      Três vedanā: doloroso (dukkha), agradável (sukha) e neutro (adukkham’asukha ou upekkhā).

b)      Cinco vedanā: dukkha, sukha, domanassa, somanassa e upekkhā.† O termo completo, neste contexto, é dukkha-vedanā. [70/12]

† Esta segunda versão distingue sensação física e mental, dolorosa e agradável.

2. Nas Três Características: anicca, dukkha e anattā. Neste contexto, o termo completo é dukkhalakkhana.

3. Nas Quatro Nobres Verdades: Dukkha, samudaya (origem), nirodha (cessação) e magga (caminho). O termo completo é dukkha-ariyasacca.

As definições de dukkha nestes três grupos se sobrepõem; elas são diferentes aspectos de uma mesma verdade. O dukkha que tem o mais amplo e completo significado é o das Três Características, também designado como dukkha-lakkhaṇa ou dukkhatā. É a condição de instabilidade, a impossibilidade de ser mantido em uma forma original devido à pressão, tensão e atrito devido ao surgimento e desintegração, como explicado anteriormente. É uma característica de todos os fenômenos condicionados (sabbe sankhara dukkha), abrangendo a mesma gama da impermanência: o que é impermanente é também dukkha (yad’aniccam tam dukkham).

Dukkha que tem o sentido mais restrito, e é meramente uma consequência do dukkha das Três Características, é dukkha como sentimento/sensação, chamado dukkha-vedanā: uma sensação de dor. É uma sensação que ocorre quando a pressão – uma característica comum a todas as coisas – chega a um determinado nível em relação ao corpo e mente de uma pessoa [24]. Essa dor é incluída em dukkha das Três Características, como todos os outros sentimentos/sensações, tanto agradáveis como neutros. Todos os tipos de sensação/sentimento – dolorosos, prazerosos, e neutros – são dukkha como determinado pelas Três Características.

Dukkha nas Quatro Nobres Verdades (dukkhaariyasacca) é um aspecto de dukkha das Três Características, mas é limitado ao que causa problemas para os seres humanos. Todas as formações estão naturalmente sob pressão, o que é dukkha das Três Características. Estas formações (não todas elas, e nem sempre) oprimem os seres humanos; esta opressão é dukkha das Quatro Nobres Verdades (esses fenômenos são opressivos, portanto, porque eles próprios estão sujeitos a tensão). Dukkhaariyasacca se refere especificamente a questões relativas aos Cinco Agregados do apego (upādāna-khandha).* Tecnicamente, dukkha das Quatro Nobres Verdades refere-se especificamente ao sofrimento decorrente das bases do sentido (indriyabaddha). Exclui a pressão independente das bases do sentido (anindriyabaddha), a qual é classificada como dukkha das Três Características, mas não das Nobres Verdades. (Note que dukkhaariyasacca é dukkha das Três Características, samudaya (a causa do sofrimento †) e magga (o Caminho Óctuplo) o são da mesma forma, mas eles não são dukkhaariyasacca).

* Upadana-khandha, os cinco agregados experienciados por apego, são idênticos aos cinco agregados (khandha) mencionados anteriormente, mas este termo destaca os agregados como os objetos identificados com o apego por seres humanos e que, consequentemente, dão origem a sofrimento.

† Ou seja, taṇhā – desejo sedento.

 

O escopo de dukkha nas Quatro Nobres Verdades é determinado como segue:

1) Dukkha como a Primeira Nobre Verdade é associado com a vida e os problemas humanos. Surge como resultado das faculdades dos sentidos (indriyabaddha), que não inclui dukkha independente das faculdades dos sentidos (anindriyabaddha). Não é o dukkha mencionado na passagen “todos os fenômenos condicionados são dukkha” (sabbe sankhara dukkha), e ‘tudo o que é impermanente é dukkha’ (yad’aniccam tam dukkham), que se referem ao todo abrangente dukkha das Três Características [70/13].

2) Origina-se das impurezas e ações intencionais da pessoa (kammakilesa). É o resultado de dukkhasamudaya *; é resultado do desejo sedento – taṇhā. Isto se refere especificamente ao que concerne aos cinco agregados do apego (upādāna-khandha).

*A origem do sofrimento – a Segunda Nobre Verdade.

3) É o foco do compromisso  (kicca)  relativo a Primeira Nobre Verdade. Pariññā é compreensão ou conhecimento das coisas como elas realmente são. Para adquirir conhecimento e para compreender inteiramente os dilemas pessoais é nossa responsabilidade confrontar diretamente dukkha das Nobres Verdades. Dukkha aqui é limitado a esta questão da compreensão do sofrimento humano.

4) Enfatiza o significado da origem do sofrimento (dukkhavatthutaya) em vez da pressão, tensão e atrito do surgir e cessar (udayabbayapatiphanatthena), que é o significado essencial de dukkha das Três Características [25].

B. Tipos de dukkha
O dukkha mais frequentemente analisado nas escrituras é dukkha das Quatro Nobres Verdades, porque diz respeito aos seres humanos diretamente. Devemos refletir sobre o sofrimento, a fim de partirmos dele para a prática do Dhamma.  Quanto ao todo abrangente dukkha das Três Características, isto é bastante ilustrado para a exata compreensão da realidade. Os principais, mais freqüentemente mencionados grupos de dukkha nas escrituras, estão listados abaixo:

1) Os 3 Dukkhatā [26]: Este é um grupo chave, que inclui o significado de dukkha nas Três Características:

1. Dukkha-dukkhatā : dor física e mental, como é geralmente entendida, por exemplo, dores, desconforto e fadiga; em outras palavras: “sensação/sentimento doloroso” (dukkhavedanā).

2. Vipariṇāma-dukkhatā  [27]: dukkha resultante de ou inerente a mudança. Refere-se à sensação de prazer (sukhavedanā) que, na verdade, é certo grau de dukkha. O prazer é igual à dor oculta, ou sempre tem dor furtivamente em seu encalço. Uma vez que um sentimento/sensação de prazer muda, ela se transforma em um sentimento de dor. Em outras palavras, a inconstância fundamental do prazer produz dor. (Outra explicação é que o prazer é dor, em certo nível).

3. Saṅkhāra-dukkhatā [28]: dukkha que é inerente aos fenômenos condicionados, inerente em tudo que se origina de causas. Em outras palavras, os Cinco Agregados são dukkha; são por natureza sujeitos a serem pressionados e forçados pelo surgir e cessar de fatores opostos, impedindo-os de permanecer em um estado estável original. Este terceiro dukkha compreende o dukkha das Três Características [70/14].

 

2) Os 12 dukkha: Este grupo explica o significado de dukkha  nas Quatro Nobres Verdades [29]:

1. Nascimento (jāti): nascimento é sofrimento, porque é base para diversos tipos de aflições:

A. Gabbhokkantimūlaka-dukkha: o sofrimento do confinamento no útero: o feto habita um lugar sufocante, cheio com substâncias repugnantes, como um verme na água suja.

B. Gabbhapariharaṇamūlaka-dukkha: o sofrimento de suportar o útero. Sempre que a mãe se move, ou ingere algo quente, frio ou temperado, isso afeta o ser no ventre.

C. Gabbhavipattimūlaka-dukkha: o sofrimento dos infortúnios do útero, gravidez ectópica, por exemplo, natimorte ou parto por cesariana.

D. Vijāyanamūlaka-dukkha: o sofrimento do parto, incluindo a pressão, o retorcimento, o aperto e a dor durante a saída pelo estreito canal.

E. Bahinikkhamanamūlaka-dukkha: o sofrimento de emergir no mundo exterior. O recém-nascido, cuja pele é sensível como uma ferida, sente dor aguda quando manuseado e banhado.

F. Attupakkamamūlaka-dukkha: o sofrimento que resulta de ações auto-infligidas, suicídio por exemplo, o extremo ascetismo, recusando-se a comer devido ao ressentimento ou outros atos autolesivos.

G. Parupakkamamūlaka-dukkha: o sofrimento causado pelas ações dos outros, por exemplo, ser assaltado, assassinado ou preso.

2. Envelhecimento (jarā): o envelhecimento enfraquece os órgãos internos. As faculdades, por exemplo, os olhos e os ouvidos, funcionam precariamente, a vitalidade diminui e a agilidade é perdida. As rugas na pele; não é mais lisa e brilhante. A memória torna-se incoerente e defeituosa. O controle da pessoa, tanto interno como externo, enfraquece, causando grande sofrimento físico e mental.

3. Morte (maraṇa): Se alguém tiver cometido más ações durante sua vida, elas aparecem como imagens (nimitta) no momento da morte. Somos obrigados a ser separados de pessoas e coisas queridas. As partes constituintes do corpo deixarão de exercer as suas funções, pode haver dor física intensa, e fica-se impotente para remediar a situação.

4. Pesar (soka), por exemplo, pela perda de um parente.

5. Lamentação (parideva), também, pela perda de um parente.

6. A dor física (dukkha), tais como ferimentos, entorses e doença [30].

7. Aflição e angústia (domanassa) que causam, por exemplo, choro, aperto no peito, e intenção suicida. [70/15]

8. Frustração e desespero (upāyāsa), como o tormento da tristeza não mitigada.

9. A associação com pessoas ou coisas desagradáveis (appiyasampayoga). Por exemplo, a necessidade de relacionar-se com uma pessoa a quem se detesta.

10. A separação de pessoas ou objetos queridos (piyavippayoga). Como a separação de entes queridos ou a perda dos bens.

11. Não obter o que se quer, decepção (icchitālābha).

12. Os cinco agregados que são a base para o apego (upadanakhandha). Todo o sofrimento acima mencionado deriva dos cinco agregados como objetos de apego. Em suma, pode-se dizer que o sofrimento “é” os cinco agregados do apego.

3) Os 2 dukkha (A) [31]:

1. paticchannadukkha: sofrimento oculto, não claramente manifesto.
Por exemplo, uma latente dor de ouvido ou de dente, ou a mente em lenta combustão pelos ‘fogos’ da luxúria e da raiva.

2. appaticchannadukkha: o sofrimento evidente. Por exemplo, ser picado por um espinho, levar uma pancada, ou ser cortado por uma faca.

4) Os 2 dukkha (B) [32]:

1. pariyayadukkha: dukkha indireto ou implícito, isto é, cada forma de dukkha acima excluindo a sensação dolorosa (dukkhavedana).

2. nippariyayadukkha: dukkha explícito, que também é chamado dukkhadukkha: o sentimento de dor.

O Mahaniddesa e o Culaniddesa oferecem muitas definições adicionais de dukkha [33]. Por questão de simplicidade, podem ser classificados nos seguintes grupos:

A) Sofrimento como nascimento (jatidukkha), envelhecimento (jara dukkha), doença (byadhidukkha), a morte (maranadukkha), tristeza, lamentação, dor, angústia e desespero (sokaparidevadukkhadomanassaupayasa).

B) O sofrimento dos seres do inferno (nerayikadukkha), dos animais (tiracchanayonikadukkha), dos fantasmas (pittivisayikadukkha) e dos seres humanos (manusakadukkha).

C) O sofrimento experienciado por obter o nascimento em um útero (gabbhokkantimalakadukkha), de viver em um útero (gabbhethitimalakadukkha) e de sair de um útero (gabbhavutthanamalakadukkha); o sofrimento inerente àquele que é nascido (jatassapanibandhikadukkha); o sofrimento do que é nascido, devido a ser dependente dos outros (jatassaparadheyyakadukkha); sofrimento auto-infligido (attapakkamadukkha); e sofrimentos infligidos pelos outros (parapakkamadukkha).

D) Dor (dukkhadukkha), o dukkha das formações (sankharadukkha) e dukkha inerentes à mudança (viparinamadukkha). [70/16]

E) Vários tipos de doenças, como as doenças dos olhos e dos ouvidos; diversas doenças são mencionadas.

F) Doenças resultantes de oito causas, incluindo a bile, catarro e vento, ou uma combinação dessas causas; doenças resultantes das mudanças no tempo e exercícios irregulares; aflições devido às ações de outras pessoas, por exemplo, ser assassinado ou preso, e os efeitos das ações pessoais.

G) O sofrimento devido ao frio, calor, fome, sede, micção e defecação, vento, sol, moscas, mosquitos e criaturas rastejantes.

H) O sofrimento decorrente das mortes de mãe, pai, irmão, irmã, ou criança.

I) O sofrimento devido à perda de parentes, perda de bens, perda devido a doença, de conduta moral e perda por apegar-se a pontos de vista e opiniões.

 

O Buddha, no Mahadukkhakkhandha e o Culadukkhakkhandha Suttas, descreveu muitos exemplos da ‘massa de sofrimento’ (dukkhakhandha), os transtornos que afligem aos seres humanos por causa do sentimento do desejo [34]. Eles são resumidos como segue:

A) As dificuldades ou até mesmo a morte devido ao modo de ganhar a vida.

B) A decepção experimentada quando o trabalho é em vão.

C) O sofrimento na tentativa de proteger a riqueza adquirida.

D) O sofrimento que resulta quando essa proteção falha e a riqueza é perdida, por exemplo, devido a ladrões ou a incêndio.

E) Os conflitos e a violência entre governantes, entre vizinhos, entre pais e filhos, entre irmãos e entre amigos, levando à morte ou injúrias graves.

F) A carnificina e a agonia intensas da guerra.

G) A injúria e a morte resultantes de invasões.

H) O cometimento de crimes, por exemplo, roubo ou adultério, seguido pela prisão e condenação, e terminando em tortura e execução.

I) O cometimento de delitos físicos, mentais e verbais levando, após a morte, aos estados de privação, perdição e inferno.
Mais referências a dukkha são encontradas ao longo das escrituras e comentários. Em alguns lugares, as descrições não têm nenhum nome específico (Como nos exemplos do Mahā e do Cūḷadukkhakkhandha Suttas mencionados acima), enquanto em outros dukkhas são identificados por termos especiais como saṁsāra dukkha [35], apāya dukkha, vaṭṭamūlaka dukkha ou āhārapariyeṭṭhi dukkha [36], para citar apenas alguns [37]. [70/17] Seria possível elaborar muito mais sobre este assunto do sofrimento, uma vez que os seres humanos encontram tantos problemas, incluindo as aflições enfrentadas por toda criatura viva e os sofrimento específicos para determinados períodos de tempo, regiões e circunstâncias, mas não é necessário oferecer mais explicações. Mais importante é perceber que as várias descrições escriturais existem para promover a compreensão da verdadeira natureza do sofrimento. Com este entendimento podemos responder corretamente ao sofrimento. Nós reconhecemos que devemos nos envolver com o sofrimento ao invés de recorrer à fraude, auto-ilusão ou negação de que qualquer sofrimento exista ou que tenhamos nos livrado dele. Tal engano só cria problemas mais complexos e aflições mais severas. Nossa responsabilidade é, ao invés disso, enfrentar e compreender o sofrimento (pariññākicca), para vencê-lo e nos liberarmos dele: essa é a prática de trilhar o caminho que conduz à cessação do sofrimento, a cessação tanto temporária quanto permanente.

 

Forma é como um monte de espuma,
Sentimentos/sensações como uma bolha de água;
A percepção é como uma miragem,
Volições parecem um tronco de bananeira,
E a consciência uma ilusão.
(SN. III. 142-43)

 

Traduzido por Jorge Furtado para o Centro Nalanda
em acordo com Buddhadhamma Foundation
Para Distribuição Gratuita
© 2011 Edições Nalanda


Nota: “Escritos sobre o Buddha Dhamma” consiste de um conjunto de escritos de um dos mais respeitados monges da Thailândia contemporânea, Venerável Ajahn Payutto.


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2 COMMENTS

  1. Bem completo todo o texto. Intrincado mas bastante compreencivel. Para ser lido sempre.

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