Por Ben Xing (Simon Manase Masauko)[1]
Toda criança, independentemente de raça ou nacionalidade, quando lhe são dadas oportunidades iguais e um ambiente propício, aprende rápido e gosta de aprender – especialmente quando as lições são práticas e incluem estímulos audiovisuais. Ao enfatizar quão aplicável é a lição, a criança consegue ver a relevância do ensinamento para a vida real e acolhe aquilo que aprendeu.
Os professores mais fundamentais para toda e qualquer criança são seus pais ou, para aqueles que os perderam, os seus cuidadores ou guardiães. De outro modo, os adultos que têm a tarefa de a criar são seus primeiros professores diretos. Neste aspecto, os pais são o núcleo do seu crescimento psicológico, comportamental, espiritual, mental e físico. Como tais, eles são os guias perfeitos para introduzir a criança na prática da meditação. Eles estão em uma posição boa para praticarem juntos com seus filhos, provendo-os de uma plataforma para que aprendam rápido a arte buddhista de viver.
O ambiente no qual as crianças são criadas também tem um papel importante no crescimento espiritual e físico delas. Independentemente se estamos falando de crianças ou adultos, nós temos padrões similares de gostos e desgostos, estados mentais saudáveis e pouco saudáveis, que incluem ansiedade, felicidade, tristeza, raiva e inquietude, sendo muito importante mostrar às crianças que todos vivenciam essas emoções e que a meditação pode nos ajudar a controlá-las.
Quando as crianças começam a prática da meditação, as sessões não devem ser longas para que assim possam apreciá-las. Além disso, os ensinamentos discutidos devem estar no nível de compreensão da criança para que elas possam efetivamente compreender o tópico que está sendo apresentado.
Encorajá-las a relacionarem suas próprias experiências aos ensinamentos irá mantê-las interessadas nos exercícios de mindfullness ao mesmo tempo que enfatizará que elas possam se abrir e compartilhar suas experiências e sentimentos durante o período da meditação. Da mesma maneira, os professores devem também dar exemplos de suas próprias experiências quando estão ensinando meditação às crianças, permitindo que saibam quais são os resultados de uma prática positiva e bem-sucedida.
No começo, recompensas podem ser dadas para motivar as crianças e para ter certeza de que o hábito é desenvolvido, quando a meditação se torna parte do dia-a-dia.
Todos nós precisamos de assistência e é bastante importante guiar as crianças em cada aspecto das suas práticas meditativas. Aquele que está se oferecendo como guia deve explicar todos os passos requeridos para que se atinja os objetivos da meditação para as crianças. É importante ter certeza que eles entenderam a posição de lótus e todas as outras posturas usadas durante a meditação. As crianças devem ser ensinadas que o aspecto mais fundamental, uma vez aprendidas as posturas, é a respiração, um exercício praticado por cada e todo organismo vivo.
Se as crianças deixam a sessão de meditação se sentindo inspiradas e capazes de ver a relevância da prática nas suas vidas cotidianas, então a sessão foi bem ensinada. Alguns professores fazem um grande esforço para inspirar seus pupilos inventando maneiras inusitadas de ensino, usando exemplos da vida real para mostrar que a prática da meditação é parte do dia-a-dia. As crianças muitas vezes não entendem a variedade das práticas de meditação disponíveis and têm visões estreitas sobre o que é ser um praticante de meditação. Em muitos casos, as crianças somente veem pessoas usando a meditação como instrumento para atingir objetivos e conquistas religiosas. Assim, é importante mostrar a elas que a meditação é também importante para elas.
Pais e professores deveriam explicar que a pesquisa científica revelou a existência de muitos benefícios à saúde quando a meditação é praticada da forma correta. Alguns destes benefícios são (mas não limitados a) a redução da pressão arterial, redução dos níveis de colesterol e redução nos níveis de risco de doenças cardíacas e de derrame. Redução do stress, da depressão, da insônia, da ansiedade, da preocupação e o aumento da produtividade do aprendizado são benefícios comuns.
Começar uma prática de meditação desde pequeno prepara a criança mental e fisicamente para o crescimento. Ela ensina as crianças a serem seres melhores e permite-lhes que desenvolvam boas qualidades pessoais, cujas raízes estão nas práticas de meditação, possibilitando que forjem um bom caminho pela frente. A meditação ensina qualidades como compaixão, amorosidade, perseverança, tolerância, paciência e clareza, além da paz interior e da harmonia com a natureza e com todos a sua volta.
A maioria das crianças e adolescentes aqui na África adoram o sobrenatural, assim como muitos adultos. Isso se tornou uma parte tão importante no dia-a-dia das pessoas que a grande maioria se vê acreditando no que assistem nos filmes, por exemplo. Crianças mais novas gostam especialmente dos personagens sobrenaturais, sobretudo os heróis. Alguma coisa muda nas suas imaginações quando crescem e os professores começam a introduzir conceitos mais complexos e empregam mais teorias que práticas nos seus ensinamentos. Isso também acontece quando os professores se distanciam dos experimentos divertidos (nas aulas de ciências, por exemplo) para ensinar teoria (algo que, num primeiro momento, parece menos relevante para o mundo real).
Alguns podem argumentar que as crianças não estão interessadas em meditação, mas eu não acho que seja verdade. Eles podem não gostar das lições de meditação nos templos, mas isso é algo bastante diferente.
Em workshops, a meditação deve ser uma performance interativa. Crianças devem ser estar livres para criar seus próprios processos interativos ao experimentarem a meditação sobre a qual acabaram de ouvir. A linguagem usada neste processo interativo deve levar em consideração aquela com a qual as crianças cresceram. Elas precisam não só entender a linguagem, mas também estarem aptas para compartilhar aquilo que aprenderam. Assim, em algumas ocasiões, pode ser uma boa ideia incluir um pouco de humor nos ensinamentos. Quando as crianças respondem ao humor, é um bom sinal de que estão engajadas e entenderam o que está sendo discutido. É também impressionante quão entusiasmadamente as crianças acolhem novas tarefas dadas a elas quando aprendem coisas novas.
As crianças africanas gostam de músicas, de dançar e brincar, sendo de grande importância incluir um pouco de canto e dança nas sessões para deixar a prática da meditação mais viva e agradável. Podem ser organizados ainda alguns tours para que conheçam e interajam com colegas que possuam uma prática similar, ou até mesmo a visitação de reservas, lagos e montanhas, que são lugares ideias para inspirar a prática da meditação.
Ben Xing (nome do Dharma de Simon Manase Masauko) cresceu no Malawi e passou por um treinamento de três anos como monge no African Buddhist College na África do Sul. Foi voluntário no Amitofo Care Center no Malawi.
[1] https://www.buddhistdoor.net/features/contemplative-practices-helping-children-enjoy-meditation
Traduzido por Oscar Simões para o Centro de Estudos Buddhistas Nalanda
em acordo com os editores
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