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5. Ego e Presunção
Existe confusão, especialmente no idioma tailandês, sobre determinados termos relativos ao self, então parece conveniente acrescentar uma breve explicação sobre este ponto. Os termos que apresentam dificuldade são attā e māna.
Attā em pali, ou ātman em sânscrito, pode ser traduzido como ‘self’ ou ‘alma’. O Buddha–dhamma ensina que esse self não existe verdadeiramente, mas é assumido pelas pessoas para a conveniência da comunicação e reconhecimento mútuo com respeito às formas compostas. O self se torna um problema quando as pessoas erroneamente acreditam que eles realmente possuem um eu ou verdadeiramente existem como um self, que é um resultado de não compreenderem plenamente a verdade ou serem enganados pela realidade convencional. Para resolver esta questão do self, a pessoa deve estar ciente de que o eu não é uma impureza, não é algo que deve ser abandonado. Como o eu não existe verdadeiramente não há, portanto, self que se possa abandonar. [70/35] O self só existe como uma crença. Nossa responsabilidade é a de compreender plenamente a verdade de que nenhum self existe, o que significa compreender plenamente a verdade convencional. Em outras palavras, a prática que concerne ao self consiste apenas em abandonar a crença no e a identificação com o self, ou na eliminação de ilusões e falsas noções sobre o self.
Na citação anteriormente feita do Sutta-Nipāta, o Buddha usou as palavras attā e nirattā. Os comentários desenvolvem o significado de attā neste caso como ‘apego a uma crença’ ou ‘crença em um self’, com uma outra conotação de ‘algo apreendido’. Esta foi posta ao lado de nirattā, definida como ‘a crença no não-eu’ ou ‘crença no aniquilamento do eu’, com a conotação adicional de algo a ser abandonado. A definição de attā, neste caso, vai além de seu escopo ordinário: destaca a visão da pessoa (diṭṭhi), ou seja, a portadora de uma visão de um self, que é chamada atta-diṭṭhi ou attānudiṭṭhi. Essa é a visão eternalista de ter um eu permanente como núcleo ou essência. Portanto, as passagens explanatórias do Mahāniddesa e do Cūḷaniddesa mencionadas anteriormente definem attā como ‘a crença num self’ (atta-diṭṭhi) ou eternalismo (sassata-diṭṭhi). Como attā neste caso refere-se a ‘visão equivocada’, que é uma impureza a ser abandonada, há versos pāli no Sutta-Nipāta descrevendo a renúncia ao self, por exemplo: Aquele que abandonou o self (attañjaho) [72], e tendo abandonado o self (attaṃ pahāya) [73].
Existe outra forma de crença com respeito ao self que difere do aderir-se a uma visão (diṭṭhi). Diṭṭhi aqui é a crença de que se possui ou existe como eu, por exemplo, identificar-se com algo ou ver o eu como permanente. A outra forma de crença relativa ao self é uma apreciação; é a crença nas comparações de si mesmo com os outros, auto-avaliações, e auto-julgamentos, como por exemplo: ‘Eu sou assim’, ‘isto é o que eu sou’, ‘eu sou melhor’, ‘eu sou mau’, ‘somos inferiores’ ou ‘somos iguais’. O termo específico māna [74] é usado para tal crença, que se traduz como presunção, orgulho, arrogância e auto-apreciação como melhor, pior ou igual em comparação com os outros. Māna, como diṭṭhi, é uma impureza, algo que deve ser abandonado ou removido. Na Thailândia, algumas pessoas atualmente usam a palavra attā no sentido de māna, por exemplo: ‘Ela tem muito attā ‘ e ‘seu attā é grande’.* Deve-se estar ciente de que o uso de atta desta maneira é simplesmente um costume atual, mas é tecnicamente incorreto. A palavra adequada para usar neste contexto é māna, que é a principal impureza causadora de desavença, discórdia, fanfarronice, competição, e até mesmo perseguição. Notem também que mesmo a crença em ser igual a outros é presunção e impureza, assim como considerar-se melhor ou pior. [70/36] Enquanto existirem tais suposições, a mente estará ainda sujeita a preconceito, condescendência, excesso de confiança e enfatuação. Tais suposições podem ser incorretas ou baseadas na verdade, mas a mente ainda não está livre e esclarecida. O fim da presunção ocorre com o conhecimento da verdade; apesar de estar consciente da superioridade, inferioridade ou igualdade, se o conhecimento for não adulterado pelo apego, então não é presunção ou impureza.
*Em inglês/português a palavra “ego” é utilizada dessa maneira, por exemplo: ‘Ele tem um grande ego’.
Para resumir, attā e anattā são questões a serem entendidas com sabedoria. Nossa responsabilidade é a compreensão de acordo com a verdade de que tudo é vazio de self; pois ele não têm qualquer substância fixa. Nossa tarefa é, então, concluída. Māna precisa ser erradicado. O nosso trabalho é removê-lo. Essas duas tarefas, no entanto, estão essencialmente ligadas. Conhecendo-se a característica de não-eu, abandona-se a presunção. Esse conhecimento conduz ao fim da auto-apreciação e comparações de egos. Para citar o Buddha:
Aquele que vê todas as coisas como não-eu alcança a remoção do
orgulho que diz ‘eu sou’ (asmi-māna), e atinge Nibbāna aqui e
agora.[75]
Traduzido por Jorge Furtado para o Centro de Estudos Buddhistas Nalanda
em acordo com Buddhadhamma Foundation
Para Distribuição Gratuita
© 2011 Edições Nalanda
Nota: “Escritos sobre o Buddha Dhamma” consiste de um conjunto de escritos de um dos mais respeitados monges da Thailândia contemporânea, Venerável Ajahn Payutto.
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Quando o “eu” não nos “pega” por um lado, é porque ele está “beliscando” pelo outro lado… é difícil escapar!! 🙂
Abraços professor!
Marcelo
Caxias do Sul/RS
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