~ Ven. S. Dhammika ~

Uma pessoa descrita como transgênera ou transsexual normalmente se identifica, deseja viver e ser aceita como um membro do sexo oposto àquele indicado por seu corpo. Por isso, alguns indivíduos têm um forte sentimento de que são do sexo feminino apesar de apresentarem genitália do sexo masculino, ou que são do sexo masculino apesar de terem genitália do sexo feminino. Essas pessoas frequentemente dizem que sentem estar ‘no corpo errado’, A literatura antiga indiana contém vários mitos sobre pessoas que espontaneamente mudaram de sexo, geralmente como resultado do desejo ou mesmo apenas por admiração por alguém do mesmo sexo do que eles.

Várias dessas histórias também são encontradas em fontes buddhistas. O comentário ao Dhammapada (século 5 d.C.) inclui uma história sobre um homem chamado Soreyya, que se transformou em uma mulher após tornar-se fascinado pela bela tez de um certo monge. Mais tarde, ele/ela se casou e teve dois filhos [1]. O Tipitaka Pāli menciona vários tipos diferentes de estados e indivíduos transgêneros – o homem como mulher (vepurisikā), indistinção sexual (sambhinna), um com características de ambos os sexos (ubhatovyañjanaka), etc. [2]. A existência de transgenerismo é tida como certa na literatura buddhista, sem julgamentos morais feitas sobre ele.

Várias teorias têm sido postuladas para explicar o transgenerismo – que é a revogação psicológica ou hormonal ou que tem causas genéticas ou ambientais. A doutrina buddhista de renascimento poderia ajudar nessa explicação. Uma pessoa pode renascer como, digamos, uma mulher, por inúmeras vidas sucessivas, durante as quais as atitudes, desejos, características e disposições femininas tornam-se fortemente impressas na mente ao longo do tempo. Isso determinaria que ela renasceria continuamente em um corpo feminino ou que sua consciência iria moldar o novo embrião em uma forma feminina – sejam quais forem os fatores responsáveis pela característica física do gênero.

Então, devido a qualquer karma, genético ou por outras razões, a pessoa pode renascer em um corpo masculino, mantendo todos os traços psicológicos femininos há muito estabelecidos. Se isto ou algo parecido forma a causa do transgênero, isso significaria que essa condição é natural, ao invés de uma perversão moral, como sustenta a maioria das religiões teístas. O Buddha disse que traços ou disposições (vāsasā) desenvolvidos através de uma sucessão de vidas (abbokiṇṇanī) podem bem se expressar na vida presente e que eles não são necessariamente uma falha moral interna [3].

Notas

  1. Dhammapada Atthakatha I, 324
  2. Vinaya III, 129
  3. Dosatara, Udāna 28

Traduzido pelo Grupo de Tradução do Centro Nalanda
em acordo com o autor
Para Distribuição Gratuita
© 2015-2016 Edições Nalanda

Nota: Este artigo é parte da série Buddhismo e as questões LGBT que está sendo traduzida e cujas partes serão publicadas aqui no site.


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2 COMMENTS

  1. Desculpe a sinceridade, mas esses artigos já estão sendo inconvenientes. Não sou preconceituosa, muito pelo contrário, sou lésbica inclusive. No entanto, penso que o budismo não deveria focar tanto no tema “sexualidade”, seja ela hetero, homo ou transexual. Há tanta coisa mais importante…

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