Era uma vez o rei Brahmadatta, que reinava em Benares, no Norte da Índia. O ser iluminado nasceu como seu filho, o príncipe. Sendo muito inteligente, ele completou toda a sua educação aos 16 anos. Assim, nessa jovem idade, seu pai o tornou o segundo em comando.

Naqueles dias, a maior parte das pessoas em Benares adorava deuses. Elas eram muito supersticiosas. Acreditavam que os deuses faziam as coisas acontecer para elas antes de ser o resultado de sua própria ação. Então elas rezavam a esses deuses e pediam favores especiais. Elas pediam por um casamento feliz ou pelo nascimento de uma criança ou por riqueza e fama.

Elas prometiam aos deuses que se suas preces fossem atendidas, fariam oferendas. Além de flores e perfumes, as pessoas imaginavam que os deuses desejavam sacrifícios de animais. Assim, quando elas acreditavam ter recebido ajuda divina, elas matavam muitos animais – bodes, carneiros, galinhas, porcos e outros.

O príncipe via tudo isso e pensava: “Esses animais inocentes também são súditos do rei e, assim, eu devo protegê-los. As pessoas cometem esses atos perniciosos devido à ignorância e superstição. Isso não pode ser a verdadeira religião. Pois a verdadeira religião oferece a vida tal como ela é, e não matando-a. A verdadeira religião oferece a paz espiritual e não a crueldade”.

“Eu temo que essas pessoas acreditem muito fortemente em suas superstições para abandoná-las. Isso é muito triste. Mas talvez suas crenças possam ao menos servir para um bom uso. Algum dia eu me tornarei rei. Então eu farei um plano para que as superstições ajudem essas pessoas. Se elas têm de fazer sacrifícios, que matem sua própria cobiça e ódio, em vez desses animais inocentes. Então todo o reino se beneficiará”.

Assim, o príncipe elaborou um inteligente plano de longo prazo. Frequentemente ele cavalgava em sua carruagem até uma árvore banyan muito conhecida, fora da cidade. Era uma árvore enorme, onde as pessoas rezavam e faziam oferendas para uma deidade que elas pensavam morar ali. O príncipe desceu da carruagem e fez as mesmas oferendas dos outros – incenso, flores, perfume e água – mas não fez sacrifícios de animais.

Desse modo, ele fez uma grande aparição e as notícias sobre suas oferendas correram a região. Rapidamente, todo o povo acreditava que ele era um verdadeiro crente no grande deus da árvore banyan.

No devido tempo, faleceu o rei Brahmadatta e seu filho tornou-se rei. Ele reinou como um rei correto e o povo foi beneficiado. Assim, seus súditos vieram a confiar nele e a respeitá-lo como um rei justo e honrado.

Então, um dia, ele decidiu que era o tempo de levar a cabo o restante de seu plano. Ele chamou os líderes de Benares para a sala da assembleia geral. E perguntou a eles: “Valorosos ministros e leais súditos, vocês sabem como eu tive certeza de que me tornaria rei?”. Ninguém soube responder.

Ele disse: “Vocês se lembram que eu frequentemente fazia oferendas maravilhosas ao grande deus da árvore banyan?”. ‘Sim, nosso senhor”, eles disseram.

O rei continuou: “Cada uma daquelas vezes eu fiz uma promessa ao deus poderoso da árvore. Eu orava: ‘Ó poderoso, se o senhor me tornar rei de Benares, eu lhe oferecerei um sacrifício especial, muito maior que flores e perfumes’”.

“Uma vez que agora eu sou o rei, vocês todos podem ver que o deus respondeu às minhas preces. Assim, agora eu devo manter a minha promessa e oferecer  o sacrifício especial”.

Todas as pessoas na assembleia concordaram. Elas disseram: “Nós devemos preparar esse sacrifício imediatamente. Que animais o senhor deseja matar?”.

O rei disse: “Meus caros súditos, eu estou feliz que queiram cooperar. Eu prometi ao grande deus da árvore banyan que eu sacrificaria qualquer um que falhasse em praticar os cinco passos do treinamento. Isto é, qualquer um que destruir a vida, pegar o que não é dado, agir mal em questões sexuais, falar falsamente ou perder a consciência pelo álcool. Eu prometi que se alguém fizer alguma dessas coisas, eu oferecerei suas vísceras, e sua carne e sangue no altar do grande deus!”.

Sendo tão supersticiosos, todos na sala concordaram que isso deveria ser feito ou o deus certamente puniria o rei e o reino.

O rei pensou: “Ah, tal é o poder da superstição que essas pessoas perderam todo o bom senso! Elas não podem ver que como o primeiro passo do treinamento é parar de matar, se eu sacrificar um de meus súditos, eu seria então o próximo sobre o altar! E tal é o poder da superstição que eu poderia fazer essa promessa e nunca ter de cumpri-la”.

Assim, com confiança total no poder da superstição, o rei disse aos cidadãos líderes: “Vão por todo o reino e anunciem a promessa que eu fiz ao deus. Então proclamem que os primeiros mil que quebrarem quaisquer dos passos do treinamento terão a honra de serem s para manter a promessa do rei”.

E pasmem, o povo de Benares se tornou famoso por praticar cuidadosamente os cinco passos do treinamento. E o bom rei, que conhecia muito bem seus súditos, não sacrificou ninguém”.

 A moral é: sacrifique seus próprios atos errados, não algum animal inocente.


Traduzido por Marcus Sacrini
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