� Retiros


A viagem de Bhante Gunaratana para ensinamentos no Brasil

Orfanato
Aceitando um convite do Centro Nalanda em Belo Horizonte, eu deixei o Centro de Medita��o da Bhavana Society em 16 de Outubro e cheguei a Belo Horizonte no dia seguinte. Fui, ent�o, recebido no aeroporto por Ricardo Sasaki (Coordenador), Marcos Aur�lio Gon�alves e Beatriz Silva de Abreu (membros) que me conduziram ao Asilo S�o Lu�s, onde um retiro de dez dias teve in�cio naquela mesma noite. O Asilo S�o Lu�s fica a, aproximadamente, 50 quil�metros de Belo Horizonte e ocupa uma �rea de 400 acres. Ele � dirigido por freiras cat�licas e abriga meninas carentes. Havia 42 delas no dia em que eu visitei a institui��o. Uma freira, que n�o falava nada de ingl�s, explicou-me, atrav�s de um tradutor, que elas aceitavam meninas com idade entre 4 e 12 anos, oriundas de fam�lias muito pobres, com pais separados, ou de orfanatos. Estas garotas vivem l� at� a idade de 15 anos, aprendendo Portugu�s, Hist�ria, Geografia e Matem�tica.

As freiras alugam as instala��es da Institui��o para qualquer grupo, de modo a conseguir fundos para a sua manuten��o.

A atitude destas crian�as para comigo foi surpreendente. Elas foram despretensiosas e n�o tiveram medo de mim. Com sorrisos amistosos e alegres, elas me rodearam e, sem qualquer hesita��o, fizeram-me perguntas como se j� me conhecessem. Elas perguntaram quem eu era, de onde eu vinha, qual o meu nome, o que eu estava fazendo no Brasil, etc. Perguntas sem fim. Quando eu disse que era do Sri Lanka e falava cingal�s, elas me pediram para dizer alguma coisa e escrever algumas palavras nesta l�ngua. Elas me ensinaram como contar em portugu�s e como ler o alfabeto portugu�s. Elas cantaram v�rias can��es de boas-vindas para mim e, quando eu estava quase deixando o pr�dio para ir para a sala de medita��o, cantaram can��es de despedida. Ao final, elas me pediram para voltar para v�-las antes que eu fosse embora.

O retiro
Trinta e cinco brasileiros (23 mulheres e 12 homens) vieram para o nosso retiro. Alguns deles j� haviam feito v�rios retiros de dez dias de Vipassana. Outros haviam feito apenas um retiro de dez dias de Vipassana. Alguns j� tinham estado na �sia e passado algum tempo em centros de medita��o, meditando e aprendendo o Dhamma. Alguns deles nunca tinham participado de nenhum retiro, nem visto um monge buddhista Theravada ou um professor de medita��o. A maioria deles entendia ingl�s, mas hesitava ao falar; mas alguns falavam muito bem. Homens e mulheres foram mantidos separados em �reas distintas e os lugares para sentar foram marcados com o nome de cada pessoa. A sala de medita��o era grande o suficiente para duzentas pessoas se sentarem comodamente. Havia uma plataforma mais elevada para que os professores se sentassem. Eu pedi ao Ricardo (que era o meu tradutor) para providenciar uma caixa onde as pessoas pudessem colocar suas perguntas. Ele colocou duas caixas, uma na �rea dos homens e outra na �rea das mulheres. Normalmente, em nossos retiros, nos sentamos juntos por uma hora e meia, para uma conversa sobre o Dhamma e para responder perguntas. Compreendendo o profundo entusiasmo das pessoas em aprender o Dhamma, eu tentei responder todas as perguntas feitas. Entretanto, foi muito dif�cil responder todas elas em apenas uma sess�o de perguntas-e-respostas. Al�m disso, por causa da comunica��o em dois idiomas, tudo tinha que ser traduzido para o portugu�s e o ingl�s, o que tomou o dobro do tempo que teria sido gasto numa comunica��o em uma s� l�ngua. Dessa forma, eu tive que estender o per�odo destinado a perguntas e respostas para duas sess�es di�rias - uma entre 2 e 3 horas da tarde, e outra entre 7:15 e 9:30 h da noite. Ent�o eu constatei que, quanto mais perguntas eu respondia, mais perguntas apareciam nas caixas. Os organizadores solicitaram diversas vezes que eu desse palestras sobre o Dhamma, abordando temas espec�ficos. Entretanto foi muito dif�cil achar tempo para isto. Ainda assim eu tentei mais uma vez responder perguntas �s 2 horas da tarde e dar palestras �s 7:15 h da noite. Mas isto n�o funcionou porque as pessoas continuavam colocando mais e mais perguntas nas caixas. Finalmente, os organizadores retiraram as caixas para perguntas. Ent�o eu dei algumas palestras at� o final do Retiro, no per�odo de 7:00 �s 9:15 h da noite. Todas as noites, por solicita��o dos participantes do retiro, n�s t�nhamos uma pequena pr�tica de recita��o em pali.

Tornando-se buddhista
Antes do in�cio do retiro, Ricardo contou-me que havia 20 pessoas que haviam manifestado o desejo de se tornar buddhistas numa cerim�nia formal. Ao final do retiro de dez dias, no dia 28 de Outubro de 1995, duas horas antes de a cerim�nia come�ar, uma mulher decidiu desistir. Ela disse que estava com muito medo de ir adiante com a cerim�nia. Dessa forma, eu a aconselhei a n�o prosseguir. Eu esclareci a ela que n�s nunca for�amos ningu�m a aceitar os ensinamentos do Buddha. As pessoas decidem aceitar os princ�pios buddhistas por sua pr�pria convic��o. Eu lhe mostrei que ela s� deveria aceitar qualquer religi�o se estivesse plenamente convencida de que aquela era a religi�o que ela deveria seguir. Ningu�m deveria seguir qualquer religi�o apenas porque outras pessoas a seguem. Enfatizei os pontos do Kalama Sutta. Antes de o retiro come�ar, um homem j� tinha decidido n�o participar da cerim�nia. Dessa maneira, na noite de 28 de Outubro de 1995, 18 pessoas (13 mulheres e 5 homens) foram � mesma sala de medita��o, vestidos de branco, para aceitar a Tr�plice J�ia numa cerim�nia formal conduzida por mim. Antes da cerim�nia, Ricardo Sasaki havia me pedido para dar nomes em pali para todos aqueles que se tornassem buddhistas.

Durante o retiro eu fiquei hospedado no pr�prio Asilo S�o Lu�s. Depois disso, eu desfrutei da hospitalidade de Paulo S�rgio. Ele foi o meu kappiya durante e depois do retiro, at� que eu deixasse Belo Horizonte. Na maioria das manh�s, v�rias pessoas iam � sua casa para oferecer-me o caf� da manh�, e algumas para oferecer-me o almo�o. Quando n�o ia ningu�m, Paulo e sua cozinheira, Jandira, preparavam meu caf� da manh� e meu almo�o. As pessoas estavam t�o ansiosas para aprender o Dhamma que fui convidado para voltar em agosto de 1996.

As crian�as me chamaram de mentiroso
Eu estava usando sand�lias quando cheguei ao Brasil. Mas, quando Ricardo e os outros descobriram que eu gosto de andar para me exercitar, eles me compraram um par de t�nis feito nos Estados Unidos. Um dia, Paulo e eu subimos uma montanha perto de seu apartamento e encontramos um grupo de crian�as com idade entre 9 e 10 anos, que estavam aprendendo italiano e portugu�s. Ao me ver, as crian�as ficaram curiosas e me rodearam fazendo todo o tipo de perguntas. A primeira pergunta foi "De onde voc� vem?". � claro que eu n�o entendi nada do que elas falaram. Como o ingl�s do Paulo era melhor que o meu portugu�s, ele traduziu o que elas estavam perguntando. Respondendo � primeira pergunta, eu disse que vinha do Sri Lanka. V�rios garotos olharam para mim da cabe�a at� os p�s e, em uma s� voz, disseram algo bem alto. Todos, inclusive meu tradutor, riram. Ent�o eu insisti que ele traduzisse o que os garotos haviam dito. Ele disse: "Bhante, eles n�o acreditam em voc�. Eles disseram que voc� est� usando t�nis americanos. Deste modo, voc� tem que ter vindo dos Estados Unidos. Eles dizem que voc� est� mentindo." Ent�o, eu pedi a ele que contasse aos meninos que eu fui do Sri Lanka para os Estados Unidos e dos Estados Unidos para o Brasil. Ele o fez e, ent�o, os garotos come�aram a me fazer muitas outras perguntas.

Veneno de abelhas sem matar as abelhas
Depois do retiro fui levado a uma viagem por v�rios lugares pr�ximos de Belo Horizonte, no Brasil. Isto incluiu uma visita � Cooperativa Nacional de Apicultores (CONAP), para que seu presidente, Jos� Alexandre S. Abreu, me mostrasse sua nova t�cnica para extrair o veneno das abelhas sem mat�-las.

Centro Nalanda
O Centro Nalanda est� traduzindo livros buddhistas para o portugu�s. O pr�prio Ricardo j� escreveu um livro sobre medita��o. Muitos meditantes come�aram sua pr�tica usando a vers�o portuguesa de Mindfulness in Plain English (A Medita��o ao Alcance de Todos). Os membros do Centro Nalanda est�o estudando pali e Dhamma regularmente. E eles tamb�m observam Uposatha todos os dias de lua cheia.