O pombo e o corvo [O perigo da ganância]

Houve um tempo em que o povo de Benares gostava de montar casas de pássaros. Este era um ato de generosidade e bondade, feito para o conforto dos pássaros. Também deixava as pessoas felizes por ouvirem os simpáticos passarinhos cantando.

O homem mais rico da cidade tinha um cozinheiro. Ele mantinha uma casa de pássaros perto da cozinha. Nela vivia um pombo gentil e cuidadoso. Ele era tão gentil que cuidava de não comer carne. E tinha o cuidado de se manter distante do cozinheiro. Pois ele sabia que o cozinheiro tinha o hábito de assar e ferver animais mortos, inclusive pássaros!

Então, o pombo saía sempre da casa dos pássaros no início da manhã. Depois de passar o dia encontrando e comendo a sua comida, ele voltava todas as noites para dormir na casa dos pássaros. Ele estava bastante satisfeito com a sua vida calma e inofensiva.

Ali perto havia um corvo que era um tipo bem diferente de personagem. Por um lado, ele comeria qualquer coisa! E ele não era conhecido por ser gentil e cuidadoso. Em vez disso, muitas vezes ficava excitado demais e agia sem considerar o perigo. E longe de estar satisfeito, muitas vezes metia-se em problemas.

Um dia, o corvo cheirou a comida deliciosa que estava sendo preparada na cozinha do homem rico. Ele estava tão atraído pelo odor que não conseguia tirá-lo da cabeça. Ele decidiu que deveria ter a carne do homem rico a qualquer custo. Então, começou a espiar a cozinha, tentando descobrir uma maneira de obter alguma carne e peixe.

Como de costume, naquela noite o pombo regressou com sua pequena barriga satisfeita, e entrou contente na sua pequena casa para passar a noite. Vendo isso, o corvo faminto pensou: “Ah, maravilhoso! Eu posso aproveitar esse pombo tolo para pegar um delicioso banquete da cozinha”.

Na manhã seguinte, o corvo seguiu o pombo quando saiu para o dia. O pombo perguntou-lhe: “Oh, meu amigo, por que você está me seguindo?” O corvo respondeu: “Senhor, eu gosto muito de você e admiro o seu estilo de vida calmo e regular. A partir de agora, gostaria de o ajudar e aprender com você”.

O pombo disse: “”Amigo corvo, o seu estilo de vida é muito mais excitante do que o meu. Você ficaria entediado seguindo-me por aí. E você nem sequer come a mesma comida que eu. Então, como pode você me ajudar?”

O corvo disse: “Quando você sair cada dia para encontrar a sua comida, vamos separar-nos e eu vou encontrar a minha comida. À noite, voltamos juntos. Estando juntos, seremos capazes de nos ajudar e proteger um ao outro”. O pombo disse. “Isso soa-me bem. Agora siga o seu próprio caminho e trabalhe duro para encontrar comida”.

O pombo passou o dia como de costume comendo sementes de capim. Demorou algum tempo a procurar pacientemente algumas sementes de erva, mas ficou satisfeito e contente.

O corvo passou o dia revirando os estrumes de vaca, para poder devorar os vermes e insetos que encontrava ali. Este era um trabalho bastante fácil, mas ele continuava achando que seria ainda mais fácil roubar da cozinha do homem rico. E sem dúvida a comida seria melhor também!

Quando ele ficou cheio, foi até ao pombo e disse: “Senhor pombo, você gasta muito tempo procurando e comendo. Não é bom desperdiçar o dia inteiro desse jeito. Vamos para casa”. Mas o pombo continuou comendo sementes de capim, uma a uma. Ele estava muito feliz assim.

No final do dia, o corvo impaciente seguiu o pombo de volta para a sua casa de pássaros. Eles dormiram juntos em paz. Eles passaram vários dias e noites dessa maneira.

Então,, um dia houve uma entrega de muitos tipos de carne fresca e peixe. O cozinheiro pendurou-as em ganchos na cozinha para armazenamento.

O corvo viu isso e ficou impressionado com a visão de tanta comida. O seu desejo tornou-se ganância, e ele começou a planejar uma maneira de conseguir aquilo tudo para si mesmo. Ele decidiu fingir estar doente e passou a noite inteira gemendo e gemendo.

Na manhã seguinte, o pombo estava pronto para ir procurar comida, como de costume. O corvo disse: “Vá sem mim, senhor pombo, tenho estado doente do estômago a noite toda”.

O pombo respondeu: “Meu querido corvo, isso soa tão estranho. Nunca ouvi falar de um corvo ficando com dor de estômago. Mas tenho ouvido que às vezes eles desmaiam de fome. Eu suspeito que você quer devorar o máximo que puder da carne e do peixe na cozinha. Mas é para pessoas, não para corvos. As pessoas não comem comida de pombo. Os pombos não comem comida de corvo. E não seria sábio para você comer comida de pessoas. Pode até ser perigoso! Então venha comigo como de costume, e fique satisfeito com a comida de corvo, senhor corvo!”

O corvo disse: “Estou muito doente, amigo pombo, estou muito doente. Vá em frente sem mim”.

“Muito bem”, disse o pombo, “mas as suas ações vão falar mais alto do que as suas palavras. Eu aviso-o, não arrisque a segurança por causa da ganância. Seja paciente até eu voltar”. Então o pombo partiu para o dia.

Mas o corvo não prestou atenção. Pensou apenas em pegar um grande pedaço de peixe e ficou feliz por se livrar do pombo. “Ele que coma sementes de capim!”, pensou.

Enquanto isso, o cozinheiro preparou a carne e o peixe numa grande panela. Enquanto cozinhava, ele manteve a tampa ligeiramente aberta, para permitir que o vapor escapasse. O corvo cheirava a deliciosa fragrância do vapor a elevar-se. Observando da casa dos pássaros, ele viu o cozinheiro sair para descansar do calor.

O corvo viu que esta era a oportunidade que estava esperando. Então, ele voou para a cozinha e sentou-se na beira da panela. Primeiro ele procurou o maior pedaço de peixe que podia encontrar. Então ele enfiou a cabeça para dentro e procurou alcançá-lo. Mas ao fazê-lo, ele derrubou a tampa! O som estridente trouxe o cozinheiro para a cozinha imediatamente.

Ele viu o corvo parado na beira da panela com um peixe maior do que ele, pendurado no seu bico! Imediatamente, ele fechou a porta e a janela da cozinha. Ele pensou: “Esta comida é para o homem rico. Eu trabalho para ele, não para algum corvo sarnento! Vou ensinar-lhe uma lição que ele nunca esquecerá!”

O pobre corvo não poderia ter escolhido um inimigo pior. Acontece que este cozinheiro era bastante ignorante, por isso não se importava de ser cruel quando tinha a possibilidade para isso. Ele não teve piedade alguma para com o corvo esperto.

Ele agarrou-o e arrancou todas as suas penas. O pobre corvo parecia ridículo sem as suas brilhantes penas negras. Então o cozinheiro vingativo fez uma pasta picante de gengibre, sal e pimenta. Ele esfregou tudo sobre a pele rosa e dolorida do corvo. Então, ele o colocou no chão da casa dos pássaros e riu.

O corvo suou e sofreu com a terrível dor ardente. Ele chorou em agonia durante todo o dia.

In the evening, the pigeon returned from a quiet day searching for and eating grass seeds. He was shocked to see the terrible state of his friend the crow. He said, “Obviously, you didn’t listen to me at all. Your greed has done you in. I’m so sad there’s nothing I can do to save you. And I’m afraid to stay in this bird house so close to that cruel cook. I must leave at once!”

À noite, o pombo regressou de um dia tranquilo procurando e comendo sementes de capim. Ele ficou chocado ao ver o terrível estado do seu amigo, o corvo. Ele disse: “Obviamente, você não me ouviu nada. A sua ganância fez-lhe isto. Estou tão triste que não haja nada que eu possa fazer para o salvar. E eu tenho medo de ficar nesta casa de pássaros tão perto daquele cozinheiro cruel. Devo partir imediatamente!”

Então, o pombo cuidadoso voou em busca de uma casa de pássaros mais segura. E o corvo depenado e colado morreu uma morte dolorosa.

A moral é: a cobiça faz-nos surdos a um bom conselho.


Traduzido por Isabel Serrano
com a permissão dos detentores do copyright
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