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Diálogo Buddhista Tailandês-Tibetano – Segundo Dia
17 de dezembro de 2012
Nova Deli, Índia, 16 de Dezembro de 2012 – A grande audiência de monges e laicos tailandeses, que lotava o salão, esperava ansiosamente pela chegada esta manhã de Sua Santidade o Dalai Lama. Ele os saudou com as mãos unidas e pediu-lhes para se sentarem. Seguiu-se uma recitação em pāli do Mangala Sutta no final da qual Sua Santidade também recitou um pequeno verso propício e começou a falar sobre o tema solicitado: “De Unir nossos Corações para Unir nossas Mãos”.
“Unir as nossas mãos pode ser destrutivo quando, por exemplo, envolve forças militares motivadas por ódio ao inimigo. Esse tipo de união de forças na guerra tem sido, há tempos, uma parte da história humana. Certamente, até a Segunda Guerra Mundial, os cidadãos dos países envolvidos, uniram-se sem hesitação. Entretanto, desde a Guerra do Vietnã, isso mudou e muitos cidadãos norte-americanos se recusaram a entrar para o exército.
“Na época do conflito no Iraque, muitas pessoas protestaram em todo o mundo. Muitos dos violentos incidentes que têm acontecido desde o final do século XX são devido a sinais e sintomas de erros passados. Assim, hoje, aqui no século XXI, temos de juntar as mãos para a paz, com uma base não de fé, mas de razão”.
Sua Santidade explicou que recorrer à violência cria medo, ódio e raiva, e em longo prazo leva a ainda mais violência. Ele deu o exemplo de um cachorro latindo, dizendo que, se você o ameaça com uma vara, ele só late mais; mas se a cada dia você lhe dá algo para comer e fala suavemente, ele se acalma e torna-se manso. Assim também é a natureza dos seres sencientes.
Ele destacou que, no passado, poderíamos ter sido capazes de viver confortavelmente em isolamento, mas hoje esse não é mais o caso. A Tailândia depende de outros países para uma economia saudável e precisa manter boas relações com eles. Essa é uma das razões pelas quais a violência e o uso da força estão tão desatualizados. Em vez disso, temos de dar as mãos com um sentido de responsabilidade global, consciente da unidade da humanidade. Sua Santidade terminou de forma leve:
“Isso é tudo o que tenho a dizer sobre esse assunto por enquanto, mas, se vocês discordarem, espero que o digam, porque eu apreciaria bastante a oportunidade de aprender com vocês”.
Uma questão foi feita a Sua Santidade sobre que passos práticos serão tomados para fazer o diálogo buddhista Tibetano-Tailandês seguir adiante. Ele sugeriu que bhikśus, pesquisadores e professores universitários seriam muito bem-vindos ao Instituto Central de Altos Estudos Tibetanos (Central Institute of Higher Tibetan Studies – CIHTS), também conhecido como a Universidade Central de Estudos Tibetanos em Sarnath, e como convidados da Casa do Tibete (Tibet House) em Nova Delhi. Eles poderão se habilitar a estudar e dialogar mais nas duas localidades. Ele recordou que na década de 1960 três monges tibetanos foram à Tailândia para estudar e participar do modo de vida monástico tailandês, tendo um deles chegado a se ordenar na tradição tailandesa. Depois disso, pouca coisa aconteceu. Ele sugeriu que para construir a partir desse renovado interesse, seria útil se um pequeno grupo de tibetanos fosse visitar a Tailândia e um pequeno grupo de tailandeses fosse visitar as instituições tibetanas na Índia.
Reparando que as suas relações com as irmãs e os irmãos cristãos geralmente têm sido mais próximas do que com os seus colegas buddhistas de outros países, Sua Santidade sugeriu que isto se devia a mal entendidos. Para ilustrar isto, descreveu o que aconteceu num recente Parlamento Mundial de Religiões, na Austrália, quando dois bhikkhus birmaneses pediram um encontro com ele. Tendo grande admiração pelo Buddhismo birmanês respondeu que ficaria muito feliz com isso. Eles disseram-lhe que, apesar de ambos e de Sua Santidade seguirem os ensinamentos do mesmo Buddha, entendiam que permaneciam diferenças entre eles. Ele respondeu dizendo que, não só os tibetanos seguem os ensinamentos do mesmo Buddha, como também praticam de acordo com o mesmo Vinaya. Os seus visitantes birmaneses pareceram ambos satisfeitos e surpresos.
“Em longo prazo, precisamos resolver nossos problemas linguísticos. Já adverti que o CIHTS, em Sarnath, deveria ser um centro internacional de estudo onde o pāli e outras línguas relacionadas possam ser estudadas. Ficaríamos gratos se acadêmicos tailandeses, inclusive mulheres, pudessem vir nos ensinar pāli e aprender tibetano. Nos nossos mosteiros no sul da Índia, onde pelo menos 10.000 monges e monjas estudam, já existem estudantes da Mongólia e outros países asiáticos. Também há monges ocidentais, entre eles um americano que recentemente se tornou o abade de um mosteiro”.
“Quanto às monjas, desde o fim dos anos 60 e início dos 70 eu tenho incentivado os nossos monastérios femininos a oferecer estudos dialéticos para as monjas e, agora, embora ainda não tenhamos a ordenação de bhikśunis, decidimos conceder que monjas se qualifiquem num doutorado Geshema. Ao mesmo tempo, preservar o Buddhadharma não é só manter bons monges e monjas, mas também instruir os seguidores laicos. Eles também devem desenvolver uma compreensão muito melhor”.
Sua Santidade continuou dizendo que ele é cuidadoso em não parecer estar propagando o Buddhismo ou buscando converter outros. Ele vê as conversões como uma fonte potencial de conflito, algo que ele deixou claro a missionários cristãos com quem se encontrou na Mongólia. Ele disse que precisamos ter em mente a realidade de hoje quando as pessoas tendem a ser mais céticas sobre ideias buddhistas quanto a vidas passadas e futuras por exemplo. Ele recomendou que o ensino buddhista deve ser relevante para a vida contemporânea.
“Assim como ensinamos sobre higiene física para assegurar que nossos corpos se mantenham saudáveis, precisamos também ensinar um modo de higiene mental, discriminando entre emoções positivas e destrutivas e aprender como lidar com elas, para garantir que tenhamos mentes saudáveis”.
Perguntado sobre como incentivar os jovens a se tornar monges, Sua Santidade respondeu: “Educação; educar o público, educar sobre o Buddhismo”.
Os monges tibetanos eruditos que acompanharam Sua Santidade foram convidados a contribuir com suas opiniões para a conversa e foram unânimes em seu apoio a esse diálogo contínuo. O Prof. Samdhong Rimpoche falou ainda sobre os projetos para traduzir textos do pāli para o tibetano que já tinham começado, manifestando a esperança de que eles prossigam.
A sessão da manhã foi concluída com um porta-voz tailandês reiterando o desejo de dar as mãos aos tibetanos e empenhar-se em atividades compartilhadas. Considerando essa reunião no 2600º ano do aniversário do Buddha como um sinal propício, ele deu as boas vindas aos conselhos de Sua Santidade em relação à educação e à formação, e a todos os presentes afirmou isso com uma tríplice recitação: “Sadhu”.
A última sessão vespertina começou com um monge tailandês dizendo que mesmo que ele tenha passado a apreciar que seria mais apropriado se referir ao Buddhismo tibetano e tailandês como “um mesmo objetivo, um mesmo caminho”, ainda assim, o Mahāyāna reverencia o ideal do Bodhisattva ao invés do ideal do Arhat. Ele perguntou como nós deveríamos reconciliar essa diferença. Sua Santidade explicou que os Sūtras da Perfeição da Sabedoria da tradição sânscrita mencionam o Veículo do Ouvinte, o Veículo do Buddha Solitário e o Veículo do Bodhisattva (Śravakayāna, Pratyekabuddhayāna e o Bodhisattvayāna), mas que seria um mau entendimento vê-los como coisas completamente diferentes.
Ele disse que a aspiração pelo Nirvāna é a própria determinação de ser livre que fundamenta a aspiração altruística que leva os outros a serem livres. A coisa importante é modelarmos nossas mentes. Enquanto estivermos sob a influência da ignorância, nós não iremos achar alegria na existência cíclica. Ele destacou que o Nobre Caminho Óctuplo é outra forma de apresentar os Três Treinamentos Supremos na ética, concentração e sabedoria. O que é conhecido como o Primeiro Giro da Roda do Dharma lida com as Quatro Nobres Verdades, enquanto o Segundo Giro elabora a terceira verdade, cessação, e o Terceiro Giro elabora a quarta, o caminho.
Sua Santidade mencionou que um físico quântico chileno, que conheceu numa conferência na Argentina, lhe explicou a preocupação de não ficar apegado ao seu próprio campo de trabalho científico com medo de ganhar uma tendência de pensamento que o torne incapaz de apreciar outras áreas com uma mente aberta.
“Eu sou buddhista, mas compreendi que não deveria permitir-me ficar apegado ao Buddhismo, que isso iria obscurecer a minha habilidade para apreciar o valor de outros caminhos espirituais”.
Tendo-lhe sido pedido para dar umas últimas palavras de conselho, Sua Santidade disse que tinha ficado muito impressionado com a condução do diálogo. Todos tinham estado ansiosos por participar numa discussão aberta. Ele sentia que os ensinamentos do Buddha são realistas e flexíveis. Ele se lembrou do neurocientista alemão, Wolf Singer, explicando que no cérebro não existe nenhuma autoridade central, notando que isso encaixa bem com a teoria buddhista de anatma, não-eu ou não-alma. Agora no século XXI nós somos confrontados com diferentes realidades, tais como as descobertas da neurociência, e enquanto – no que toca ao Vinaya – nós temos que ser rígidos, de outras formas o Buddhismo tem a habilidade de contribuir e adaptar-se a essas novas realidades.
Como cortesia do Buddhadasa Indapanno Archives, apresentamos aqui os vídeos das quatro sessões do dia 15:
Sessão 1:
Sessão 2:
Sessão 3:
Sessão 4:
Traduzido pelo Grupo de Tradução do Centro Nalanda
© 2013 Edições Nalanda
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