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sulak sivaraksa~ Sulak Sivaraksa ~

[1] Outras organizações, assim como a Conferência Mundial sobre Religião e Paz, têm tentado promover o desenvolvimento de uma abordagem buddhista sobre como resolver os problemas mundiais. Por exemplo, a Universidade da ONU está atualmente apoiando um subprojeto sobre as Percepções Buddhistas das Sociedades Desejáveis no Futuro.

Em um encontro em Bangkok em 1986, acadêmicos e buddhistas praticantes se reuniram para examinar como pensadores religiosos e ativistas percebem a difícil situação humana corrente. A estrutura do encontro foi dividida em três partes principais: 1) diagnóstico dos problemas correntes; 2) um exame das respostas buddhistas específicas para estes problemas; 3) um exercício de previsão de como seria possível progredir da situação atual em direção a uma sociedade mais desejável no futuro.

Nessa apática reunião, a confusão e o egoísmo foram identificados como as principais causas da falta de esperança que assola muitas pessoas no mundo, embora ambas não tenham sido ligadas explicitamente à religião. Em um dado momento da reunião, o slogan da Revolução Francesa, “Liberdade, Igualdade e Fraternidade”, foi discutido. Por que o Buddha não pregou esses valores, mas sim as Quatro Nobres Verdades – a existência do sofrimento, as causas do sofrimento, a cessação do sofrimento e o Nobre Caminho Óctuplo, que aponta para a cessação do sofrimento?

Os três valores da Revolução Francesa são idealizados. O Buddha ensinou as pessoas a chegar a um acordo com a realidade da existência humana – superando os inevitáveis problemas da dor, perda, sofrimento, doença e morte. Essa abordagem foi percebida, para muitos no encontro em Bangkok, como tendo muito a oferecer para aqueles engajados na resolução dos problemas contemporâneos globais.

Após o encontro de Bangkok, a Universidade da ONU montou um subcomitê que identificou 10 assuntos para serem trabalhados pelos buddhistas com o objetivo de caminhar em direção à sociedade desejável no futuro. Eles eram: o indivíduo e a sociedade no Buddhismo; universalismo e particularismo; práticas sociais existentes que podem apontar para uma sociedade mais adequada; a Sangha, o Estado e as pessoas; Buddhismo e a evolução da sociedade; a escatologia buddhista; milenialismo e a Terra do Buddha (Buddha land, em inglês); educação buddhista; abordagens buddhistas da guerra e violência; ciência, tecnologia e budismo; e, por fim, as mulheres e a família no Buddhismo. Espera-se que a Universidade da ONU publique os artigos relevantes desses tópicos.

Recentemente, a Universidade da ONU organizou outra reunião em Bangkok para a discussão do mesmo tema das percepções sobre as sociedades que desejamos, mas, desta vez, em relação a diferentes sistemas religiosos e éticos. As conclusões foram as seguintes:

Revisamos brevemente as posições das diferentes correntes religiosas em termos de suas crenças e valores em relação:

  • Ao bem-estar e desenvolvimento;
  • Justiça, igualdade e direitos humanos;
  • Paz, reconciliação e não violência; e
  • Identidade, autenticidade e universalidade.

 

É importante dar-se conta de que muitas das divergências que existem entre as religiões são geralmente visões complementares, que não devem ser vistas como conflitantes, mas como diferenças que apontam para posições mais profundas e universais através do processo de diálogo. É crucial, então, que esse processo tenha lugar garantido nas religiões, nas suas instituições, nas sociedades e no Estado.

Essas divergências não representam necessariamente diferentes crenças religiosas, mas as posições de pensadores religiosos e ativistas que escolhem ou fazer parte da sociedade, aceitando a sua dinâmica fundamental para que possa transformá-la de dentro para fora, ou manter-se fora dela para desenvolver uma visão crítica transcendental de seus valores e instituições. Eu acho que os esforços da Universidade da ONU são relevantes para o tema do nosso seminário internacional.

 


[1] Organização das Nações Unidas

 


Traduzido por Oscar Rodrigues Simões
para o Centro de Estudos Buddhistas Nalanda
© da tradução, 2012 Edições Nalanda


Nota: “Solucionando Problemas Globais
marca o início do INEB (Rede Internacional de Buddhistas Engajados) e discorre sobre as questões que o Buddhismo deve enfrentar para se tornar relevante em termos sociais globais. Sulak Sivaraksa é um dos principais líderes e articuladores do Buddhismo Engajado. O INEB foi estabelecido em 1989 com líderes buddhistas como o 14. Dalai Lama, o monge vietnamita e ativista pela paz Thich Nhat Hanh e o monge Theravada Maha Ghosananda, como seus patronos. Sulak se considera um aluno de Tan Ajahn Buddhadasa e é um amigo do Centro Nalanda.


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