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Na compreensão das coisas, nem a crença nem o medo desempenham qualquer papel no pensamento buddhista. A verdade do Dhamma pode ser atingida somente pelo insight, nunca pela fé cega ou pelo medo de algum ser conhecido ou desconhecido. Não apenas o Buddha desencorajava a crença cega e medo de um Deus onipotente como maneiras inadequadas de compreender a verdade, mas ele também denunciava a ligação a ritos e rituais despropositados, já que o mero abandono de coisas exteriores, tais como jejum, banhar-se em rios, sacrifícios de animais e ato similares não tende a purificar um homem ou torná-lo santo e nobre. Encontramos este diálogo entre o Buddha e o brāhmaṇa Sundarika Bhāradvāja: uma vez o Buddha, dirigindo-se aos monges, explicou em detalhe como um aspirante à liberdade deve se treinar, e ainda acrescentou que uma pessoa cuja mente é livre de máculas, cuja vida da pureza é perfeita, e cujo trabalho é realizado, pode se chamar alguém que se banha interiormente. Então Bhāradvāja, sentado ao lado do Buddha, ouviu essas palavras e lhe perguntou: “O venerável Gotama banha-se no rio Bāhuka?” “Brāhmaṇa, de que serve o rio Bāhuka? O que o rio Bāhuka pode fazer?” “De fato, venerável Gotama, o rio Bāhuka é tido por muitos como sendo sagrado. Muitas pessoas tiveram seus pecados (pāpa) limpos no rio Bāhuka”. Então o Buddha o fez compreender que banhar-se em rios não limparia um homem da sua sujeira do mal, e o instruiu assim: “Banhe-se aqui (nesta Doutrina e Disciplina, Dhamma-vinaya), brāhmaṇa, dê segurança a todos os seres. Se você não falar falsidades, ou matar ou roubar, se for confiante e não mesquinho, de que te serve ir ao Gayā (o nome de um rio na Índia na época do Buddha)? Seu poço em casa é, também, um Gayā” [1].


[1] Vatthūpama Sutta MN 7. Ven. Nyanaponika Thera, The Símile of the Cloth (Wheel No. 61/62)* Acompanhe esta série