Era uma vez um rei muito justo. Ele tinha uma bela rainha que deu à luz um lindo bebê. Isso fez com que o rei ficasse muito feliz. E ele decidiu, assim, dar ao filho um nome que pudesse ajudá-lo mais tarde em sua vida. Então, ele o chamou de Príncipe Fala Bondosa.
Aconteceu, então, que o príncipe foi um bebê normal. Esta não foi a sua primeira vida ou o seu primeiro nascimento. Milhões de anos antes, ele tinha sido um seguidor de um já esquecido ‘Buddha’ que ensinava – um totalmente ‘Iluminado’. Ele tinha desejado com todo o seu coração se tornar um Buddha, assim como seu amado mestre.
Ele renasceu em muitas vidas – por vezes como pobres animais, por vezes como deidades com uma vida muito longa e, por vezes, como seres humanos. Tentou sempre aprender com os seus erros e desenvolver as ‘Dez Perfeições’. Tudo isto para purificar a sua mente e remover as três causas profundas do que não é saudável – os venenos do desejo sedento, da raiva e da ilusão de um eu separado. Ao usar as Perfeições, ele seria capaz de, um dia, substituir os três venenos pelas três purezas – não apego, amorosidade e sabedoria.
Este ‘Grande Ser’ tinha sido um humilde seguidor do Buddha esquecido. Seu objetivo era obter a mesma iluminação de um Buddha – a experiência da Verdade completa. Então, as pessoas o chamam de ‘Bodhisatta’, que significa ‘Ser em Iluminação’. Ninguém sabe realmente sobre os milhões de vidas vividas por este grande herói. Mas muitas histórias foram contadas – incluindo esta sobre um príncipe chamado Fala Bondosa. Depois de muitos renascimentos, ele se tornou o Buddha que é lembrado e amado em todo o mundo atualmente.
Com o tempo, a rainha deu à luz outro filho, que foi nomeado príncipe Lua. Pouco depois que as crianças começaram a andar, a mãe delas, repentinamente, ficou muito doente e morreu.
Para ajudá-lo a cuidar de seus filhos brincalhões, o rei encontrou uma princesa para se tornar sua nova rainha. Em poucos anos, essa rainha deu à luz um lindo e radiante menininho. Ele foi chamado príncipe Sol. O rei ficou tão feliz que quis agradar a sua rainha e recompensá-la por educar todas as três crianças. Assim, ele prometeu conceder-lhe um desejo. A rainha pensou, e disse: “Obrigada, meu senhor, vou fazer o meu pedido em algum momento no futuro”.
Conforme o tempo se passava, os três príncipes se tornaram jovens brincalhões. A rainha viu que o príncipe Fala Bondosa era inteligente e compreensivo. Ela pensou: “Se esses dois príncipes mais velhos continuarem no palácio, meu filho, príncipe Sol, nunca vai ter a chance de ser rei. Portanto, eu preciso fazer alguma coisa para torná-lo o próximo rei”.
Um dia, quando o rei estava com bom-humor, a rainha respeitosamente aproximou-se e lembrou-o do desejo prometido. Ele estava bem feliz e disse: “Peça o que quiser!” A rainha disse: “Ó, meu marido e rei, permita que após o período de sua vida se esvair, meu filho, príncipe Sol, seja o próximo rei”.
O rei ficou chocado pelo pedido. Ele ficou nervoso e disse: “Meus primeiros dois filhos são como estrelas brilhantes! Como eu posso dar o reino ao meu terceiro filho? Todas as pessoas irão me culpar. Isso não pode ser feito!”. A rainha manteve-se quieta.
Por mais feliz que o rei viesse se sentindo, agora ele se tornara igualmente infeliz. Ele estava com medo e cheio de dúvidas. Ele suspeitava de que a rainha pudesse matar seu primogênito através de algum meio perverso. Ele decidiu que precisava ter certeza de que seus filhos estavam seguros.
Secretamente, o Rei chamou a si o príncipe Fala Bondosa e o príncipe Lua. Disse-lhes do perigoso desejo da rainha e que a única coisa segura a fazer seria deixar o palácio. Só deveriam retornar após a morte de seu pai e então tomar o lugar apropriado para governar o reino. Os dois príncipes obedientes aceitaram a ordem de seu pai e prepararam-se para partir.
Em poucos dias estavam prontos. Despediram-se tristemente do seu pai e amigos, e partiram. No seu caminho pelos jardins reais, encontraram o príncipe Sol. Ele sempre foi muito afetivo e amigável para com os seus dois meios irmãos. Estava triste por ter ouvido da sua partida por um período muito longo. Então decidiu que ele mesmo também abandonaria o reino. E os três príncipes amigáveis partiram juntos.
Durante vários meses eles viajaram, até que chegaram à floresta do poderoso Himalaia. Eles estavam muito cansados e sentaram-se debaixo de uma árvore. O irmão mais velho, o príncipe Fala Bondosa, disse ao mais novo, príncipe Sol: “Por favor, vá até o lago próximo e encha algumas folhas de lótus com água. Traga-as de volta aqui para que todos possamos beber”.
Eles não sabiam que o belo lago azul escuro estava possuído por um demônio da água. Ele foi autorizado pelo seu demônio-soberano a comer qualquer ser que ele pudesse convencer a ir para a água. Havia também uma condição. Ele não poderia comer aquele que soubesse a resposta para a pergunta: “Qual é o ensinamento dos deuses?”
Quando o príncipe Sol chegou à margem do lago, estando desidratado, sujo e cansado, ele foi direto para a água sem qualquer investigação. De repente, o demônio da água emergiu da água e o capturou. Ele lhe perguntou: “Qual é o ensinamento dos deuses?” O príncipe Sol disse: “Eu sei a resposta para isso! O sol e a lua são os ensinamentos dos deuses”. “Você não sabe o ensinamento dos deuses, então você pertence a mim!”, disse o demônio da água. Então ele puxou o príncipe para debaixo d’água e trancou-o numa profunda caverna.
Como o príncipe Sol estava demorando, o príncipe Fala Bondosa pediu ao segundo irmão, o príncipe Lua, para ir até o lago e trazer água em folhas de lótus. Quando ele lá chegou, também foi diretamente para a água sem averiguação. Mais uma vez o demônio da água apareceu, agarrou-o e perguntou: “Qual é o ensinamento dos deuses?” O Príncipe Lua disse: “Eu sei a resposta disso! São as quatro direções – norte, leste, sul e oeste – estes são os ensinamentos dos deuses”. “Você não sabe o ensinamento dos deuses, então você me pertence!”, respondeu o demônio da água. E então ele trancou o príncipe Lua na mesma caverna subaquática em que estava o príncipe Sol.
Quando ambos os irmãos não retornaram, o Príncipe Fala Bondosa começou a se preocupar pois eles poderiam estar em algum perigo. Então, ele próprio foi para o lindo lago azul-escuro. Como ele era uma pessoa sábia e cuidadosa não foi direto para a água. Ao invés disso investigou e viu que haviam dois conjuntos de pegadas indo para o lago – mas não vindo para fora de novo! Para se proteger empunhou sua espada, arco e flechas. Começou a andar ao redor do lago.
Visto que esse príncipe não foi direto para o lago o demônio da água apareceu para ele disfarçado de humilde aldeão. Disse-lhe: “Meu querido amigo você parece cansado e sujo de tanto andar. Por que você não entra na água e toma um banho, bebe e come algumas raízes de lótus?”
Recordando-se das pegadas numa direção, o príncipe Fala Bondosa disse: “Tu deves ser algum demônio disfarçado de ser humano! O que é que fizeste com os meus irmãos?” Surpreso de ter sido reconhecido tão rapidamente, o demônio das águas retornou à sua aparência feroz e diz ao sábio príncipe: “Pelos meus direitos eu capturei os teus irmãos!”
O príncipe respondeu: “Por qual razão?”; e disse o demônio: “Para que eu em breve os possa devorar! Tenho permissão do demônio-regente para comer todos os que atravessam este lago e que não sabem os ensinamentos dos deuses. Se alguém souber os ensinamentos dos deuses eu já não tenho permissão de os comer”.
O Príncipe perguntou: “Porque precisa saber disso? Qual é a vantagem para um demônio como você, saber os ensinamentos dos deuses?” O demônio da água respondeu: “Eu sei que deve ter alguma vantagem para mim”. “Então eu vou dizer-lhe o que os deuses ensinam”, disse o Príncipe Fala Bondosa, “mas eu tenho um problema. Olhe para mim. Estou coberto de pó e de sujidade da viagem. Não posso falar de ensinamentos sábios neste estado”.
Nesta altura, o demônio da água percebeu que este príncipe era especialmente sábio. Então o lavou e o refrescou. Deu-lhe água para beber das folhas de lótus e raízes de lótus tenras para comer. Preparou-lhe um assento confortável, decorado com bonitas flores selvagens. Depois de pousar a espada e o seu arco e flechas, o Ser em Iluminação sentou-se no assento adornado. O demônio ferino sentou-se aos seus pés, tal como um aluno para ouvir um professor respeitável.
O príncipe Fala Bondosa disse: “Este é o ensinamento dos deuses:
Você deve se envergonhar de fazer ações prejudiciais.
Você deve temer fazer ações prejudiciais.
Você deve sempre fazer ações benéficas –
que tragam felicidade aos outros e que ajudem a humanidade.
Assim, você irá brilhar com a luminosidade interna da calma e da paz”.
O demônio da água ficou contente com essa resposta e disse: “Digno príncipe, você satisfez totalmente minha dúvida. Você me fez tão feliz que devolverei um de seus irmãos. Qual deles você escolhe?”.
O príncipe Fala Bondosa disse: “Liberte meu irmão mais novo, príncipe Sol”. A isso o demônio respondeu: “Meu senhor príncipe, o sábio, você conhece o ensinamento dos deuses, mas você não o pratica!”. O príncipe perguntou: “Por que você diz isso?”. O demônio respondeu: “Porque você abandona os mais velhos para morrer e salva os jovens. Você não respeita os idosos!”.
O príncipe então disse: “Ó demônio, eu conheço e pratico os ensinamentos dos deuses. Nós, os três príncipes, viemos para esta floresta por causa do nosso irmão menor. A mãe dele requisitou ao nosso pai um reino para ele. Então foi para nossa própria proteção que o nosso pai nos mandou aqui. O jovem príncipe Sol se reuniu a nós como amigo. Mas se nós retornarmos à corte sem ele, e contarmos que ele foi devorado pelo demônio da água, quem quererá saber dos ensinamentos dos deuses, e quem acreditará em nós? Eles pensarão que nós o matamos porque ele era um perigo para nós. Isso trará vergonha a nós e ao reino. Temendo todas essas consequências danosas, eu digo novamente a você para libertar o jovem príncipe Sol.
O demônio da água ficou tão satisfeito com essa resposta que ele disse: “Muito bem, muito bem, meu senhor. Você sabe o verdadeiro ensinamento dos deuses, e você pratica esta verdadeira doutrina. Terei prazer em devolver ambos os irmãos!” Assim dizendo, ele mergulhou no lago e levou os dois príncipes de volta à costa. Eles estavam molhados, mas ilesos.
Mais tarde, o Bodhisatta deu mais conselhos úteis para o demônio. Ele disse: “Ó demônio da água, meu novo amigo, você deve ter feito muitas ações prejudiciais em suas vidas anteriores, de modo que nasceu como um demônio devorador de carne. E se continuar nesse caminho, você vai ser preso em um estado terrível mesmo em vidas posteriores. Pois atos prejudiciais levam à vergonha, ao medo e a um renascimento desagradável. Mas ações saudáveis levam ao autorespeito, paz e a renascimentos agradáveis. Portanto, a partir de agora seria muito melhor para você fazer ações puras ao invés de atos impuros”. Isso converteu o demônio de seus caminhos, e os príncipes viveram juntos e felizes sob sua proteção.
Um dia, chegou a notícia de que o rei tinha morrido. Assim, os três príncipes, bem como o seu amigo, o demônio da água, voltaram para a capital. O príncipe Fala Bondosa foi coroado como rei. O príncipe Lua tornou-se o ministro-chefe, e o príncipe Sol tornou-se comandante do exército. Ao demônio da água foi concedido um lugar seguro para viver, onde foi bem alimentado, cuidado e entretido durante o resto da sua vida. Deste modo, todos adquiriram pensamentos meritórios e saudáveis, levando ao renascimento num reino celestial.
A moral da história é: ações prejudiciais trazem vergonha e medo. Ações saudáveis trazem autorespeito e paz.
Traduzido pelo Grupo de Tradução do Centro Nalanda
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Muito bom o texto …obrigado….
parabolas serão um eterno modo de aprendizagem, namaste
Sem dúvida, Paulo, contos são excelentes.
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