~ por Ven. K. Sri Dhammananda ~
Qual é o propósito da vida?
O homem é o fruto mais alto na árvore da evolução. Cabe ao homem perceber sua posição na natureza e entender o verdadeiro significado de sua vida. Para conhecer o propósito da vida, você precisará primeiramente estudar o tema através de suas experiências e insight. Então, você descobrirá por si próprio o verdadeiro significado da vida. Orientações poderão ser dadas para guiar, mas você mesmo precisa criar as condições necessárias para o aflorar da realização.
Existem muitos pré-requisitos para a descoberta do propósito da vida. Primeiro, você precisa entender a natureza do homem e da vida. Em seguida, mantenha sua mente calma e em paz através da adoção de uma religião. Quando essas condições são realizadas, a resposta que você procura virá como a gentil chuva vem dos céus.
Entendendo a natureza do homem
O homem pode ser inteligentes o suficiente para pousar na lua e para descobrir coisas extraordinárias no universo, mas ele precisa ainda vasculhar profundamente o funcionamento interior de sua própria mente. Ele ainda necessita aprender como sua mente pode ser desenvolvida ao seu total potencial para que assim sua verdadeira natureza seja compreendida.
Além disso, o homem ainda está atado à ignorância. Ele não tem conhecimento de quem ele realmente é ou do que é esperado dele. Como resultado, ele interpreta erroneamente a tudo e age conforme essa má-interpretação. É cabível que toda a nossa civilização seja construída nesse mal-entendido? A falha em compreender sua existência o leva a assumir uma falsa identidade de um ganancioso e interesseiro egoísta e a fingir ser o que não é ou que não é capaz de ser.
O homem precisa exercer um empenho para vencer a ignorância e assim chegar à realização e à Iluminação. Todos os grandes homens nasceram do útero como seres humanos, mas eles trabalharam sua subida rumo à grandeza. Realização e Iluminação não podem ser despejados no coração humano como a água o é em um tanque. Até mesmo Buddha teve que cultivar sua mente para perceber a real natureza do homem.
O homem pode ser iluminado – um Buddha – se ele acordar do ‘sonho’ que é criado pela sua própria mente ignorante e se tornar inteiramente desperto. Ele precisa compreender que o que ele é hoje é o resultado de um incontável número de repetições em pensamentos e ações. Ele não está preparado; ele está continuamente em processo de transformação, sempre mudando. E é nessa característica de mudança que seu futuro se encontra, porque isso significa que é possível que ele molde seu caráter e destino através da escolha de suas ações, discurso e pensamentos. De fato, ele se torna os pensamentos e ações que ele escolhe exercer. O homem é o fruto mais alto na árvore da evolução. Cabe ao homem perceber sua posição na natureza e entender o verdadeiro significado de sua vida.
Entendendo a natureza da vida
A maior parte das pessoas não gosta de encarar os verdadeiros fatos da vida e prefere embalar-se em uma falsa sensação de segurança através de doces sonhos e imaginações. Elas confundem a sombra com a substância das coisa. Elas falham em perceber que a vida é incerta, mas que a morte é certa. Um modo de compreender a vida é encarar e entender a morte, que não é nada mais que um fim temporário de uma existência temporária. Mas muitas pessoas não gostam sequer de ouvir a palavra ‘morte’. Esquecem que a morte virá, elas gostando ou não. A meditação sobre a lembrança da morte com a atitude mental correta pode dar coragem e calma à pessoa, assim como um vislumbre da natureza da existência.
Além de entender a morte, precisamos de um melhor entendimento sobre nossa vida. Estamos vivendo uma vida que nem sempre se procede tão suavemente quanto gostaríamos. Muito frequentemente nos deparamos com problemas e dificuldades. Nós não devemos ter medo deles, porque a penetração no cerne da natureza desses problemas e dificuldades pode prover a nós um conhecimento mais profundo da vida. A felicidade mundana trazida pela riqueza, luxúria e pelas respeitáveis posições na vida, que muitos humanos procuram, é uma ilusão. O fato de que a venda de pílulas para dormir e tranquilizantes, admissões em hospitais neurológicos e taxas de suicídio aumentaram em relação ao progresso material moderno é testemunho suficiente de que temos que ir além do mundano e do prazer material para procurar pela real felicidade.
A necessidade de uma religião
Para entender o propósito real da vida, é aconselhável que a pessoa escolha e siga um sistema ético-moral que a reprima sobre as más ações, encoraje-a para fazer o bem e possibilite que ela purifique sua mente. Para simplificar, nós devemos chamar esse sistema de ‘religião’.
Religião é a expressão do homem batalhador; esse é o seu maior poder, que o leva em direção à realização própria. Ela tem o poder de transformar alguém com características negativas em alguém com qualidades positivas. Torna o ignóbil, nobre; o egoísta, altruísta; o orgulhoso, humilde; o insolente, indulgente; o ganancioso, benevolente; o cruel, bom; o subjetivo, objetivo. Toda religião representa, mesmo que de forma imperfeita, um alcance ascendente até um nível superior de existência. Desde cedo, religião tem sido a fonte da inspiração artística e cultural do homem. Ainda que muitas formas de religião tenham aparecido no decorrer da história apenas para perecerem e serem esquecidas, cada uma, em seu tempo, contribuiu para o somatório do progresso humano. O Cristianismo ajudou a civilizar o Ocidente e o enfraquecimento de sua influência marcou a decaída do espírito ocidental. O Buddhismo, que civilizou a maior parte do Leste muito tempo antes, é ainda uma força vital e nessa era de conhecimentos científicos, é provável que estenda e reforce suas influências. Ele não entra, em nenhum momento, em conflito com o conhecimento moderno, mas abrange e transcende tudo isso de uma forma que nenhum outro sistema de pensamento já tenha feito ou algum dia fará. Homens do Ocidente buscam conquistar o universo para fins materiais. O Buddhismo e a filosofia oriental esforçam-se para alcançar a harmonia com a natureza ou satisfação espiritual.
Religião ensina as pessoas a acalmar os sentidos e tornar o coração e a mente pacíficos. O segredo para acalmar os sentidos é eliminar o desejo, que é a raiz de nossos distúrbios. É muito importante para nós ter contentamento. Quanto mais as pessoas anseiam por seus bens, mais elas têm de sofrer. As posses não dão felicidade ao homem. A maioria das pessoas ricas no mundo, atualmente, está sofrendo de inúmeros problemas físicos e mentais. Com todo o dinheiro que elas têm, não podem comprar a solução para seus problemas. Ainda assim, os homens mais pobres, que tenham aprendido a ter contentamento, poderão usufruir muito mais de suas vidas do que as pessoas mais ricas usufruem. De acordo com isso, temos a rima:
“Alguns possuem demais e mesmo assim anseiam. Eu tenho pouco e não mais procuro; mas eles são pobres, não importa o quanto mais tenham. E eu sou rico com pequeno lucro. Eles pobres, eu rico; Eles imploram, eu dou; à eles falta, eu tenho; eles anseiam, eu vivo”.
Buscando um propósito na vida
O objetivo de vida varia de acordo com os indivíduos. Um artista pode almejar pintar obras de arte que viverão muito além de sua morte. Um cientista talvez queira descobrir leis, formular uma nova teoria ou inventar um nova máquina. Um político pode ter o desejo de se tornar primeiro-ministro ou presidente. Um jovem executivo pode objetivar ser um diretor de gestão de uma companhia multinacional. No entanto, quando se pergunta ao artista, ao cientista, ao político e ao jovem executivo por que eles buscam tais coisas, eles responderão que essas conquistas lhes darão um propósito na vida e os farão felizes. Todos buscam a felicidade na vida, ainda que a experiência mostre mais uma vez que sua obtenção é muito ilusória.
Realização
Uma vez que percebamos a natureza da vida (caracterizada pela insatisfação, mudança e altruísmo) assim como a natureza da ganância do homem e os meios de deixá-lo satisfeito, nós poderemos, então, entender a razão por que a felicidade buscada tão desesperadamente por muitas pessoas é tão ilusória quanto pegar um raio do luar nas mãos. Tenta-se ganhar felicidade através do acúmulo. Quando não são bem-sucedidos em acumular riquezas, ganhar posições, poder e honra e derivar prazer da satisfação dos sentidos, eles anseiam e sofrem, invejando outros que obtiveram sucesso fazendo isso. Entretanto, mesmo que eles tenham ‘sucesso’ em obter tais coisas, eles sofrem da mesma forma porque temem perder o que ganharam, ou seus desejos agora tentam abarcar mais riquezas, posições mais altas, mais poder e um prazer ainda maior. Seus desejos nunca poderão ser completamente saciados. É por isso que um entendimento da vida é importante, para que assim nós não desperdicemos tempo demais fazendo o impossível.
É aqui que a adoção de uma religião se torna importante, desde que ela encoraje o contentamento e estimule a pessoa a olhar além das demandas de sua carne e ego. Numa religião como o Buddhismo, as pessoas são relembradas de que elas são as herdeiras de seus karmas e os mestres de seus destinos. Visando ganhar maior felicidade, elas precisam estar preparadas para renunciar prazeres de curto prazo. Se a pessoa não acredita em vida após a morte, mesmo assim é o suficiente para ela levar uma boa e nobre vida na terra, aproveitar uma vida de paz e felicidade aqui e agora, assim como realizar ações para o benefício e felicidade de outros. Conduzir essa vida positiva e saudável na terra e criar felicidade para si e para outros é muito melhor do que uma vida mesquinha tentando satisfazer o próprio ego e cobiça.
Se, no entanto, a pessoa acredita em vida após a morte, de acordo com a Lei do Karma, renascer ocorrerá de acordo com a qualidade de seus feitos. Uma pessoa que fez muitas coisas boas nascerá em condições favoráveis, onde ela desfrutará de riqueza e sucesso, beleza e força, boa saúde e encontrará bons amigos e professores espirituais. Feitos saudáveis podem também levar ao renascimento nos céus e em outros lugares sublimes, enquanto ações doentias levam ao renascimento em lugares de sofrimento. Quando uma pessoa entende a Lei do Karma, ela passará a se esforçar para se abster de realizar más ações e tentará cultivar o bem. Agindo dessa maneira, ela ganha benefícios não apenas nessa vida, mas em muitas outras que virão.
Quando uma pessoa entende a natureza do homem, algumas realizações importantes surgem. Ela percebe que, ao contrário de uma rocha ou uma pedra, um ser humano tem o poder inato de crescer em sabedoria, compaixão, consciência e de ser transformado pelo seu próprio desenvolvimento e crescimento. Entende também que não é fácil nascer como um ser humano, especialmente como um que tem a chance de escutar o Dhamma. Além disso, ela se torna totalmente ciente de que a vida não é permanente, e que deve, portanto, se esforçar para praticar o Dhamma enquanto ainda está em posição para tal. Ela compreende que a prática do Dhamma é um processo educativo ao longo da vida que a permite liberar seus verdadeiros potenciais, que estavam presos à sua mente pela ignorância e ganância.
Baseada nessas realizações e entendimentos, essa pessoa tentará atentar mais para o quê e como ela pensa, fala e age. Ela considerará se seus pensamentos, falas e ações são beneficentes, feitas de compaixão e se têm um bom efeito para si, assim como para os outros. Ela entenderá o verdadeiro valor de caminhar pela estrada que leva à completa transformação pessoal, que é conhecida no Buddhismo como o Nobre Caminho Óctuplo. Esse Caminho pode ajudar a desenvolver a força moral (sīla) através da restrição das ações negativas e do cultivo de qualidades positivas que conduzem ao crescimento pessoal, mental e espiritual. Junto a isso, ele contem várias técnicas que podemos utilizar para purificar nossos pensamentos, expandir as possibilidades da mente e acarretar uma mudança completa em direção a uma personalidade saudável. A prática da cultura mental (bhavana) pode alargar e aprofundar a mente em relação a todas as experiências humanas, assim como em relação à natureza e às características dos fenômenos, da vida e do universo. Em resumo, isso leva ao cultivo da sabedoria (paññā). E enquanto sua sabedoria cresce, assim fará o seu amor, compaixão, bondade e alegria. Tal pessoa terá uma melhor ciência de todas as formas de vida e um melhor entendimento de seus próprios pensamentos, sentimentos e motivações.
No processo de transformação própria, a pessoa não aspirará mais por um nascimento divino como seu objetivo final de vida. Ela, então, traçará um objetivo muito maior e modelará a si mesma como Buddha, que alcançou o cume da perfeição humana e atingiu o inefável estado que chamamos de Iluminação ou Nibbāna. É aqui que o homem desenvolve uma profunda confidência nas Três Joias e adota o Buddha como seu ideal espiritual. Ele se empenhará para erradicar a ganância, para desenvolver sabedoria e compaixão e para se tornar completamente livre dos limites do Samsara.
O Buddhismo para o homem em sociedade
Essa religião pode ser praticada tanto em sociedade, quanto em reclusão. Existem alguns que acreditam que o Buddhismo é tão elevado e sublime como sistema que ele não pode ser praticado por homens e mulheres comuns no cotidiano de trabalho. Essas mesmas pessoas pensam que o sujeito deve se retirar para um monastério ou para algum lugar calmo, caso ele deseje se tornar um verdadeiro buddhista.
Esse é um triste equívoco que surge de uma falta de entendimento sobre o Buddha. Algumas pessoas saltam para tais conclusões após lerem ou ouvirem, casualmente, algo sobre o Buddhismo. Algumas pessoas constroem sua impressão sobre o Buddhismo depois de lerem artigos ou livros que trazem apenas uma visão parcial ou injusta do Buddhismo. Os autores de tais artigos e livros têm apenas um entendimento limitado sobre o Ensinamento de Buddha. Seus Ensinamentos não são destinados apenas para monges em monastérios. Os Ensinamentos são também para homens e mulheres simples que vivem em casa com suas famílias. O Nobre Caminho Óctuplo é o caminho buddhista de vida que é destinado a todas as pessoas. Esse caminho de vida é oferecido a toda humanidade sem qualquer distinção.
A grande maioria das pessoas no mundo não pode se tornar monge ou se retirar para cavernas e florestas. Apesar do quão nobre e puro o Buddhismo possa ser, ele seria inútil para as massas se essas não o puderem seguir em suas vidas diárias no mundo moderno. Mas se você entender o espírito do Buddhismo corretamente, pode certamente segui-lo e praticá-lo enquanto vive a vida de um homem comum. Pode haver alguns que achem mais fácil e conveniente aceitar o Buddhismo vivendo em um local remoto; em outras palavras, excluindo-se da sociedade e dos demais. E ainda, outras pessoas podem achar que esse tipo de retiro aborrece e deprime todo o ser, tanto física quanto mentalmente e isso pode, portanto, não conduzir ao desenvolvimento da vida espiritual e intelectual.
Verdadeira renúncia não significa fugir fisicamente do mundo. Sāriputta, o discípulo chefe do Buddha, disse que um homem pode viver em uma floresta, devotando-se a práticas ascéticas, mas pode ser cheio de pensamentos impuros e ‘impurezas’. Outro pode viver em um vilarejo ou uma cidade, praticar nenhuma disciplina ascética, mas sua mente pode ser pura e livre de ‘impurezas’. “Desses dois”, disse Sāriputta, “aquele que vive uma vida pura no vilarejo ou na cidade é, definitivamente, muito superior e melhor do que aquele que vive na floresta” (Majjhima Nikaya). A crença comum de que, para seguir os Ensinamentos de Buddha, devemos nos retirar de uma vida normal em família é um equívoco. Isso é, na verdade, uma defesa inconsciente contra a própria prática. Existem inúmeras referências na literatura buddhista sobre homens e mulheres vivendo ordinariamente, com vidas normais em família, que praticam com sucesso o que Buddha ensinou e realizam o Nibbana. Vacchagotta, o Andarilho, certa vez perguntou diretamente ao Buddha se existiam homens e mulheres laicos, levando uma vida em família, que seguiram Seus Ensinamentos com sucesso e atingiram os altos estados espirituais. O Buddha, categoricamente, declarou que havia muitos homens e mulheres laicos, levando uma vida em família, que seguiram Seus Ensinamentos com êxito e alcançaram os altos estados espirituais.
Talvez seja agradável para certas pessoas viver uma vida afastada em um lugar calmo, longe de barulho e perturbações. Mas é certamente mais louvável e corajoso praticar Buddhismo vivendo em meio a indivíduos, os ajudando e oferecendo serviço a eles. Pode ser útil para alguém, em alguns casos, viver em retiro por um tempo visando aperfeiçoar sua mente e caráter, como uma preliminar para treinamento moral, espiritual e intelectual, para ser forte o suficiente para depois sair e ajudar os outros. Mas se um homem vive toda a sua vida em solidão, pensando apenas em sua própria felicidade e salvação, sem se importar com seus parceiros, isso certamente não está de acordo com os Ensinamentos de Buddha, que são baseados no amor, compaixão e serviço aos outros.
Alguém poderá se perguntar: “Se um homem pode seguir o Buddhismo enquanto vive a vida de um homem comum, por que o Sangha, a Ordem dos Monges, foi estabelecido por Buddha?” A Ordem oferece oportunidade para aqueles que têm o desejo de devotar suas vidas não somente ao seu próprio desenvolvimento intelectual e espiritual, mas também ao serviço aos outros. Não se pode esperar que um comum homem laico devote toda sua vida para servir a outros, ao passo que um monge, que não tem responsabilidades familiares ou quaisquer outros laços mundanos, está em posição de devotar sua vida pelo bem de muitos (Dr. Walpola Rahula).
E o que é esse ‘bem’ com o qual muitos podem se beneficiar? O monge não pode dar conforto material para um homem leigo, mas pode fornecer aconselhamento espiritual para aqueles que estão incomodados pelos problemas mundanos, familiares, emocionais e assim por diante. O monge devota sua vida na busca de conhecimento do Dhamma, como foi ensinado por Buddha. Ele explica os Ensinamentos de forma simplificada para os leigos. E se o leigo é bem instruído, ele está lá para discutir os aspectos mais profundos do Ensinamento, para que, assim, ambos possam ganhar intelectualmente a partir da discussão.
Em países buddhistas, monges são amplamente responsáveis pela educação dos jovens. Como resultado de sua contribuição, países buddhistas têm populações alfabetizadas e bem versadas nos valores espirituais. Monges também confortam os que estão em luto e emocionalmente irritados, explicando como toda a humanidade está sujeita a perturbações semelhantes.
Em troca, se espera que o homem leigo cuide do bem-estar material do monge, que não ganha renda para garantir a si mesmo comida, abrigo, medicamentos e roupas. Na prática comum do Buddhismo, é considerado meritório, para um homem leigo, contribuir para a saúde de um monge, pois fazendo isso, ele possibilita que o monge prossiga ministrando para as necessidades espirituais das pessoas e para sua pureza mental.
O Caminho Buddhista de Vida para Chefes de Família
O Buddha considerou o bem-estar econômico como um requisito para a felicidade humana, mas o desenvolvimento moral e espiritual para uma vida feliz, pacífica e contente.
Um homem chamado Dighajanu visitou, certa vez, o Buddha e disse: “Venerável Senhor, nós somos ordinários homens leigos, levando uma vida em família com esposa e filhos. Poderia o Bem-Aventurado nos ensinar doutrinas que contribuirão para nossa felicidade nesse mundo e no próximo?”
O Buddha lhe disse que existem quatro coisas no mundo que conduzem para a felicidade de um homem. Primeiro: ele deve ser hábil, eficiente, sério e enérgico em qualquer profissão que estiver envolvido e ele deve saber bem disso (utthana-sampada); Segundo: ele deve proteger sua renda, a qual ele ganhou dignamente com o suor de sua testa (arakkha-sampada); Terceiro: ele deve ter bons amigos (kalyana-mitta) que sejam leais, instruídos, virtuosos, liberais e inteligentes e que o ajudarão em seu caminho correto para longe do mal; Quarto: ele deve gastar moderadamente, em proporção ao seu ganho, nem demais, nem de menos. Ou seja, ele não deve acumular riquezas com avareza e nem deve ser extravagante – em outras palavras, ele deve viver de acordo com suas possibilidades (sama-jivikata).
Então, o Buddha expõe as quatro virtudes que conduzem à felicidade do homem leigo na vida futura: (1) Saddhā: ele deve ter fé e confidência nos valores morais, espirituais e intelectuais; (2) Sila: ele deve se abster de destruir e prejudicar a vida, de roubar e trapacear, de praticar adultério, da falsidade e de intoxicar bebidas; (3) Cāga: ele deve praticar caridade, generosidade, sem apego ou ansiando por sua riqueza; (4) Paññā: ele deve desenvolver sabedoria que leve à completa destruição do sofrimento, à realização do Nibbāna.
Algumas vezes o Buddha até entrou em detalhes sobre poupar dinheiro e gastá-lo, como, por exemplo, quando ele disse ao jovem Sigala que deveria gastar um quarto de sua renda nas despesas diárias, investir metade em seu negócio e reservar um quarto para qualquer emergência. Uma vez o Buddha disse a Anathapindika, o grande banqueiro (um de Seus mais devotos discípulos laicos que encontrara para Ele o célebre Monastério Jetavana em Savatthi), que um homem laico que leva um vida normal em família tem quatro tipos de felicidade. A primeira felicidade é desfrutar de uma segurança econômica ou riquezas suficiente que foram adquiridas por meios justo e honrado (atthi-sukha); a segunda é gastar essa riqueza deliberadamente consigo mesmo, com a família, amigos, parentes e em atos meritórios (bhoga-sukha); a terceira é ser livre de dívidas (anana-sukha); a quarta felicidade é viver uma vida pura e impecável, sem cometer o mal em pensamento, palavra e ação (anavajja-sukha).
Deve-se notar aqui que as três primeiras são felicidades econômicas e materiais, as quais não são a ‘parte mais valorosa’ da felicidade espiritual que surge de uma vida boa e impecável.
A partir dos exemplos dados acima, podemos ver que o Buddha considerava bem-estar econômico como um requisito para a felicidade humana, mas que ele não reconhecia o progresso como real e verdadeiro se esse for apenas material, desprovido de uma base moral e espiritual. Enquanto encoraja o progresso material, o Buddhismo sempre enfatiza o desenvolvimento do caráter moral e espiritual para uma sociedade feliz, pacífica e contente.
Muitas pessoas pensam que, para ser um bom buddhista, o indivíduo não pode ter nada a ver com a vida material. Isso não está correto. O que o Buddha ensina é que, embora possamos usufruir de conforto material sem ir aos extremos, também devemos desenvolver, de modo dedicado, o conforto espiritual sem partir para extremos. Precisamos também desenvolver os aspectos espirituais de nossas vidas conscientemente. Embora possamos apreciar prazeres sensoriais como homens leigos, nunca devemos permanecer indevidamente ligados a eles a ponto de dificultarem nosso progresso espiritual. O Buddhismo enfatiza a necessidade do homem seguir o Caminho do Meio.
Traduzido por Gabriela Muller
Fonte original: Buddhist Cultural Centre, Sri Lanka : http://www.lanka.net/bcc/
Para Distribuição Gratuita
© 2016 Edições Nalanda
Nota: Confira também o livro gratuito do autor neste site: No Que Os Buddhistas Acreditam
* Se você tem habilidades linguísticas e gostaria de traduzir e dispor suas traduções em nossa sala de estudos para que mais pessoas possam ter acesso aos ensinamentos do Dhamma, nós o/a convidamos para entrar em contato conosco. Precisamos de tradutores do espanhol, inglês, alemão e outras línguas.