.
Sobre o título de Mahasadhammajotikadhaja
A segunda crítica do Sr. Michael Beisert é a afirmação de que: “Na sua biografia Ricardo também ostenta o título de Mahasadhammajotikadhaja outorgado pelo Ministério de Assuntos Religiosos de Myanmar”.
Para qualquer pessoa que trabalha com análise de texto e lógica é claro que duas coisas podem ser feitas para alterar um discurso. As duas estratégias são: o acréscimo e a subtração de informações em favor do argumento que se quer provar.
O acréscimo
O título de ‘Mahasadhammajotikadhaja’ não aparece no site como uma ostentação. Ele foi de fato recebido e aparece lá apenas mencionado, tal como apareceu nas publicações oficiais. Ao acrescentar a palavra ‘ostentar’, o Sr. Michael Beisert parece querer influenciar o leitor a ler algo que não está no texto. Qual a motivação para o acréscimo e repetição dessa palavra espalhada por todo o texto?
Além disso, a acusação é exclusiva a mim. Em seu site, o Sr. Michael Beisert não acusa nenhum ‘lama’, monge, ‘reverendo’, ou as múltiplas titulações que professores budistas recebem, e que constam de seus sites. O ataque é focado em apenas uma pessoa. A acusação de ‘ostentação’ também já havia sido respondida ao Sr. Michael Beisert em email privado anos atrás. No email respondi a ele, quando me perguntou se eu tinha tal certificado. Respondi assim: “Sim, tenho um desses certificados de professor de Dharma (com a plena consciência de que não é necessário se ter um para se ser um bom professor, nem que não tê-lo implicaria em não se ser um bom professor, sendo que o mesmo pode ser dito para outro tanto de coisas, como lama, monge, mestre, etc), ligado ao muito querido Venerável Aggamahapandita Rewata Dhamma Sayadaw, um dos monges mais respeitados no mundo enquanto vivia, e baseado em muitos anos de prática e estudo com professores conhecidos do Ven. Rewata Dhamma” (email enviado a ele em 16/03/2007).
A subtração
No site do Nalanda está escrito “outorgado pela Sangha birmanesa e o Ministério de Assuntos Religiosos de Myanmar”, no entanto na “carta aberta” do Sr. Michael Beisert a menção a “Sangha birmanesa” está ausente. Por que a subtração ocorreu? Estaria ligada a forçar o argumento posterior de que este foi um título dado por um governo autoritário e, portanto, inválido?
Esclarecimento sobre o título de ‘Mahasadhammajotikadhaja’
O referido título, bem como vários outros que são conferidos de tempos em tempos no Buddhismo birmanês, é algo dado pela Sangha birmanesa, com o apoio do Ministério de Assuntos Religiosos (responsável por sua chancela oficial), com o objetivo de reconhecer os esforços e estimular a propagação do Dhamma. Aqueles que o recebem devem apresentar um conjunto considerável de realizações no campo de propagação do Dhamma, todos devidamente documentados e por longa data, juntamente com cartas oficiais de recomendação escritas por monges doutores eminentes da Sangha de Myanmar. Todos os documentos com provas são então julgados por representantes da Sangha monástica da Birmânia (Myanmar). A cerimônia acontece na presença apenas de monges seniores, em recinto fechado, em meio a ritos, cânticos e falas de Dhamma. O título de sadhammajotikadhaja é conferido em três níveis: sadhammajotikadhaja, mahasadhammajotikadhaja e aggamahasadhammajotikadhaja, e é conferido a monges, monjas, laicos e laicas. Vários laicos e laicas têm esse título na Birmânia. O recebimento me foi informado pelo Abade do Mosteiro de Oxford.
O Sr. Michael Beisert, entretanto, afirma que: “É muito provável que um dos critérios para a concessão de qualquer título religioso em Myanmar seja estar em boas relações com a ditadura” (carta que o Sr. Michael Beisert enviou ao CBB e a várias outras pessoas em 23 de outubro de 2006).
Essa afirmação implica que o Sr. Michael Beisert acredita que quase que absolutamente 100% dos monges da Birmânia seriam pró-ditadura; e não vê nenhum problema em divulgar sua opinião sobre o assunto, acusando os monges indiscriminadamente. Em sua visão, provavelmente todos os monges tailandeses seriam pró-monarquia e todos os religiosos de qualquer religião registrados nos últimos anos nos EUA seriam pró-Bush ou pró-Obama, já que dependem da certificação governamental para serem considerados ‘religiosos’, ‘missionários’, e exercer alguma função oficial e pastoral.
Vejamos alguns dos monges veneráveis que, seguindo o critério do Sr. Michael Beisert, devem ser pró-ditadura, já que foram recebidos e receberam beneméritos, doações e mesmo títulos da Sangha birmanesa através do Ministério de Assuntos Religiosos do governo birmanês: venerável Nandisena (monastério Dhammavihara do México), venerável Henepola Gunaratana (Bhavana Society), venerável Rewata Dhamma Sayadaw (Birmingham Buddhist Vihara), venerável Sitagu Sayadaw (Sitagu Academy), venerável Dhammasami (Oxford Buddha Vihara), venerável Ottama Sayadaw (monastério Bodhipala da Suíça), venerável U Pandita (Panditarama), e inúmeros outros, etc. Todos estes não são monges iniciantes, mas a elite do Buddhismo de linhagem birmanesa, os quais são incluídos no mesmo critério pelo Sr. Michael Beisert: “Será que receber qualquer título que seja de um regime desses é realmente uma honra? Ou na verdade significa reconhecer e sancionar a ditadura vigente no país?”
Uma vez que o site do Sr. Michael Beisert se apresenta como “um site dedicado a fornecer informações precisas, confiáveis e úteis relativas à prática e estudo do Budismo Theravada” é de se esperar que em breve uma página no formato de “carta aberta” sobre cada monge eminente da tradição birmanesa apareça também em seu site, já que todos receberam tais títulos pela mesma Sangha birmanesa (que ele omite no meu caso) e pelo Ministério de Assuntos Religiosos, dizendo a eles que não devem de modo algum mencionar que receberam tal título em seus sites. Isso é o que se deve esperar de um site que não omite opiniões pessoais e se mantém imparcial. Estamos à espera disso aparecer em seu site.
Termino esta seção com um email que o Sr. Michael Beisert me mandou, vários anos atrás, antes dele escrever para o venerável Uttaranyana Sayadaw, sobre o que aconteceria se eu comprovasse ter recebido este certificado: “Se você comprovar o título de Dhammacariya, passará a ter todo o meu respeito” (enviada em 16 de março de 2007).
Continua aqui: Ajahn Buddhadasa e a tradição das Florestas da Tailândia
Índice Geral:
Sobre a estranha e curiosa carta do Sr. Michael Beisert
~ o lamentável uso das escrituras budistas para ataques pessoais
~ onde são mostradas as críticas alegadas ao modo de organização das instituições buddhistas e a utlização de seu site para o ataque pessoal ad hominem a outros a fim de criar divisão e mal estar na comunidade
~onde são mostradas as omissões de informação a fim de levar o leitor a pensar segundo o autor
~ onde é evidenciado o preconceito do autor a toda a tradição monástica birmanesa
Ajahn Buddhadasa e a tradição das Florestas da Tailândia
~ onde é mostrado o desconhecimento do autor a respeito da tradição das floresta, de vipassana e de um de seus grandes mestres
A suposta atitude extremamente discriminatória
~ onde é mostrada a vontade do autor de ser incluído em nosso site e sermos seu divulgador
~ onde é mostrado que o autor nos acusa das coisas que ele mesmo faz e aprova em seu site
Sobre a saída do Sr. Michael Beisert do CBB
~ onde é mostrada as reais razões do autor ter saído e as trocas que quis fazer para ser reaceito
A gota d’água para a publicação de sua carta
~ onde é mostrado como o seu mal entendimento de uma resposta precipitou seu ataque público