~ Ven. Ajahn Sucitto ~
Boas vindas ao dia que chega! Uma atitude de alegria consiste em acolher o que chega, o que quer que chegue, seja qual for a maneira pela qual chegue. A idéia de que há qualquer coisa a se obter ou a acontecer nos transporta para um estado mental no qual estamos perpetuamente selecionando, separando, escolhendo. Estado no qual nós podemos oscilar entre o desejo dos objetos sensoriais e o desejo de conhecer mais, o desejo de ter o melhor possível, de progredir.
Estes desejos são frequentemente um obstáculo real para aqueles que meditam. Desejamos mais clareza, mais paz, mais compreensão; constantemente sentimos a necessidade de qualquer coisa que nos falta. Por conseguinte, nós nos assentamos e praticamos, de forma a obter qualquer qualidade que não possuamos no momento. Mas a maneira pela qual o espírito se comporta no presente, condiciona o que experimentaremos no futuro. Se mantemos a mente nesta atitude de necessidade, de desejo de ser qualquer coisa, então tudo que poderemos sempre experimentar será esta necessidade e desejo de ser outro.
Isto não significa, no entanto, que se deve simplesmente se assentar e esperar a morte! A questão é justamente tentar mudar nossa atitude diante da vida. As coisas então se transformam naturalmente e amadurecem em seu próprio ritmo. Ao buscar se desassociar de impulsos cegos é possível estabelecer as condições que permitem a paz, a tranquilidade de se instalar em nós. Não para obter a tranquilidade de espírito, mas para apaziguar esta loucura do ganho, este nervosismo, esta impaciência e sentimento de estar incompleto, este sentimento de falta.
A atitude de acolhimento é igualmente útil quando o espírito se coloca em resistência. Não queremos enfrentar as coisas. “Isto é um problema, um obstáculo, é preciso resolver, isto perturba minha prática”. O número de coisas suscetíveis de obstruir a prática é bastante vasto. Assim, é útil desenvolver este estado de espírito de acolhimento, de abertura ao que é. A prática evolui então a partir do que é, em vez da tentativa de mudá-la para adequá-la a nossa compreensão da vida ou daquilo que somos.
© Ajahn Sucitto
© tradução do francês de Terence Reis com a permissão do autor para o Centro de Estudos Buddhistas Nalanda, 2006
Ajahn Sucitto nasceu em Londres em 1949, e entrou em contato com o Buddhismo ainda jovem quando se interessou pela literatura japonesa. Diplomou-se em Literatura inglesa e americana pela Warwick University em 1971, saindo em seguida para uma peregrinação ao Oriente. Em 1975 estava na Thailândia onde resolveu tentar a vida monástica. Depois de três anos vividos principalmente em Wat Kiriwong em Nakhon Sawan, encontrou Ajahn Sumedho. Quando voltou para a Inglaterra em 1978 a fim de visitar sua família, encontrou-se novamente com Ajahn Sumedho, resolvendo então treinar com ele.
Ajahn Sucitto estava entre o grupo original que fundou o Chithurst Monastery Cittavivekha em 1979, bem como alguns outros monastérios. Em 1992 tornou-se o responsável sênior do Chithurst Monastery onde reside até hoje.