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Buddhistas tailandeses em diálogo com o Dalai Lama – Primeiro dia

15 de Dezembro 2012 | O Dalai Lama dialoga com acadêmicos e monges seniores tailandeses.

(TibetanReview.net, Dez 18, 2012)

O encontro do Dalai Lama com monges e acadêmicos tailandeses
O encontro do Dalai Lama com monges e acadêmicos tailandeses

 

Nos dias 15 e 16 de dezembro de 2012 aconteceu em Nova Delhi um diálogo entre o Dalai Lama e um grupo de monges seniores e eruditos da Tailândia. Os monges participantes eram parte de um grupo de 50 monges e cerca de 300 buddhistas laicos vindos da Tailândia. O tema do diálogo foi “Alcançando o Mesmo Objetivo a partir de Diferentes Caminhos”. Do lado tailandês alguns participantes foram Phrarajnyanakavi, Phra Dr. Anil Sakya, Phra Paisal Visalo, Dr. Seksan Presertkul, Dr. Krissanapong Kirtikara e Dr. Veerathai Santiprabhob. O Dalai Lama esteve acompanhado pelo Prof. Samdhong Rinpoche, Geshe Ngawang Samten, Geshe Lhakdor e Geshe Dorji Damdul.

O Dalai Lama se curva perante a audiência no início das discussões com os acadêmicos e monges tailandeses na Índia, 15 de dezembro 2012. Foto/Jeremy Russell/OHHDL
O Dalai Lama se curva perante a audiência no início das discussões com os acadêmicos e monges tailandeses na Índia, 15 de dezembro 2012. Foto/Jeremy Russell/OHHDL

O evento foi organizado principalmente por uma instituição tailandesa chamada Buddhadasa Indapanno Archives, dedicada à preservação da obra do grande mestre tailandês, Ajahn Buddhadasa. A senhora que representou a instituição mencionou a longa amizade entre o Dalai Lama e dois monges seniores tailandeses e expressou o desejo que as tradições tailandesa e tibetana continuassem a florescer. Ela disse que o propósito do diálogo era fortalecer a fé no Dharma; reforçar as relações entre tailandeses e tibetanos e promover outras atividades benéficas.

O evento começou com um pequeno filme sobre a segunda visita do Dalai Lama à Tailândia ocorrido em 1972, seguido pela leitura de uma mensagem do Sangharaja tailandês, que está com 100 anos. A mensagem descreveu o encontro atual como estando muito de acordo com uma tradição que surgiu na época do Buddha. O líder religioso tailandês indicou que o Buddha era notavelmente de mente aberta e pronto para escutar os outros, oferecendo suas próprias perspectivas apenas quando convidado a fazê-lo. Ele acrescentou que enquanto o Buddhismo tomou diferentes formas em diferentes lugares, tais diferenças não deveriam ser pensadas como bases para a discriminação impensada; melhor seria que todos pudessem se juntar no diálogo a fim de eliminar o mal entendimento.

A primeira visita do Dalai Lama à Tailândia ocorreu em 1967, sem mais visitas sendo possíveis até 1972. Ele estava em Nova Delhi após duas semanas de ensinamentos religiosos para mais de 20.000 monges na colônia tibetana em Mundgod, no estado de Karnataka.

Dalai Lama
Dalai Lama

O Dalai lama começou sua palestra com as costumeiras palavras de saudação:

“Respeitados Bhikśus, irmãos e irmãs buddhistas, bem-vindos. Estou muito feliz de ver esse grande encontro de buddhistas tailandeses, incluindo muitos monges. Desde a minha primeira visita à Tailândia, em 1967, eu já havia ficado impressionado com a força do Buddhismo no país. Lembro-me de que nas conversas com o Sangharaja naquela época eu perguntava o que ele achava do fato de que, enquanto que os monges e freiras cristãos se engajavam no trabalho social generalizado, nós buddhistas tendíamos a não fazê-lo. Sua resposta foi que era a regra para o monge buddhista permanecer em seu mosteiro para estudar e cultivar śamatha”.

A voz de Sua Santidade estava um pouco rouca, em parte por ele ter um resfriado, mas também porque ele acabava de dar ensinamentos longos para cerca de 20.000 monges no sul da Índia, em que falou por umas 60 horas ao longo das últimas duas semanas.

Notando que, como todos os outros fenômenos compostos, o Buddhismo é impermanente e desaparecerá, Sua Santidade disse que ele sobreviveu 2.600 anos devido ao apoio dos seus seguidores, sobretudo monges. Agora no século 21, mesmo em países sem tradição de Buddhismo, o interesse está a crescer entre pessoas comuns e cientistas. Ele disse que pensa que seja a tradição pāli, à qual o Buddhismo tailandês pertence, a verdadeira fundação de todas as tradições buddhistas. A ética e a disciplina descritas no Vinaya são a base para treinar tanto a concentração (śamatha) como o insight (vipassanā). Ele esclareceu que, com a ajuda da concentração, a nossa mente tem a capacidade de se manter quieta, e aplicando a análise atingiremos a compreensão.

monges tailandeses
monges tailandeses

“Entretanto”, ele disse, “devemos nos lembrar do restante da humanidade. Se pudermos criar um mundo mais pacífico, todo mundo se beneficiará. E para realizar isso, penso que devemos assumir uma abordagem mais laica do que religiosa para promover a ética. Karunā ou compaixão realmente produz paz e força interiores. Aqueles que praticam a compaixão se tornam mais calmos e menos sujeitos ao medo”. Ele reforçou isso relatando que cientistas também descobriram que quando você sente compaixão, sua saúde física e mental melhora.

Quando chegou a hora das perguntas e respostas, Sua Santidade tinha algumas perguntas próprias. Ele queria saber se havia alguma tradição de ordenação bhikśuni – ordenação de monjas – na tradição tailandesa, tendo em conta que sabemos que tal tradição existiu durante a vida de Buddha. Ele também quis saber sobre a aparente ordenação de árvores e ficou claro que isso foi um caso de proteger as árvores envolvendo-as em vestes monásticas que contam com o respeito de todos na Tailândia.

Sua Santidade o Dalai Lama e estudiosos buddhistas tailandeses durante o debate, em Nova Delhi, Índia, em 15 de dezembro de 2012. Foto / Jeremy Russell / OHHDL
Sua Santidade o Dalai Lama e estudiosos buddhistas tailandeses durante o debate, em Nova Delhi, Índia, em 15 de dezembro de 2012. Foto / Jeremy Russell / OHHDL

Questionado sobre a prática buddhista para laicos, Sua Santidade disse que, evidentemente, o Buddha considerava que tanto os laicos quanto os monges têm igual oportunidade, sendo igualmente possível a eles alcançar libertação e iluminação. Entretanto, os monges, sem responsabilidades familiares, tendo apenas que cuidar de si mesmos, têm mais tempo para praticar. Para outra questão, sobre a posição tibetana quanto a inseparabilidade do saṁsāra e do nirvāna, Sua Santidade sorriu e disse que, se tomássemos isso ao pé da letra, teríamos que nos perguntar porque o Buddha desistiu de sua vida real para se engajar em austeridades e meditação por seis anos. Esclarecendo o que é felicidade, ele esboçou uma distinção entre as satisfações sensoriais passageiras, como ouvir música ou degustar uma comida deliciosa, e o prazer mais duradouro da felicidade mental. Essa é uma área que exige maior exploração, disse ele, observando que o inglês e outras línguas ocidentais carecem de vocabulário para discutir essas questões adequadamente.

Depois do almoço, falando sobre “Soluções aos problemas do mundo”, Sua Santidade mencionou a violência e o derramamento de sangue que marcam o século 21, durante o qual historiadores dizem que 200 milhões de pessoas morreram violentamente. Ele disse: “Precisamos encontrar uma nova abordagem para criar um mundo melhor. Temos grandes problemas para lidar: mudança climática, aumento da população, abismo entre ricos e pobres e corrupção. As pessoas ficam ansiosas em relação a uma previsão maia sobre o iminente fim do mundo, mas se não lidarmos com a corrupção, que é como um câncer, enfrentaremos um desastre. Religião é importante, mas falha em repreender isso. Democracia, estado de direito e liberdade de imprensa deveriam ser capazes de dar um basta à corrupção, mas fracassam nisso também. Mesmo na China, onde essas qualidades são ausentes e todo o poder é centralizado, a corrupção continua descontrolada. O fator principal é a falta de autodisciplina e de princípios morais”.

Ele disse, mais uma vez, que é preciso encontrar maneiras de promover a ética secular que flui a partir do senso comum e das descobertas científicas. “Devemos lembrar que o Buddha ensinou para o benefício de todos os seres humanos. Nós também fazemos parte da humanidade. Para resolver esses problemas, temos a responsabilidade de trabalhar juntos. Como buddhista tibetano minha preocupação é para com toda a humanidade, vocês também devem considerar mais do que apenas a Tailândia e Bangcoc”.

a plateia
a plateia

Questionado sobre a crise econômica mundial, Sua Santidade disse que ficou surpreso quando isso aconteceu e ele perguntou aos amigos sobre a causa. Eles lhe disseram que ela ocorreu por causa de muita ganância e especulação, então, em certa medida, a ignorância estava envolvida. Ele ressaltou a necessidade de distinguir entre a ganância e o desejo, porque pode haver desejo positivo, tal como o desejo de libertação e de alcançar o estado de Buddha.

No que diz respeito à compaixão, Sua Santidade fez uma distinção entre a compaixão tendenciosa, que podemos sentir por aqueles que estão próximos de nós, e um tipo mais puro de compaixão, sem restrições, que é capaz de ver até nossos inimigos como seres humanos que precisam de ajuda. Ao ser lembrado que no último ano ele falou que o Nirvāṇa não é atingido através do canto e da oração, foi questionado à Sua Santidade como cultivar uma visão apropriada. Ele disse: “Cultivar uma visão mais holística e realista leva tempo e esforço constante. Como já disse, acabei de dar um longo e exaustivo ensinamento para 20.000 monges no sul da Índia. Será que este ensinamento lhes trouxe mudanças imediatas em suas mentes? Eu duvido. Eles precisam trabalhar o ensinamento por um período ainda mais longo. Precisamos focar agora numa espécie de equilíbrio emocional; eliminar nossas emoções destrutivas é difícil, mas possível. Precisamos ser rigorosos em nosso treinamento. Obrigado, e até amanhã”.

Como cortesia do Buddhadasa Indapanno Archives, apresentamos aqui os vídeos das quatro sessões do dia 15:

Sessão 1:

Sessão 2:

Sessão 3:

Sessão 4:

 


Traduzido pelo Grupo de Tradução do Centro Nalanda
© 2013 Edições Nalanda

 


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